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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
A VIOLÊNCIA JUVENIL NO AMBIENTE ESCOLAR
Flávio Corsini Lirio 1   (autor)   flaviocorsini@hotmail.com
1. Centro de Educação, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES.
INTRODUÇÃO:
A violência é um fenômeno complexo que se manifesta de diferentes formas, variando no espaço e no tempo. Na sociedade contemporânea atual ela tem conquistado as manchetes dos noticiários, se tornando inclusive um excelente produto para o mercado da comunicação. No Brasil o mito da não-violência, segundo Chaui (1998), de um povo pacífico e ordeiro, é trabalhado no seio da sociedade como forma de construir a priori uma idéia de violência que contempla os desejos dos que detêm o poder econômico no país, com a intenção de manter a realidade social vigente. O problema da violência é visto como algo localizado, não sendo percebido como um fenômeno que tem sua origem na estrutura social e que demandaria ações com o intuito de transformá-la. A pesquisa tem como elementos fundamentais da investigação científica: juventude e violência. A intenção é estudar a ocorrência de violência praticada por jovens na escola. O trabalho desenvolvido tem uma relevância social e política na medida em que pretende contribuir no aprofundamento de uma temática na área da educação considerada por estudiosos como Marília Spósito (2001) e outros, ainda pouco explorada, no entanto, de suma importância.
METODOLOGIA:
O desenrolar do trabalho científico ocorreu em uma escola estadual de ensino fundamental e médio localizada no município de Cariacica/ES. Os sujeitos pesquisados foram alunos(as) e professores(as) do ensino médio do turno matutino. A investigação científica foi dividida em três fases, sendo que o trabalho de campo foi realizado em duas etapas: a primeira foi a observação participante, a segunda, as entrevistas por meio de grupos focais de alunos(as) e professores(as) e entrevistas individuais com alunos(as) e com a coordenadora - pessoa responsável pela disciplina da escola. A última fase constituiu-se da análise do material coletado e a elaboração do texto/dissertação. Foram realizados 01(um) grupo focal de alunos, 01 (um) grupo focal de alunas e um grupo focal misto, de alunos e alunas. Esta dinâmica privilegia uma divisão eqüitativa entre os gêneros. Os integrantes dos grupos focais foram selecionados a partir da observação realizada na primeira etapa da pesquisa. Cada grupo focal foi composto por oito integrantes. O pré-teste, que também foi aproveitado para a análise, contou com dez participantes, cinco meninos e cinco meninas. As entrevistas, tanto as individuais, como as dos grupos focais, foram gravadas, transcritas e, juntamente com as observações colhidas na escola, as informações e documentações coletadas, constituíram a base empírica do estudo de campo desenvolvido. Estes textos foram primordiais para análise e elaboração da dissertação.
RESULTADOS:
Os depoimentos de alunos(as) e professores(as) indicam que há o reconhecimento da existência de violência na escola como por exemplo: Solta rojão, dentro do banheiro, por ai. Esse também é um tipo de violência né. Assim, picha a escola......quebrar o vaso, coisa assim... (Aluno do grupo focal misto). Todos(as) os(as) entrevistados(as), tanto nos grupos focais, como nas entrevistas individuais, ressaltaram a problemática de infra-estrutura que a escola possui. A reclamação maior é a ausência de um lugar adequado para a prática de esportes. A educação física é restrita a um pequeno pátio irregular, ou a rua, que oferece perigo devido o tráfego de carros. A escola atende a um público marcado pela discriminação social, muitos não se identificam como moradores do bairro Castanheira, pois a fama de que é um bairro perigoso  violento  reproduz no imaginário das pessoas o receio de se relacionar com o povo que reside nele. O interessante nesse processo é que os(as) professores(as) não se reconhecem em momento algum como agentes agressivos, ou violentos com os(as) alunos(as). Mas, as atitudes descritas nos depoimentos, as observadas em sala de aula e as relatadas pelos(as) estudantes confirmam o comportamento agressivo deles(as). Os professores(as) se apresentam apenas como vítimas, ao contrário dos(as) alunos(as) que se reconhecem dos dois lados.
CONCLUSÕES:
A falta de um espaço adequado para a prática esportiva que comporte todos os(as) alunos(as) acaba gerando tensões e confrontos. As jovens alunas que tentam garantir, de forma insistente, o seu direito de participar da aula, em alguns casos, são desrespeitadas. A desmoralização social do bairro os deixa na defensiva. Para alunos(as) e professores(as) a escola passa a ser um lugar, cuja a imagem deve ser preservada. As falas indicam que ela se torna um refúgio do cotidiano violento, pois quando comparada com o bairro, a violência praticada na escola se torna despercebida. A discriminação social que eles(as) sofrem não diferencia ninguém e pesa no currículo, sobretudo da juventude que busca o primeiro emprego. As formas de violência presentes na Escola Castanheira são: a verbal, a física e a violência contra o patrimônio público. O foco da pesquisa é a violência cometida pelos(as) jovens alunos(as), mas a constatação de que os(as) professores(as) possuem comportamento violento é uma novidade. A representação simbólica do poder conferido ao(a) professor(a), como senhor(a) da razão, oculta a violência praticada pelos(as) mesmos(as), também colaboram nesse entendimento a fala de Chaui (2003, p. 51): a inversão do real, [ocorre] graças a produção de máscaras que permitem dissimular comportamentos, idéias, valores violentos como se fossem não-violentos.
Instituição de fomento: CAPES
Palavras-chave:  Violência; Juventude; Escola.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004