IMPRIMIRVOLTAR
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
ALGOZES OU VÍTIMAS? A REPRESENTAÇÃO DE POLICIAIS ENTRE JOVENS DE PERIFERIA
Luziane Zacché Avellar 1   (orientador)   luzianeavellar@yahoo.com.br
Lorena Queiroz Merizio 2   (autor)   
Milena Bertollo 2   (autor)   milenabertollo@yahoo.com.br
Rodrigo dos Santos Scarabelli 2   (autor)   tatorodrigo@ig.com.br
Rafaela Kerckhoff Rölke 2   (autor)   rafaelarolke@yahoo.com.br
Fernando Pinheiro Schubert 2   (autor)   
Bárbara Carolina Soares de Oliveira 2   (autor)   
Márcia Kill Ramos 2   (autor)   
1. Profª Drª do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento/ UFES
2. Aluno de graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo
INTRODUÇÃO:
Atualmente o jovem tem sido alvo de ações policiais violentas. A relação entre esses grupos parece tornar-se ainda mais conflituosa nas periferias e nos grandes centros urbanos, onde os estereótipos e os preconceitos são marcantes. Se por um lado, um considerável número de jovens sem qualquer antecedente criminal já foi vítima de ações policiais truculentas, por outro, policiais também são estigmatizados quando toda a categoria é vista pelos jovens como violenta e inimiga. Em virtude do que constatamos ser uma relação marcada pelo conflito, a presente pesquisa pretendeu identificar qual a representação social dos jovens a respeito dos policiais. A nossa hipótese inicial, que não veio a se confirmar, era a de que as práticas policiais aparentemente mais violentas dispensadas aos jovens de periferia seriam um importante fator na elaboração de uma visão mais negativa deste jovem em relação aos policiais. Espera-se que os dados levantados por essa pesquisa possam ser úteis na elaboração de intervenções mais eficazes no que se refere à melhoria da relação entre esses grupos.
METODOLOGIA:
Fizeram parte da pesquisa seis jovens, três do sexo masculino e três do feminino, com idades entre 15 e 24 anos, residentes em bairros considerados de periferia da Grande Vitória/ES. Para a coleta de dados, foi utilizado o método de Grupo Focal. A escolha da técnica justifica-se pelo fato de a discussão grupal representar uma forma muito familiar de interação entre os jovens, o que poderia facilitar o surgimento de idéias e de representações. Um roteiro prévio contendo questões a serem abordadas pelo grupo foi elaborado de forma a conduzir a discussão. O grupo focal foi realizado em local reservado e gravado em fita cassete. Após a transcrição e a leitura do material coletado, este foi submetido à técnica de Análise de Conteúdo.
RESULTADOS:
Os resultados sugerem a existência de cinco categorias que contêm elementos relacionados à representação dos policiais: a referência feita a eles, os relatos da ação policial, a legitimação da violência, a função do policial e a vitimização da categoria. Quando se referem aos policiais, os jovens não se utilizam de características claramente positivas ou negativas. Os sentimentos expressos variam do medo à segurança diante da figura do policial. Diversos casos de ação policial foram relatados e em todos esteve presente pelo menos um dos seguintes elementos: violência, autoridade, desonestidade e abordagem diferenciada entre pobres e ricos. Entretanto, as falas que adjetivaram essa ação trouxeram posições opostas: de tranqüilo a humilhante e terrível. Foram recorrentes as colocações que legitimam o uso abusivo e até extremo da violência policial, mas desde que contra bandidos, garantindo a segurança dos cidadãos. Em relação à função do policial, aparecem os verbos prender, autuar, penalizar e proteger. Foi também citada a necessidade do policial averiguar cuidadosamente uma suspeita antes de agir. Os baixos salários, as condições precárias de trabalho e a corrupção dos altos oficiais a quem os policiais estão subordinados, são citados como forma de vitimizar a categoria, levando os sujeitos a atribuírem uma espécie de heroísmo a esses profissionais quando no cumprimento de suas funções.
CONCLUSÕES:
Contrariamente à nossa hipótese inicial, não apareceram elementos predominantemente negativos na representação que os jovens possuem em relação aos policiais. O que encontramos foi uma marcante ambigüidade que se apresenta por meio das oposições: medo/segurança, honestidade/desonestidade, heroísmo/oportunismo. O policial como violento apareceu, sim, na representação dos jovens, mas considerando essa violência como necessária para manter a ordem na sociedade. E em nenhum momento essa utilização da violência extrajudicial, desde que contra bandidos, foi contestada, o que dá indicativos de que esse seja um dos elementos mais centrais, e, portanto, mais arraigados da referida representação social. Talvez mais preocupante do que o próprio uso dessa violência seja a tendência da sociedade em justificá-la, atitude também percebida em nossos sujeitos. Legitimar tais práticas sem questionar suas origens e sem propor outras formas de atuação pode contribuir para a perpetuação desse tipo de violência. A ambigüidade de opiniões aparece também em relação ao poder policial: ora ele tem autoridade e poder extra-oficial na sua ação, ora é destituído de tal poder, que é atribuído à corporação, tornando-o agente passivo de sua própria prática, sendo, nesse caso, vitimizado. Estes são alguns indícios de tal representação, sendo importante o fomento a mais estudos.
Palavras-chave:  policiais; jovens de periferia; representação social.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004