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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
OS FENÔMENOS LINGÜÍSTICOS DA ORALIDADE NA ESCRITA: UM ESTUDO DOS TEXTOS ESPONTÂNEOS DA CRIANÇA EM FASE DE ALFABETIZAÇÃO E DA 5ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL
FLÁVIA GIRARDO BOTELHO 1   (autor)   flaviagbotelho@bol.com.br
MARIA INÊS PAGLIARINI COX 2   (orientador)   
IZUMI NOZAK 1   (colaborador)   izumi@cpd.ufmt.br
1. INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - UFMT
2. FACULDADE DE LETRAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INTRODUÇÃO:
INTRODUÇÃO O presente trabalho refere-se aos resultados parciais de uma pesquisa monográfica desenvolvida no Curso de Especialização em Lingüística Histórica, na Faculdade de Letras, da Universidade Federal de Mato Grosso, no ano de 2002. O estudo partiu de uma observação empírica de crianças em fase de Alfabetização inicial e de crianças de 5ª série do Ensino Fundamental, em que nos textos produzidos por elas se apresentavam alguns fenômenos lingüísticos pertinentes à oralidade. Tais observações permitiram levantar duas questões fundamentais, ou seja, a) quais são os fenômenos lingüísticos que se apresentam nos textos espontâneos das crianças em fase de Alfabetização e da 5ª série do ensino Fundamental ? e b) quais são os fenômenos lingüísticos naturais durante o processo inicial de Alfabetização que persistem nos textos de crianças em fase final de Alfabetização, ou seja, de 5ª série do Ensino Fundamental ? Deste modo, o estudo visou analisar a relação entre a fala e a escrita espontânea dos alunos em fase de Alfabetização inicial e verificar quais os fenômenos da fala que persistem na escrita durante os anos seguintes de escolaridade.
METODOLOGIA:
METODOLOGIA Para a obtenção dos dados foi desenvolvida uma pesquisa-ação, em que, primeiramente, alunos de uma classe de Alfabetização de uma escola particular, de classe média, foram solicitados a produzir um texto escrito sobre o tema “Criança tem que brincar, quais são suas brincadeiras favoritas?”, e em seguida, alunos da 5ª série de um colégio particular, localizado no centro da cidade de Cuiabá, Mato Grosso, foram solicitados a produzir um texto sobre uma viagem espacial para a Lua, tema de um Projeto multidisciplinar desenvolvido pela escola. Na pesquisa com as crianças menores, tomando-se como tema central o Trabalho Infantil, no primeiro momento, todos leram e cantaram várias vezes a música “Criança não trabalha”, do Grupo Palavra Cantada; em seguida, participaram da discussão oral em torno do assunto e, finalmente, passaram para a produção escrita. Na pesquisa com as crianças maiores, cada aluno foi solicitado, primeiramente, a descrever verbalmente sua brincadeira favorita, e depois, através da escrita e do desenho. Aqui, as crianças foram estimuladas a produzir textos espontâneos sem que houvesse qualquer tipo de interferência por parte do professor no ato da escrita.
RESULTADOS:
RESULTADOS O corpus da pesquisa revelou a presença de diversos fenômenos da oralidade na escrita das crianças da Alfabetização, que estão relacionados à segmentação dos enunciados escritos (hipo e hiper-segmentação), à correspondência entre sons e letras (a representação das vogais nasais, dos fonemas laterais na posição de travamento de sílaba, do fonema vibrante no final de palavra, das formas do gerúndio, dos ditongos, rotacismo, vogais átonas finais e pretônicas), às discrepâncias ortográficas relacionadas a não-biunivocidade entre sons e grafemas (a grafia das vogais nasais, dos fonemas [∫ ], [3], [s], [z]). Em menor grau, os fenômenos também apareceram nos textos espontâneos dos alunos da 5ª série, e estes relacionavam-se à segmentação dos enunciados escritos (hipo-segmentação), à correspondência entre sons e letras (a representação das vogais nasais, dos fonemas laterais na posição de travamento de sílaba, do fonema vibrante no final de palavra, das formas do gerúndio e vogais átonas finais), às discrepâncias ortográficas relacionadas a não-biunivocidade entre sons e grafemas (a grafia dos fonemas [∫ ], [3], [s], [z]).
CONCLUSÕES:
CONCLUSÕES O estudo revelou, deste modo, que as crianças em fase de alfabetização já têm, ao chegar à escola, uma concepção acerca da escrita e que reconhecem traços, símbolos e desenhos que marcam a sua construção. Contudo, compreendem a escrita como uma transcrição da fala e, por isso, refletem suas intenções e opções através de um discurso marcado pela expressividade própria da linguagem oral. Tal fenômeno é explicado por Britton (1970) que afirma que a escrita caracteriza-se como uma “fala escrita” porque está muito ligada às atividades e ao mundo da criança e, por Abaurre (1985), que defende que a oralidade é o ponto de partida e que as crianças fazem hipóteses sobre a forma escrita de palavras novas a partir do que já conhecem da ortografia da língua. Assim, compreende-se a razão pela qual podem ser encontrados muitos fenômenos relacionados à oralidade na escrita espontânea de crianças em fase de Alfabetização. Contudo, ao observarmos que após alguns anos de escolarização, as marcas da oralidade diminuem, porém, não desaparecem, ou seja, após a apreensão de normas gramaticais e ortográficas ocorre a preservação de algumas marcas da oralidade no objeto escrito espontaneamente, isto permite-nos inferir que a produção da “fala escrita” perdura para além dos primeiros anos de escolarização e que aos 11 anos de idade, a criança ainda constrói textos escritos a partir de sua oralidade.
Palavras-chave:  ALFABETIZAÇÃO; ORALIDADE; ESCRITA.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004