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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura
O LEITOR DO SÉCULO XIX: RECONSTRUINDO CAMINHOS
Danuza Santos de Oliveira 1   (autor)   danuzas@hotmail.com
1. Departamento de Línguas Literaturas e Vernáculas, Universidade Federal do Pará - UFPA
INTRODUÇÃO:
A tematização da leitura congrega as condições em que, ao longo do tempo, a figura do leitor vem se desenvolvendo. Construir a História da Leitura no Brasil oitocentista é representá-la ou questioná-la a partir da linguagem em que se criam tais leitores. (LAJOLO & ZILBERMAN, 1999:17).
Percorrer a trajetória desse leitor em formação e de suas práticas de leituras apresenta alguns complicadores, em virtude de contar-se com pouca documentação que testemunhe sobre as leituras prediletas ou que livros existiam nas residências do século XIX. Sobre essa ausência de marcas Flora Sussëkind tece a seguinte consideração: “(...) esse “primeiro leitor” de ficção no Brasil parece ter apagado a própria pista. Nenhum bilhete, poucos dados. Poucos traços para esboçar-lhe um perfil (...)” (SUSSËKIND,1990:100-101)
Assim, para reconstruir este passado carente de fonte documental e contrapor os conceitos cristalizados que afirmam a pouca existência de leitores no século XIX, este trabalho desenvolve pesquisas em torno das descrições e citações das imagens de leitor e leitura, a partir dos textos literários, em prosa de ficção, obras memorialistas e dos textos críticos, materiais que nos permitem recriar a história.
A importância desta pesquisa reside, sobremaneira, no fato de contribuir para os estudos da História da Leitura e formar um registro documental, a fim de reconhecer, ainda que implicitamente, os livros que faziam parte do cotidiano dos leitores.
METODOLOGIA:
Como objeto de análise foram selecionadas duas prosas de ficção A Normalista (1893), de Adolfo Caminha; e Lésbia (1884), de Maria Benedita Bormann; romances publicados no Brasil na segunda metade do século XIX, bem como uma obra memorialista Memórias (1960), de Visconde de Taunay; que descreve as leituras feitas pelo autor que viveu nesta época, e a utilização de obras críticas resultantes de pesquisas já realizadas em torno deste problema, a saber: O Caminho dos Livros (2002), Márcia Abreu; A formação da leitura no Brasil (1996), de Marisa Lajolo & Regina Zilberman; Leitura de mulheres no século XIX (2002); de Maria Arisnete Câmara de Morais e A Formação do Romance Brasileiro: 1808-1860 (2002), de Sandra Vasconcelos.
A partir do estudo das obras supracitadas foi possível catalogar os nomes de autores e títulos de leituras citados e construir tabelas e gráficos de contrapontos entre as leituras citadas, com o intuito de reconhecer, através da investigação desses materiais, um possível panorama da leitura do século XIX.
RESULTADOS:
Como resultado teórico tem-se o entendimento do papel do leitor no Brasil do século XIX, em virtude deste período se caracterizar pela formação e fortalecimento de uma sociedade leitora, além de ser uma época de consolidação das produções nacionais. E como resultado prático, o levantamento das obras de leituras e escritores coletados a partir do corpus das prosas de ficção – romances e obras memorialistas-e dos textos de reflexão crítica.
Foram catalogados cerca de 500 nomes de escritores e 598 títulos de leitura. Os dados obtidos foram distribuídos em dois gráficos de percentual, um correspondendo ao nome de autores referidos e outro as obras referidas, afim de indicar os dados quantitativos correspondente a cada obra analisada.
CONCLUSÕES:
A partir da coleta de dados das obras literárias e críticas propostas, não há dúvidas de que no século XIX houve uma significativa circulação de obras literárias nacionais e estrangeiras, em virtude do aumento de livreiros e dos gabinetes de leitura, responsáveis pela difusão dos livros exercendo um papel importante de formadores e mediadores do gosto.
Em suma, esses textos possibilitaram uma investigação acerca dos leitores e de suas práticas de leitura e apontaram pistas das possíveis obras que eram lidas e que faziam parte das leituras particulares dos leitores do século XIX.
Por essa razão acreditamos que o conceito “da pouca gente que lê” que norteou a História do Brasil oitocentista é um dado pouco consistente, uma vez que somente no estudo aqui proposto, computou-se em torno de 500 nomes de autores e 598 títulos de leituras.
Instituição de fomento: Universidade Federal do Pará
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  leitor oitocentista; práticas de leituras; sociedade brasileira.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004