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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 10. Educação Rural
EDUCAÇÃO RURAL COMO POSSIBILIDADE EMANCIPATÓRIA DOS SUJEITOS SOCIAIS NO CONTEXTO DO ASSENTAMENTO OURO VERDE - TOCANTINS
Zilmene Satana Souza 1   (autor)   zilmene@ulbra-to.br
Lourdes Lúcia Goi 1   (orientador)   luciagoi@uol.com.br
1. CEULP - ULBRA
INTRODUÇÃO:
Tendo presente que o Brasil ingressa no século XXI, integrado cultural, tecnológica e economicamente às sociedades pós-industriais, mas ao mesmo tempo comportando dentro de si realidades tão desiguais, motiva a investigar sobre as possibilidades e os desafios da educação para a população que vive em espaços rurais – assentamentos. Essa pesquisa considera a problemática que envolve a educação que, historicamente, foi negada ao povo brasileiro e especificamente na área rural, com a conseqüente negação da cidadania, isto é, da participação social, econômica e política. Objetiva investigar como o saber popular é levado em conta nos currículos e se estes contribuem para a emancipação dos trabalhadores rurais ou se omitem as experiências cotidianas vividas na área rural, impedindo a construção cidadã e o reconhecimento da identidade dos rurícolas, facilitando o controle e a marginalização. Busca esclarecer sobre a educação formal oferecida pelo sistema de ensino e educação alternativa através do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), no assentamento rural Ouro Verde em Araguatins, Tocantins, e como influenciam na reprodução da pequena agricultura familiar, enquanto ressignificação do saberes e conquista da sua emancipação, assumindo a sua identidade no meio rural.
METODOLOGIA:
Nesta primeira parte da pesquisa abordou-se preliminarmente a educação formal oferecida, através de entrevistas com assentados, professores e secretaria de educação municipal e a educação alternativa desenvolvida pelo PRONERA, através da análise de documentos e contatos informais com monitora e instituição promotora do programa. Para interpretação e conclusão dos dados colhidos nos servimos de bibliografias sobre o tema, destacando-se LEITE,1999; THEERRIEN e DAMASCENO,1993; SORJ e WILKINSON, 1984; GIROUX e SIMON, 1994; GOI,1995. Conferiu-se se a escola nega os valores e significações rurais ou contribui para que não ocorram rupturas relevantes concorrendo para a vivência da cidadania. Também investigou-se se ela leva em conta o saber social, explora o significado das ações e a relevância das relações, pois saber/educação “... se dá tanto na escola como no trabalho e na vida. Ou melhor, a educação na escola só é inteligível quando articulada à educação no trabalho e na vida, aos modos de inserção na produção social de diferentes classes e às suas organizações e ações coletivas” (Grzybowski, 1986: 51). Essa produção social é conseqüência da educação popular que se concretiza através da prática social do povo e não pela transmissão de conhecimentos, por possuir uma dimensão coletiva, pois buscam juntos a sua participação na sociedade, inaugurando uma nova busca democrática do saber, direcionados por um projeto sócio político.
RESULTADOS:
Quanto à educação formal, as pesquisas realizadas revelam a ausência de uma política educacional, falta de escolas, descaso com as poucas existentes, currículos descontextualizados, descaracterizando os saberes emergentes das experiências e do cotidiano das práticas sociais e produtivas. Este quadro aponta para a despreocupação com a inserção do pequeno produtor rural no processo de desenvolvimento capitalista, com o desafio do desenvolvimento rural sustentável e com as exigências do mercado agrícola cada vez mais tecnificado e globalizado, agregando o analfabetismo para empecilho de uma reforma agrária consistente. Quanto ao PRONERA, se propõe ao fortalecimento da educação de trabalhadores rurais jovens e adultos utilizando metodologias específicas para o campo que contribuem para o desenvolvimento rural sustentável. Metodologicamente esta educação/alfabetização está proporcionando relativas situações didáticas articuladas com a realidade social contextualizada suscitando a ressignificação do real. Infere-se que esse processo pode resultar em uma possibilidade de apropriação e produção de novos saberes e de emancipação pela inserção do sujeito no mundo letrado.
CONCLUSÕES:
A indiferença do Estado com a situação agrícola e educacional é sustentada por um modelo clientelista com tendência ao patrimonialismo. Ao se abstrair de sua função de garantir a educação básica para todos, impede o exercício da cidadania não viabilizando a reprodução da pequena agricultura familiar. A escola mantida precariamente adquire feições de simples instrumento de barganha das estruturas de poder local que representam o braço forte das oligarquias do estado. A posse dos saberes científicos a partir da consideração da cultura popular alteraria o ritmo da reprodução escolar e criaria espaços culturais de acesso a outros meios de produção, onde os atores sociais participariam como membros da transformação, o que não denotaria aprovação de quem é dominante e pretende controlar e marginalizar. Apesar deste descaso, constata-se por um lado que os assentados rurais produzem saberes promovendo modificações no processo de produção, podendo provocar uma possível modernização no Estado através de alternativas contra-hegemônicas, pois a pequena produção agrícola não é incompatível com o desenvolvimento tecnológico e econômico. Deduz-se que há possibilidade da cultura popular vir a ser incorporada no processo de escolarização, não integrante apenas de um roteiro de conteúdos, mas como um saber autônomo reflexivo, crítico e que fundamente um currículo emancipador, sendo o PRONERA uma possibilidade real de realização nesta perspectiva.
Instituição de fomento: PROICT
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Educação rural; Assentamentos rurais; Educação emancipatória.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004