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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística
A LÍNGUA FALADA VS. A LÍNGUA CHAT: UMA COMPARAÇÃO DO SUJEITO NULO EM FRASES FINITAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Marcelo Amorim Sibaldo 1   (autor)   lindesio@hotmail.com
Maria Denilda Moura 2   (orientador)   denilda@fapeal.br
1. Bolsista do Programa Especial de Treinamento PET/ Letras/ MEC/ SESu/ UFAL
2. Profa. Dra. do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas - UFAL
INTRODUÇÃO:
Com os grandes avanços da lingüística em sintaxe, muitos estudos foram realizados nos últimos 30 anos acerca do Parâmetro pro-drop (ou Parâmetro do Sujeito Nulo). Estudos recentes mostram que, com a possível hipótese do enfraquecimento no paradigma flexional do Português Brasileiro (doravante PB), a lexicalização do sujeito nas sentenças dessa língua encontra-se em processo de mudança: o PB talvez esteja passando de uma língua pro-drop para uma língua não-pro-drop, como o inglês que não aceita sentença sem sujeito lexicalizado (exceto em casos como o imperativo). Os estudos supracitados sempre ocorrem na língua falada, mas o que dizer da língua chat, que está atualmente sendo muito usada por pessoas do mundo todo? Será que os usuários-falantes dessa língua estão lexicalizando o pronome sujeito nas sentenças? É por sentir a necessidade de estudos lingüísticos (sintaxe) que englobem o ambiente da rede mundial de computadores, e para ir em busca dessa resposta (ou parte dela, ou ainda, mais pontos de interrogação) que desenvolvemos esta pesquisa, com a hipótese principal de que os usuários-falantes dessa língua continuam não lexicalizando os sujeitos das sentenças produzidas nessas salas, pois pressupomos que os usuários abreviam nomes nas salas de bate-papo justamente para uma maior rapidez na interação, dessa forma eles também não usariam o sujeito nas suas sentenças - para essa agilização no envio da sentença - já que a língua (PB) dá suporte para que isso aconteça.
METODOLOGIA:
Para a realização desta pesquisa tomamos como corpus "conversas" cedidas pelos próprios "falantes" realizadas nas salas de bate-papo - # (canal) Maceió - , mais especificamente do IRC (Internet Relay Chat), por ter se tornado um dos mais usados meios de interação via computador. É relevante salientar - mesmo não analisando a variável extralingüística escolaridade - que os usuários-falantes do corpus coletado são estudantes de nível superior da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) do curso de Direito. No material coletado, levamos em consideração sua condição de produção que é realizada nas salas de bate-papo marcada pelo distanciamento espacial dos falantes, tal como acontece numa interação via telefone. Após essa coleta de dados, fizemos, então, uma seleção e análise desses dados. Sendo assim, apenas sentenças finitas declarativas, e não as coordenadas com sujeito co-referentes (pois segundo Duarte (1993: 110) "as coordenações com sujeitos correferentes parecem constituir um contexto universal para o uso do sujeito nulo"), foram analisadas, deixando as frases infinitivas e interrogativas para um trabalho posterior. Dessa forma, tomamos como embasamento teórico a Teoria Sociolingüística Paramétrica, ou seja, a Teoria Sociolingüística em interface com o modelo de Princípios e Parâmetros do modelo gerativista, no qual "o conhecimento sintático de um falante adulto é visto como sendo constituído de Princípios invariantes e propriedades paramétricas", cf. Kato (2002: 311).
RESULTADOS:
Para a análise na língua chat, usamos nessa pesquisa apenas a variável lingüística ocorrência do sujeito pleno ou nulo, considerando para a análise tanto os sujeitos pronominais quanto os nominais do corpus. Após a análise constatamos que, diferente da língua falada, o sujeito pleno na língua chat ocorreu em apenas 35, das 92 sentenças analisadas, ou seja, cerca de 38%; já o sujeito nulo ocorreu em 57 sentenças ou cerca de 62% do total analisado. O pronome de primeira pessoa do singular "eu" ocorreu em maior número (64 ou 69% do total), sendo 48 (75%) de sujeito nulo. Assim como em pesquisas na língua falada, o pronome de terceira pessoa do singular "ele" ocorreu em maior número de sujeito pleno, dos 16 casos, 11 (69%) foram de sujeito pleno. É interessante observar que em sentenças como (1) pro já te falei que pro deixei a barba crescer 2x ñ?, retirada do corpus analisado, notamos a existência do elemento Q- em posição Cº, dessa forma a sentença desmente a afirmação de que "a presença de elementos adjuntos a IP parece contribuir para a realização plena do pronome sujeito", cf. Cavalcante (2001: 115), ou seja, a flexão do verbo permitiu reconhecer o sujeito nulo (eu) pelo paradigma verbal. Pertinente observar também que o verbo da sentença matriz também traz amalgamado à raiz a concordância (AGR) de número e pessoa, e dessa maneira, assim como na sentença encaixada, o sujeito é nulo. É válido dizer que, além desse exemplo, outros deste tipo ocorreram no corpus analisado.
CONCLUSÕES:
Segundo Chomsky apud Cerqueira (1993: 132), o elemento AGR seria "uma coleção de traços (gênero, número, pessoa) comuns aos sistemas de concordância", sendo assim, o empobrecimento do paradigma verbal do PB seria devido à falta desse elemento. Dessa forma, o sujeito pleno está sendo mais usado na língua falada no PB em detrimento do sujeito nulo, cf. estudos recentes na língua falada em Alagoas (Cavalcante, 2001) e no Rio de Janeiro (Duarte, 1995). Mas, como vimos, não é o que parece estar acontecendo com a língua chat, pois, pela análise acima, o sujeito nulo ocorre freqüentemente nessa língua, diferente, também, de textos escritos para o teatro popular do estudo de Duarte (1993), onde a minoria dos sujeitos encontrados numa peça de 1992 (cerca de 30%) foi nulo, é interessante observar que nessa peça o pronome nulo de 1ª pessoa do singular ocorreu em apenas 20%, diferente da língua chat, onde vimos o uso em 75%, diferença gritante. Nesse aspecto a língua chat se assemelha ao estudo sincrônico de cartas pessoais de Paredes da Silva (1988), cuja ocorrência de sujeito nulo em 1ª pessoa acontece em cerca de 83% dessa análise. Sendo assim, a análise feita acerca da língua chat corrobora a nossa hipótese principal, na qual os usuários-falantes fariam o uso do sujeito nulo para agilizar a "conversa" realizada por meio da internet. Pertinente dizer que um corpus maior fará parte de estudos posteriores para confirmação ou não dos resultados apresentados nessa pesquisa.
Instituição de fomento: SESu
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  chat; Sintaxe; Sujeito nulo.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004