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C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 8. Botânica
A UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS NO TRATAMENTO DE VERMINOSES: UM ESTUDO DE CASO COM A COMUNIDADE ESCOLAR DO BAIRRO VILA NOVA, ALTA FLORESTA/MT.
Maria Batista de Oliveira Ferreira 1   (autor)   ssantos@florestanet.com.br
Maria Helena Freires de Lima Livi 1   (autor)   ssantos@florestanet.com.br
Solange dos Santos 1   (orientador)   ssantos@florestanet.com.br
1. Instituto de Educação - NEAD/UFMT, Pólo de Colíder/MT.
INTRODUÇÃO:
Desde os primórdios das civilizações aos dias atuais, o ser humano utiliza e busca conhecer melhor as propriedades das plantas para suprimento de suas necessidades, acumulando um acervo de informações sobre o ambiente que o cerca. A Etnobotânica é a área do conhecimento que procura realizar um trabalho interdisciplinar de investigação acerca do uso de plantas para os mais diversos fins a partir de um conhecimento empírico já existente. Dentre os diversos sintomas tratados à base de plantas, destaca-se aqueles provenientes de infestações e infecções parasitárias que afetam populações de áreas periféricas aos centros urbanos, onde na maioria das vezes o serviço de saneamento básico é precário ou inexistente. O presente estudo circunscreve-se nesse contexto tendo por finalidade levantar as plantas medicinais utilizadas no tratamento de verminoses, formas de uso, procedência dos recursos, origem desse conhecimento bem como auxiliar na elaboração de uma base de dados sobre plantas medicinais que poderão ser usadas pela escola do bairro em programas de Educação Ambiental.
METODOLOGIA:
Trata-se de uma pesquisa descritiva, qualitativa, especificamente um estudo de caso realizado junto a trinta moradores do bairro Vila Nova no período de setembro de 2002 a fevereiro de 2003. As seguintes etapas foram percorridas: levantamento bibliográfico sobre o tema e fundamentação teórica; pesquisa exploratória junto aos alunos da 5° série da Escola Dr. Ludovico da Riva Neto, onde cada aluno juntamente com pais e/ou responsáveis preencheu um questionário, com a finalidade de saber se a família utilizava ou não plantas medicinais para tratamento de verminoses; com base nas respostas fornecidas nestes questionários, foram selecionados os informantes que citaram maior número de plantas utilizadas para a finalidade supra citada; realizou-se visitas nos domicílios dos alunos para identificação das plantas e aplicação de entrevistas com um representante da cada família, responsável pelo preparo dos remédios; as entrevistas foram realizadas nas residências dos informantes e tiveram duração aproximada de 40 minutos e foram conduzidas por um roteiro estruturado com anotações adicionais em caderno de campo.
RESULTADOS:
As mulheres são as principais responsáveis pelas plantas usadas no tratamento de verminoses, a idade varia entre 20 e 80 anos e no que concerne a escolarização, 70% possuem o 1° grau incompleto, as demais nunca freqüentaram a escola. São oriundas de vários Estados do Brasil, o que demonstra a diversidade étnico-cultural da população Alta-florestense, reflexo do processo de colonização. Foram citadas um total de 28 plantas, sendo a maioria espécies exóticas com pouca representatividade das nativas da região. Destacaram-se o (Chenopodium ambrosioides), popularmente conhecido como mentruz ou erva-de-santa-Maria mencionada por mais de 90% dos entrevistados, o hortelã (Mentha piperita) presente em 80% das citações e a abóbora (Cucurbita sp.) mencionada por 30% dos informantes para tratamento de diversos tipos de vermes, especialmente da Ascaris lumbricoides (lombriga). A maiorias das plantas são encontradas nos quintais e a forma de preparo e utilização apresenta variações de um usuário para outro, sendo mais comum o chá das folhas e cascas frescas ou secas em infusão ou decocto. Algumas informantes acreditam alcançar o efeito desejado observando criteriosamente o horário, dia, e fase lunar para preparo e administração dos vermífugos. A erosão desses conhecimentos tradicionais ficou evidente neste estudo uma vez que estão concentrados principalmente entre pessoas idosas e os mais jovens apresentam pouco ou nenhum interesse pela aprendizagem dos mesmos.
CONCLUSÕES:
A população estudada utiliza plantas no tratamento de verminoses, sendo esse vegetais, em sua maioria, exóticos, o que pode demonstrar pouco conhecimento da população local acerca da flora típica da região Amazônica. O chá é a forma de administração mais comum, e a erva-de-santa-Maria a planta mais utilizada para essa finalidade. Esses biorecursos são oriundos principalmente dos quintais e o conhecimento sobre o uso dessas plantas é tradicional, construído na dinâmica familiar e social. A permanência desses saberes na sociedade atual encontra-se ameaçada em decorrência do maior acesso da população aos serviços convencionais de saúde e pela falta de interesse dos mais jovens na manutenção desses costumes. A temática plantas medicinais pode ser abordada pelos currículos escolares, podendo oferecer subsídios para o trabalho do professor garantindo a interdisciplinaridade necessária na construção do conhecimento.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Plantas Medicinais; Verminoses; Alta Floresta.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004