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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
O AMBIENTE VIRTUAL COMO ESPAÇO INSTRUCIONAL E DE REFLEXÃO
Julimeire Bergamaschi Paziani Araújo 1   (autor)   arajuli@ig.com.br
1. Depto. Lingüística e Língua Portuguesa, Fac. Ciências e Letras - UNESP/Araraquara
INTRODUÇÃO:
O seguinte trabalho teve como objetivo principal apresentar algumas reflexões acerca da ligação existente entre as experiências vividas por futuras professoras de inglês enquanto aprendizes desta língua e suas crenças acerca do processo de ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira. A base teórica que fundamenta esta pesquisa integra a necessidade de formulação de uma teoria da experiência (Dewey, 1938) e a necessidade de reflexão sobre a prática (Connelly & Clandinin, 1988; Clandinin & Connelly, 1995). Procurou-se verificar a hipótese de que haja uma ligação entre experiências de vida e experiências instrucionais, bem como reforçar a idéia de que o ensino esteja baseado nas experiências particulares de cada aluno, as quais estariam sempre ligadas ao tempo, ao espaço e à situação. Outro conceito que permeou o trabalho foi o do “conhecimento pessoal prático”, ou seja, o conhecimento construído através da experiência (pessoal, social e tradicional) e que, tacitamente, é utilizado na prática de cada professor, sendo resultado não apenas da reflexão, mas também da intuição e da ação. Esta percepção conduz à proposição da metáfora do “panorama do conhecimento profissional” que contempla o professor em um sentido bastante abrangente, considerando o conjunto de experiências vividas em épocas e lugares diferentes como integrantes de um “panorama” em que a prática profissional é, simultaneamente, moldada e manifestada. Com base nestes conceitos, percebe-se a necessidade de desvendar esse panorama para que o profissional possa articular as experiências a que está exposto.
METODOLOGIA:
Participaram da pesquisa quatro indivíduos, direta ou indiretamente ligados a ela: duas - das quatro - participantes de um projeto denominado Oficinas virtuais de redação em inglês, a orientadora do projeto e a pesquisadora. Primeiramente, foram trocadas mensagens eletrônicas entre as duas participantes, ambas alunas do 4o ano do período diurno do curso de Licenciatura em Letras da UNESP - Campus de São José do Rio Preto, e a orientadora do projeto. Estas mensagens foram tomadas como o corpus da pesquisadora, lidas e analisadas, na busca de uma confrontação entre as informações ali contidas e a hipótese do trabalho. A análise destas mensagens alicerçou-se em três conceitos principais: a experiência, a reflexão e a prática. O primeiro tratou do levantamento dos dados a respeito das experiências vividas por cada participante no decorrer de suas vidas como aprendizes de uma língua estrangeira. O papel do segundo foi o de levar as participantes a interpretar suas experiências e, assim, refletir sobre elas, vivendo novas experiências. O terceiro, esteve presente na possibilidade de exercitar a escrita em língua estrangeira, bem como expressar idéias e retomar conceitos relativos ao ensino-aprendizagem de línguas, presentes no dia a dia destas futuras profissionais.
A cada fase de análise, sucederam-se reuniões periódicas de discussão dos dados entre a orientadora do projeto e a pesquisadora, a qual manteve um diário de pesquisa contendo as anotações e as possíveis conclusões levantadas em relação à teoria apresentada.
RESULTADOS:
Pela leitura e análise das mensagens, percebeu-se que, apesar de cursarem a mesma faculdade, as duas participantes tiveram experiências pessoais e como aprendizes de uma língua estrangeira muito diferentes. A participante 1 mostrou-se dividida entre a forma como aprendeu inglês (método tradicional) e a forma como foi instruída a ensiná-lo (abordagem comunicativa), conflito que pode ter se originado das experiências diferenciadas de aprendizagem que viveu ou do processo de reflexão desencadeado nas aulas de Prática de Ensino. Já nas mensagens da participante 2, percebeu-se que suas primeiras experiências de aprendizado da língua inglesa, por terem sido divertidas, despertaram nela o gosto por aprender coisas novas, ficando a experiência marcada como algo positivo. Outro dado marcante na leitura das mensagens foi a presença de certas crenças de aprendizagem, , manifestadas através de pensamentos relacionados às experiências das participantes como aprendizes de uma língua estrangeira. Pode-se citar o fato de que a participante 1 acreditava que o curso de inglês na faculdade seria mais divertido, vindo a perceber que a realidade era diferente. A participante 2, por sua vez, manifestou a crença de que os professores recém-formados são mais motivados a inovar, a tentar novos caminhos, novas técnicas. Além disso, as participantes puderam, além de exercitarem a habilidade escrita em língua estrangeira, refletir acerca de sua formação acadêmica e das experiências a ela ligadas, no intuito de estabelecer relações entre estes aspectos e sua futura profissão.
CONCLUSÕES:
O presente estudo procurou auxiliar as participantes a compreender o significado das experiências e a importância de se refletir sobre elas, de interpretá-las para que elas sejam realmente válidas, tanto no âmbito pessoal quanto na futura profissão de professor. A identificação de experiências educativas e não-educativas compõe o “contínuo experiencial” - princípio de continuidade da experiência, fundamentado na interligação das mesmas. Nesse sentido, continuidade, interação e situação constituem os princípios que embasam a “teoria da experiência”, aspectos que reforçam a importância da retomada de experiências vividas e a reflexão sobre elas na busca de uma melhor instrumentalização para vivenciar e interpretar experiências subseqüentes. A vivência e a prática da interpretação proporcionaram às participantes a oportunidade de exteriorizar crenças de aprendizagem e de refletir sobre suas origens, o que certamente as levará a entender melhor suas ações e procedimentos durante a construção de sua prática profissional.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Experiência; Reflexão; Prática.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004