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F. Ciências Sociais Aplicadas - 9. Comunicação - 4. Jornalismo e Editoração
OS TRABALHADORES E A RECEPÇÃO DA COMUNICAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE OS SINDICATOS DOS METALÚRGICOS DE CAMPINAS E JUIZ DE FORA
Marcela Fernanda da Paz 1   (autor)   
Mariana Zibordi Pelegrini 1   (autor)   
Sílvio Pinto Anunciação Neto 3   (autor)   
Cláudia Regina Lahni 2   (orientador)   lahni@facom.ufjf.br
Bruno Fuser 3   (orientador)   bfuser@puc-campinas.edu.br
1. Faculdade de Comunicação (Facom), Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF
2. Depto. de Jornalismo, Faculdade de Comunicação (Facom), Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF
3. Faculdade de Jornalismo, Centro de Linguagem e Comunicação (CLC), PUC-Campinas
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa, desenvolvida em 2003/2004, tem como objetivo entender qual é a posição dos trabalhadores com relação à comunicação desenvolvida pelos Sindicatos dos Metalúrgicos de Campinas e Região e de Juiz de Fora, qual é o grau de identificação entre eles e essa imprensa. Este estudo complementa outro, efetuado em 2002/2003, em que se pesquisou a política de comunicação desenvolvida pelas entidades. Aqui, buscou-se compreender a relação do trabalhador com a entidade que formalmente o representa e com a comunicação que ali se produz.
Os jornais de fábricas constituem-se, no cenário geral do sindicalismo brasileiro, numa tentativa de aproximação entre sindicato e fábrica e servem de estímulo para a participação e identificação dos trabalhadores, assinala SHÜRMANN (1998). A pesquisadora cita como exemplo a dinâmica adaptada nos anos 70 pela “Tribuna Metalúrgica”, jornal do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Hoje, no entanto, nos casos específicos dos sindicatos estudados, a participação do trabalhador na produção desses jornais é praticamente nula, o que se pôde verificar a partir de pesquisa entre diretores e comunicadores das entidades. Com bases nessas constatações buscou-se refletir sobre o grau de identificação entre os trabalhadores e a imprensa do Sindicato.
Este trabalho integra as atividades do grupo de pesquisa “Comunicação e Política”, cadastrado no diretório do CNPq, com a participação da PUC-Campinas e da Universidade Federal de Juiz de Fora.
METODOLOGIA:
Foi elaborado um questionário com 18 perguntas. Das 18 questões, apenas uma foi aberta – função exercida – e também apenas uma admitia resposta múltipla – sobre a forma de o trabalhador se manter informado. Todas as demais eram fechadas. As questões foram agrupadas em 6 blocos: idade, escolaridade, função, sindicato, comunicação geral e comunicação do Sindicato. Foram aplicados 187 questionários em Juiz de Fora e 180 em Campinas. As questões foram tabuladas no conjunto, calculando-se o percentual levando-se em conta o total de respostas das duas cidades, e, também, em separado, para se permitir entender as diferenças entre os trabalhadores das duas regiões do País. Considerou-se o número total de respostas efetivamente dadas para cada questão no cálculo do respectivo percentual.
Os trabalhadores foram procurados, essencialmente, em duas situações: à saída das fábricas ou durante espera para realização de homologação de dispensa de emprego, na sede do Sindicato. As duas situações foram escolhidas por permitirem a abordagem dos trabalhadores em situações em que comumente os mesmos estão com tempo disponível. Em Juiz de Fora o Sindicato predispôs-se a acompanhar as pesquisadoras nas fábricas, facilitando tal contato, enquanto em Campinas ocorreu o contrário, demonstrando uma clara aversão dos dirigentes a se continuar o trabalho de pesquisa iniciado no ano anterior, cujo resultado encontrado foi bastante crítico em relação ao Sindicato.
RESULTADOS:
Os trabalhadores são na maioria não sindicalizados (65,9%), informam-se de maneira majoritária através da televisão (51,9% das respostas dadas), têm na maioria 2º grau completo (63,2%), embora percentual significativo (7,9%) tenha nível superior completo ou incompleto. Apesar de apenas 34,1% serem sindicalizados, 46,3% afirmam freqüentar o Sindicato, com maior ou menor intensidade. Pouco mais da metade dos trabalhadores (53,8%) afirmaram que o Sindicato não se mantém em contato constante com a sua base. Os trabalhadores conhecem o jornal do sindicato (68,9%), lêem-no inteiro (63,9%), acham a leitura fácil (82,6% dos que lêem), mas fazem duas ressalvas: dos que lêem, 47,7% consideram que o jornal não expressa bem a opinião do trabalhador, e apenas 5% dos trabalhadores participaram de alguma forma da produção do jornal. O cruzamento de duas informações trouxe novas informações: são os trabalhadores mais velhos os que mais freqüentam o sindicato (na faixa de 41 a 50 anos, 58,9% declararam freqüentar a entidade, contra 30,3% dos mais jovens, de 18 a 30 anos, e 46% de 31 a 40 anos). Outro cruzamento confirma que a leitura dos jornais é mais intensa quanto maior a escolaridade: 81,3% dos trabalhadores com 3º grau completo ou incompleto lê o jornal do sindicato, contra 61,9% daqueles que têm o 2º grau completo ou incompleto e 49% dos que têm o 1º grau completo ou incompleto.
CONCLUSÕES:
As informações obtidas confirmam dados apontados por Iram Jácome RODRIGUES (1997) sobre o envelhecimento das lideranças sindicais. Segundo o pesquisador, desde o 4º Concut – Congresso Nacional da CUT, em 1991, passa a se verificar nessa central, à qual pertencem os sindicatos estudados, a profissionalização dos militantes, crescimento de seu grau de escolaridade, aumento do número de dirigentes com liberação total para a atividade sindical e o envelhecimento dos ativistas dirigentes. Haveria "um 'núcleo militante' que vai se mantendo e se ampliando com o passar dos anos, e que tende a fazer uma seleção dos 'novos' em um típico processo de burocratização da organização" (RODRIGUES, 1997:209). É também significativo o nível de instrução dos trabalhadores entrevistados, quase 8% têm grau superior completo ou incompleto, e 63,2% o 2º grau completo. Ao mesmo tempo, a burocratização dos dirigentes, por um lado, e a baixa faixa etária dos trabalhadores em geral, por outro, podem explicar o relativo baixo número de sindicalizados encontrado no estudo (34,1%). A alta adesão à leitura dos jornais (63,9%) poderia levar à conclusão que os trabalhadores também aderem às idéias ali veiculadas, o que, no entanto, revelou-se de outra forma: 47,7% consideram que o jornal não expressa bem a opinião do trabalhador. A centralização na prática de produção jornalística contribui para explicar tal ponto de vista, visto que 95% dos trabalhadores jamais foram convidados a participar dos jornais.
Instituição de fomento: BIC/Facom/UFJF; PIBIC/CNPq/PUC-Campinas
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Jornalismo Sindical; Comunicação e Política; Comunicação Sindical dos Metalúrgicos.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004