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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
A EXPLORAÇÃO DA Simarouba amara (Marupá) E A CONCEPÇÃO EXTRATIVISTA DOS MADEIREIROS DE ALTA FLORESTA, JURUENA E COTRIGUAÇÚ - MT/BRASIL
Marilaine de C. P. Marques 1   (autor)   marilaine@vsp.com.br
José J. D. Castro 1   (orientador)   
1. Universidade do Estado do Mato Grosso, Departamento de Ciências Biológicas de Alta Floresta - UNEMAT
INTRODUÇÃO:
A ocupação da Região Norte matogrossense (Amazônia), começou a partir de processos de colonização privados, iniciados no final da década de 60, quando o Brasil vivia sob o lema Integrar para não Entregar. Até hoje uma das suas principais atividades econômicas é a exploração madeireira. Na atualidade, desenvolvimento sustentável virou chavão de muitos discursos e podemos dizer que grande parte deles não tem raízes no verdadeiro significado do termo, pois segundo Brüseke(1996), ele é complexo e ancora conceito de democracia, equidade e eficiência. Portanto, desenvolvimento inclui crescimento econômico, conservação dos recursos naturais e também desenvolvimento sócio-cultural. A valoração exclusivamente dos aspectos econômicos dos recursos naturais, as explorações inadequadas ou centradas em poucas espécies, são dinâmicas que acarretam prejuízos ecológicos e não contribuem com o progresso que a humanidade necessita alcançar. Dentre os pesquisadores que postulam sobre tais temáticas propondo alternativas coerentes com as bases da sustentabilidade, podemos destacar (Thibau, 2000), (Wilson, 1988), (Kobayashi, 1993) e outros. Sob a influência destas perspectivas, este trabalho realizado de julho de 2000 a julho de 2001, teve por objetivo verificar as potencialidades do Marupá e a concepção extrativista dos madeireiros, em três municípios do norte do Mato Grosso: Alta Floresta, Juruena e Cotriguaçú.
METODOLOGIA:
Primeiramente, entrevistou-se 20 madeireiros em Alta Floresta, que tem suas sedes localizadas em um raio de 20 Km do centro do referido município. Posteriormente, abordou-se os Secretários de Agricultura e representantes dos madeireiros em Juruena e Cotriguaçú, que acompanharam várias visitações em plantios de Marupá consorciados naquelas localidades, oferecendo depoimentos sobre as experiências, com as quais se envolveram. Em Juruena também se contou com a colaboração do Engenheiro Agrônomo Luiz Mackawa e dos demais técnicos do Viveiro Floresta Viva. Os profissionais do viveiro forneceram informações fundamentais sobre reflorestamento com Simarouba amara, porque fornecem mudas e assistência técnica aos madeireiros locais, de modo que por intermédio do grupo foi facilitada a identificação de algumas propriedades que foram visitadas durante a pesquisa. Também se fez vistas in loco em madeireiras dos municípios, nos quais a pesquisa transcorreu, assim, verificou-se o beneficiamento da madeira de Marupá, formas de aproveitamento das sobras e venda dos produtos no mercado interno e externo. Os dados foram sistematizados através de textos, fotos, gráficos e tabelas, assim estabeleceu-se comparativos entre as formas que os madeireiros abordados exploram o Marupá.
RESULTADOS:
No processo inicial de ocupação altaflorestense, o Marupá era derrubado e queimado para ceder lugar às pastagens e lavouras, porque muitos não conheciam seu potencial e também devido à existência de espécies mais rentáveis, que naquela época eram abundantes. Até a década de 80, foi extraído brandamente, porém tal ocorrência foi intensificada na década de 90, quando espécies usualmente exploradas foram escasseando. O Marupá tem boa aceitação nacional e internacional, seu cerne é compacto, o que possibilita um ótimo aproveitamento, é muito usado para fazer móveis, forros para casa, divisórias para escritórios e outros objetos. Do seu caule pode-se também retirar uma essência para fazer perfume e o parênquima desta espécie, pode ser utilizado na fabricação de remédios para curar doenças do sistema digestório. Em Juruena e Cotriguaçú, existem viveiros, plantios de Marupá consorciados, que estão se desenvolvendo com êxito e embora naquela região ainda seja abundante a ocorrência natural da árvore, os madeireiros realizam reflorestamento da espécie que é cultivada consorciada com Euterpe edulis (Açaí), Schizolobium amazonicum (pinho cuiabano) e outras espécies. Em Alta Floresta não existe reflorestamento com Marupá, embora a maioria dos entrevistados tenha reconhecido que se trata de uma espécie rentável que esta cada vez mais escassa, tendo em vista a atual forma de coleta, a qual vem sendo submetida.
CONCLUSÕES:
Através desta pesquisa, constatou-se que a exploração do Marupá em Alta Floresta ocorreu e continua ocorrendo de forma predatória, pois no passado foi ignorado porque existiam outras espécies mais rentáveis e também porque seu potencial madeireiro era pouco conhecido. No presente está sendo explorado sem um planejamento sustentado e o mais paradoxal é que muitos dos entrevistados que trabalham com o Marupá, estão cientes que a espécie que tem aceitação nacional e internacional está cada vez mais escassa por falta de uma proposta coerente com os princípios ecológicos. Os reflorestamentos existentes em Juruena e Cotriguaçú são significativos, porque nos dois municípios os madeireiros coletam e repõem a espécie explorada. Com esta atitude, garantem matéria prima para que as atividades extrativistas prossigam com bases sólidas e conservam o potencial genético, de valor inestimável. Portanto, estas experiências podem servir de referência para possíveis iniciativas em Alta Floresta.
Palavras-chave:  Extrativismo vegetal; Setor madeireiro do norte mato-grossense; Marupá.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004