IMPRIMIRVOLTAR
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 2. Geografia Regional
SINOP: TERRITÓRIOS LUMINOSOS NA AMAZÔNIA MATOGROSSENSE
Vera Hiroko Okazaki Vieira 1, 2   (autor)   vera.hov@terra.com.br
Júlia Adão Bernardes 2, 3   (colaborador)   julia.rlk@terra.com.br
1. Departamento de Geografia - Universidade do Estado de Mato Grosso - Campus de Cáceres - UNEMAT
2. Programa de Pós-Graduação - Mestrado em Geografia - Universidade Federal de Mato Grosso- UFMT
3. Programa de Pós-Graduação em Geografia - Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ -
INTRODUÇÃO:
Um dos desafios que se coloca para o geógrafo é compreender a organização espacial como resultado de múltiplas interações, econômicas, políticas, sociais ou espaciais. Este estudo teve como objetivo verificar como os recursos técnicos incidem sobre os recursos físicos e humanos e como o espaço se reestrutura a partir das novas ações sobre o território. Implantada a partir de 1970, Sinop destaca-se como pólo de influência regional do meio-norte mato-grossense, aonde vêm se desenvolvendo novos processos de implantação de atividades agrícolas modernas, como a soja, ao longo do eixo da Br-163 e em expansão rumo ao porto de Santarém. A dinâmica da organização sócio-espacial se vincula à implantação de um sistema de objetos, criados a partir de certa intencionalidade e de ações sobre os objetos, resultando na intensificação dos fluxos. Em seu urbano, a luminosidade da região de Sinop representada pela lógica urbanística, manifesta-se nas amplas e modernas avenidas que interligam zonas comerciais, residenciais e industriais em contínua expansão. Sua principal função é servir de suporte às atividades agrícolas modernas. Nas áreas rurais, a força do capital tecno-científico-financeiro, quase sempre sob orientação das tradings, permite detectar as mais recentes técnicas na análise e tratamento do solo, na aplicação dos insumos agrícolas, no plantio direto, na recuperação de áreas de pastagens, entre outros, aplicados na produção de soja, algodão, arroz, milho, milheto e sorgo.
METODOLOGIA:
Nosso esforço se dirigiu para a compreensão da re-estruturação espacial da grande região de Sinop. Para tanto, em julho de 2003, uma saída a campo ao espaço urbano e rural de Sinop possibilitou comprovar e analisar in loco o dinamismo dos setores produtivos e a acelerada expansão urbana da região. Contatos informais com segmentos do setor do agronegócio, representados por autoridades do setor agropecuário e de órgãos públicos, possibilitou a coleta de informações quanto ao grau científico e tecnológico já introduzido pela modernização da agricultura na região.
RESULTADOS:
Foi constatado o avanço da soja na região, com base na utilização de elevado nível tecnológico, resultando em alto nível de rendimento. O problema na redução dos custos implica no redirecionamento do escoamento rumo norte pelo transporte intermodal rodovia e hidrovia, aproveitando rios amazônicos, viabilizando maior competitividade no mercado internacional encurtando distâncias e barateando custos. A sofisticação do aparato científico-tecnológico no espaço urbano e rural mostra a artificialização do tempo social sobrepondo-se aos da natureza, conectados ao mundo globalizado em plena Amazônia, exigindo a adequação da sociedade e do espaço. Mato Grosso, destaque entre os maiores produtores de grãos de soja do Brasil, enfrenta problemas de escoamento da produção para portos do sudeste e sul. As péssimas condições da BR 163 forçam a busca de eixos alternativos para saída desta nova frente pioneira da soja iniciada na década de 1990. Sob a batuta do mercado internacional, a reprodução capitalista financeira e especulativa é um eldorado que também atrai migrantes e re-migrantes prestadores de serviços e/ou de pequenos trabalhadores assalariados que se defrontam com maquinaria automatizada na arena reduzida da oferta de trabalho.
CONCLUSÕES:
O dinamismo da expansão urbana em Sinop impulsionada inicialmente pelas madeireiras, pelo cultivo de arroz de sequeiro em terras altas e pela pecuária, a partir de meados da década de 1990 vive um novo momento influenciado pelas inovações da ciência e tecnologia no campo, por sua vez estimulado pelo mercado e capital internacional. Informações colhidas junto a lideranças locais, mostram que a região quer destacar-se pelo diferencial de produção de soja não transgênica visando atender aos mercados europeus e asiáticos que fazem severas restrições quanto aos transgênicos. As vias de escoamento estão sendo restauradas graças ao convênio firmado entre o governo do estado, classe produtora regional e as tradings, o que possibilitará a saída da produção pelo porto de Santarém, favorecendo a redução de tempo e custos. Entretanto, a nova acumulação do capital leva também ao aumento da distância social entre os detentores do capital e a maioria da população. Esses espaços seriam mais luminosos se as sociedades conseguissem desenvolver espaços racionais que possibilitassem a distribuição da riqueza e a preservação do ambiente, uma vez que a natureza vem sendo subjugada às vontades do capital, embora a legislação ambiental exija a preservação de 80% na área amazônica. Para tanto, é preciso maior seriedade e responsabilidade dos poderes público e privado local, regional e nacional com relação às questões sociais e ambientais na Amazônia, neste novo eixo rumo sul do Pará.
Palavras-chave:  Território; Espaços luminosos; Agricultura Moderna.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004