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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
O REFLEXO SOCIAL DA CIDADE DE ITABIRA APÓS O PERÍODO DE PRIVATIZAÇÃO DA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE.
Ronaldo Gomes Alvim 1   (autor)   alvimrg@yahoo.com.br
1. Pós-Graduando do Depto de Sociología, Universidad de Salamanca - USAL/Espanha.
INTRODUÇÃO:
A cidade de Itabira encontra-se localizada na região central do Estado de Minas Gerais a 19° 15' 18'' latitude sul e a 43° 47' 45'' longitude este de Greenwich. Incrustada na serra do Espinhaço e na região do Vale do Aço, considerada uma das regiões mais ricas do estado foi uma das cidades que mais contribuiu para a economia do país no século passado. Desde os primeiros assentamentos euro-humanos na região, até a atualidade, sua economia passou por vários ciclos econômicos como a exploração aurífera, a construção de forjarias e fábricas de tecido e posteriormente, a mais importante: a exploração de minério de ferro com a criação da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) na década de 40. Sobre o aspecto social, em toda sua existência, a região apoiou-se em dois mitos simbólicos consecutivos. O primeiro, o pico Cauê, símbolo da cidade e marco referencial de uma natureza presente e marcante e bucólico. O segundo, a CVRD, personificação do orgulho itabirano criado que via sair de suas terras, o progresso do país, construindo um elo afetivo e "familiar" da empresa junto à comunidade. Com sua privatização em 1977, houve a perda deste elo, dando início a uma grande crise social na comunidade, gerando conflitos e acusações de ambos os lados sobre a decadência da cidade. O presente trabalho é parte de um estudo de investigação que pretende analisar as inter-relações entre os diversos setores sociais, a empresa e a administração pública geradas em Itabira nestes últimos sete anos.
METODOLOGIA:
A pesquisa consistiu de uma metodologia aplicada à comunidade de Itabira inter-relacionando os crescentes conflitos verificados entre empresa, serviço público e comunidade entre si. O trabalho foi realizado em duas etapas: a primeira constou da permanência do investigador na cidade, realizando estudos bibliográficos (Jornais, revistas e boletins de ocorrência) e a segunda entrevistas individuais e coletivas a pessoas, personalidades da cidade. Os grupos de indivíduos ou instituições visitadas obedeceram uma lista previamente obtida através da prefeitura local e posteriormente, de acordo com indicações dos entrevistados, levando em consideração o grau de importância e sua percepção ante as condições locais. Os grupos foram divididos de acordo com sua atuação, obedecendo a seguinte classificação: Social: entidades civis sem fins lucrativos, pessoas de cargos públicos efetivos, líderes comunitários, historiadores, sindicalistas locais e personagens importantes na localidade; Empresarial: Indivíduos de departamentos de Meio Ambiente, Recursos Humanos e diretores da CVRD; Pública: prefeitos, secretários municipais, funcionários públicos não efetivos e empresas públicas. O questionário pré-elaborado consistiu de perguntas analíticas referentes aos aspectos positivos e negativos dos programas sociais desenvolvidos pela empresa, ONGs e prefeitura; as condições do impacto sócio-ambiental local; as articulações da comunidade para o desenvolvimento local após a saída da CVRD.
RESULTADOS:
Foram entrevistadas 92 pessoas da comunidade, de diversas áreas de atuação que vivem na cidade. Os dados coletados demonstram que após a privatização da CVRD a população parece não acreditar em soluções a curto e médio prazo para resolver a crise social, afetando a auto-estima da comunidade. Dos entrevistados 53% consideram o itabirano, indignado e desamparado ante a sua contribuição ao desenvolvimento do país; 31% consideram que a população atual, alienada e sem interesse na solução dos problemas locais; 10% relatam que a comunidade vive a glória do passado que sabem não haver condições em trazer de volta, seus mitos, o pico e a CVRD. Deste grupo, apenas 6% julgam ser o itabirano um povo feliz. Ao analisar a relação empresa-sociedade, foram unânimes em afirmar positivamente o papel da empresa no desenvolvimento humano da cidade, mas acreditam que esta poderia ter esforçado mais em atrair novos investimentos para Itabira. Quanto às administrações públicas, 82% consideraram que nos últimos 20 anos a política local não soube usar adequadamente os recursos disponíveis e 18% acreditam haver maior empenho das prefeituras. A comunidade local acredita que as dificuldades de soerguimento da sociedade parecem afetar no temperamento do itabirano, sendo percebido no alto índice de suicídio. De acordo a Polícia Militar de Minas Gerais, pode-se constatar um crescente aumento deste índice, sendo superior aos índices de Belo Horizonte, do Estado e até mesmo do país.
CONCLUSÕES:
Durante o trabalho de investigação, pode-se constatar que, a forte crise social, marcada pela falta de uma estrutura organizacional que por décadas mesclou o sentimento de prosperidade com eternidade dos recursos ambientais existentes, mesmo sabendo que um dia viria a esgotar, procuravam não preocupar com o futuro. A perda dos dois marcos da cidade, o pico e a Companhia, a comunidade percebeu que houve um vácuo no investimento social na história local, retratando na falta de perspectiva no futuro. Pode-se perceber que a cidade sente a força da lesão ambiental e vêem com humilhação à perda dos valores criados desde o surgimento dos primeiros assentamentos humanos, sendo assim, difícil para eles entenderem e aceitar a concepção de melhoria da qualidade de vida advinda pelo do desenvolvimento uma vez que, pouco ou quase nada sacaram de proveito socialmente, e mais. A população entende que já é o momento de procurar novos rumos para o desenvolvimento local, até mesmo para a sobrevivência da já que o elo "familiar" criado por décadas de interação entre ambas as partes, foi rompido. Pode-se concluir que será um caminho longo e árduo já que o itabirano criou a tradição do laissez-faire tanto por conta da empresa quanto para a administração pública. Na busca de soluções para retirar a cidade da crise instalada, a população terá, que aceitar o fim do ciclo da mineração. O passo seguinte dependerá de sua agilidade e criatividade em lutar conjuntamente para o desenvolvimento local.
Instituição de fomento: Agencia Española de Cooperación Internacional
Palavras-chave:  Itabira; Crise sócio-ambiental; Privatização.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004