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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial
PROGRAMA DE TREINAMENTO DE HABILIDADES COMUNICATIVAS PARA ADULTOS DEFICIENTES MENTAIS: RELATO DE FAMILIARES
Adriana Augusto Raimundo de Aguiar 1   (autor)   adrianaaguiar@yahoo.com
Zilda Aparecida Pereira Del Prette 1, 2   (orientador)   zdprette@power.ufscar.br
1. Depto. de Educação Especial, Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
2. Depto. de Psicologia, Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
INTRODUÇÃO:
Na Educação Especial, mais especificamente na educação do adulto deficiente mental, o interesse pela área da comunicação ocupa um lugar privilegiado, dado a sua importância para o seu funcionamento adaptativo. Estudos apontam que a união entre profissionais e familiares constitui um caminho bastante promissor para a efetividade dos programas de intervenção para essa população. No entanto, no Brasil ainda são poucos os estudos e atendimentos que envolvam diretamente as famílias nesses programas, sendo este, portanto, um vasto campo da pesquisa científica a ser explorado. Um bom relacionamento interpessoal exige aptidão em comportamentos de convívio social. Pesquisas com foco na avaliação de habilidades sociais/comunicativas têm mostrado que pessoas com deficiência mental freqüentemente apresentam dificuldades em diferentes aspectos dessas habilidades. Com face à inclusão de pessoas com necessidades especiais é fundamental que estas, sejam socialmente competentes. O presente estudo teve como objetivo analisar, a partir dos relatos de familiares: a) a efetividade de um programa de treinamento de habilidades comunicativas com deficientes mentais adultos; b) a satisfação das famílias dos participantes com o programa.
METODOLOGIA:
Os relatos foram obtidos com cinco familiares de um grupo de cinco adultos deficientes mentais que participaram de um programa de treinamento de habilidades comunicativas. A seleção dos componentes comunicativos para treino baseou-se em dois critérios combinados: a) avaliação por meio de questionário respondido por familiares sobre o grau de facilidade dos participantes em desempenharem cada um dos componentes comunicativos e b) avaliação também por meio de questionário respondido por familiares sobre o grau de importância de cada um desses componentes no repertório comunicativo dos participantes. A partir dos dados obtidos nos questionários, foram levantados objetivos grupais (comuns a vários participantes) e individuais (necessidades específicas de cada um), sendo contemplados, no treino, os componentes verbais de conteúdo, verbais de forma e não verbais. O programa de treinamento foi organizado com sessões em sala (estruturadas) e sessões de atividades práticas (semi-estruturadas). Ao final do primeiro período de treinamento, foram encaminhados aos familiares dois questionários, sendo um de questões abertas referentes à satisfação com o programa e aos seus efeitos positivos ou negativos sobre o desempenho dos participantes e o segundo, com questões de múltipla escolha (tipo Likert), para avaliação das melhoras em componentes específicos treinados. O tratamento dos dados baseou-se na análise qualitativa léxica e de conteúdo e na tabulação do segundo questionário.
RESULTADOS:
Dentro da análise léxica foram levantadas duas categorias: a) palavras e/ou expressões que sugeriram aspectos positivos do treinamento (cinco com duas a quatro ocorrências cada e oito com uma ocorrência cada); b) palavras e/ou expressões que sugeriram aspectos negativos deste (duas com duas ocorrências cada e duas com uma ocorrência cada). A análise de conteúdo permitiu levantar seis categorias: a) melhora na socialização, bem como o envolvimento com o grupo (seis referências); b) elogios à qualidade do programa (três referências); c) melhora em outros aspectos aparentemente não relacionados à comunicação (três referências); d) melhora em aspectos globais da comunicação (três referências); e) melhora em componentes treinados (uma referência); e f) melhora no envolvimento dos participantes com a tarefa de casa (uma referência). A tabulação dos dados do segundo questionário permitiu identificar resultados positivos na maioria dos componentes treinados de acordo com a avaliação dos familiares. Dentre os componentes treinados, sete verbais de conteúdo (87,5%) receberam indicações de alguma e/ou muita melhora (fazer perguntas, responder perguntas, agradecer, fazer pedidos, justificar-se, opinar/concordando e opinar/discordando), dois não verbais (66,66%) também receberam esta indicação (olhar e contato visual e expressão facial), sendo que poucos componentes receberam indicação de não melhora (elogiar, velocidade de fala, intensidade de voz e gestos) por alguns familiares.
CONCLUSÕES:
Os resultados obtidos nesse primeiro período de treinamento permitiram a observação de efeitos positivos do programa tanto para os componentes comunicativos treinados como em componentes não focados nas sessões, o que sugere a eficácia deste tipo de intervenção para o grupo que a recebeu. A não melhora em alguns componentes treinados, em especial nos componentes verbais de forma, sugere a necessidade de maior ênfase do treino nesses itens e revisão das estratégias de treino para o trabalho desses. O relato dos familiares mostrou ser um forte e importante indicador da eficácia do programa de treinamento, bem como da satisfação destes com o programa. Com isso, os resultados indicaram a importância da inclusão de agentes do convívio direto dos participantes do treino (neste caso a família) em um programa de intervenção desse tipo, para a avaliação dos efeitos imediatos deste e, em particular, para a verificação de eventual generalização desses efeitos para o ambiente natural. Mostram, também, que as avaliações contínuas durante o programa de intervenção são fundamentais para direcionar o trabalho para as reais necessidades dos seus participantes, bem como para aperfeiçoá-lo, alterando-se estratégias e procedimentos quando necessário.
Instituição de fomento: FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
Palavras-chave:  Habilidades comunicativas; Deficiência mental; Treinamento de habilidades sociais.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004