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G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
ASPECTOS ONTOLÓGICOS DO TRACTATUS DE WITTGENSTEIN
Raimundo Portela Filho 1   (autor)   raimundoportela@bol.com.br
Carmem Almeida Portela 1   (colaborador)   cmportela@bol.com.br
1. Depto. de Filosofia, Universidade Federal do Maranhão - UFMA
INTRODUÇÃO:
Abordam-se aspectos da ontologia exposta por Wittgenstein no Tractatus Logico-Philosophicus, doravante denominado Tractatus. Procura-se evidenciar que não se deve interpretar a ontologia do Tractatus conforme os parâmetros da filosofia tradicional, pois não se está lidando com entidades irredutíveis e essenciais, mas com modelos, com esquemas de seres, ou seja, com formas puramente lógicas sem qualquer conteúdo, que não caracterizam seres, contudo possibilitam caracterizar formas de seres, de modo que, por exemplo, a noção de mundo no Tractatus não determina um mundo particular possível, porém um esquema de mundo, a saber, qualquer que seja o mundo de que se possa falar.
METODOLOGIA:
Realiza-se uma pesquisa bibliográfica alicerçada no Tractatus assim como em artigos e livros de outros filósofos e comentadores. Procede-se em duas etapas distintas com o propósito de examinar as teses ontológicas do Tractatus. Inicialmente, efetiva-se uma redução da complexidade contingente da realidade – o domínio dos fatos (Tatsachen) -, a um nível subjacente de fatos elementares ou atômicos (Sachverhalten), apresentados como os constituintes factuais últimos da realidade. Em seguida, parte-se desse nível atômico de complexidade e decompõe-se os fatos atômicos em seus constituintes mais simples, que o Tractatus denomina objetos (Gegenständen). Por último, formulam-se algumas conclusões fundamentadas na exposição efetivada.
RESULTADOS:
O mundo, como totalidade dos fatos reduz-se a uma rede de fatos logicamente independentes entre si, e que podem ser denominados fatos atômicos, por não conterem outros fatos como seus constituintes. Desse modo, para que a ocorrência de um fato seja logicamente independente da ocorrência de outro fato qualquer, os elementos que nele se articulam, e cuja existência ele pressupõe, não podem ser fatos. Dito de outro modo, para que a existência de um complexo seja logicamente independente da existência de qualquer outro complexo é preciso que todos os elementos que o compõem sejam simples. Definem-se complexos atômicos como articulações imediatas desses simples, de sorte que a vigência de tais articulações passa a ser a única condição de existência desses complexos, visto que a existência de tais constituintes simples não mais está ligada ao domínio da contingência, porém ao domínio da necessidade. Após se atingir o nível atômico de complexidade factual do mundo analisa-se esse nível em termos de combinações daquelas entidades absolutamente simples, a saber, os objetos. Na literatura concernente a essa problemática a primeira etapa é relativamente não polêmica, ao passo que a segunda etapa possui pontos com interpretações conflitantes.
CONCLUSÕES:
A abordagem ontológica do Tractatus não constitui somente um material introdutório a ser dialeticamente superado no transcorrer do livro, mas integra o seu sistema e reaparece mesmo em passagens mais avançadas da exposição como em 5.4711, em que o problema de estabelecer a essência da proposição conecta-se ao esclarecimento da essência do mundo. Em 4.0031 Wittgenstein define a filosofia como crítica da linguagem, o que possibilita que as conclusões obtidas no que tange à linguagem possam ser aplicadas, mutatis mutandis, à análise da estrutura do mundo. Isso é possível porque a teoria da figuração pressupõe que haja um paralelismo rigoroso entre a proposição e o fato que ela descreve. Salienta-se que no Tractatus a ordem da exposição não corresponde à da descoberta. Há uma inversão da ordem das razões, no sentido de que, ao invés de começar pela análise da proposição, Wittgenstein começa por um de seus resultados. É razoável sustentar que a razão principal para Wittgenstein haver decidido por tal inversão seja a estratégia argumentativa de caráter iniciático, de modo que somente ao final, após muito sofrimento purificador, o leitor seja conduzido a uma visão de mundo próxima daquela obtida por Wittgenstein. Certamente uma das maneiras de conseguir esse intento reside na inversão proposital da ordem da descoberta, fazendo com que o choque inicial provocado pelas proposições ontológicas estimule o leitor a descobrir as razões que justificam tais proposições.
Palavras-chave:  Wittgenstein; Tractatus; Ontologia.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004