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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
O EXERCÍCIO DE OPERAÇÕES DE PENSAMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE APRENDIZAGEM INDEPENDENTE
NELLY MOULIN 1   (autor)   nmoulin@attglobal.net
VILMA PEREIRA 1   (autor)   pereirav@infolink.com.br
1. MESTRADO EM EDUCAÇÃO - UNIVERSO
INTRODUÇÃO:
A Educação a Distância exige pré-requisitos relacionados com o aprendiz que deve ser sujeito de sua aprendizagem; responsável e capaz de realizar trabalho independente. Para Belloni (1999), “este modelo de aprendizagem é apropriado a adultos com maturidade e motivação necessárias à auto-aprendizagem e possuindo um mínimo de habilidades de estudo” (p.40). Estudos de Renner, Paul, Walker e Marsden, (apud Belloni), realizados em diferentes realidades indicam que o aluno típico de EAD não tem esse perfil e realiza uma aprendizagem passiva. Tais resultados levam a uma séria questão: é preciso assegurar que o perfil do aluno à distância corresponda ao ideal de indivíduo autônomo, capaz de auto-regular sua aprendizagem. Uma medida adequada seria proporcionar ao aluno ferramentas apropriadas para desenvolver autonomia e tornar-se apto a realizar estudos independentes. Lipman (1995) conceitua autonomia como o pensar por si próprio, emitindo seus próprios julgamentos e não repetindo simplesmente o que ouve ou lê. Relevante investigar se o desenvolvimento de operações de pensamento como observação, comparação, raciocínio, análise, síntese, julgamento, crítica, entre outras constitui o caminho para a construção da autonomia. Sendo assim, este estudo tem por objetivo identificar a percepção de alunos de cursos a distância sobre os efeitos do exercício de operações de pensamento e orientação para aprender a aprender na formação de autonomia da aprendizagem.
METODOLOGIA:
O estudo de natureza qualitativa foi realizado em três etapas: levantamento de dificuldades; aplicação de exercícios de operações de pensamento; sondagem dos resultados. Participaram do estudo professores matriculados em dois cursos de EAD, nos Estados do Espírito Santo e no Rio de Janeiro. Os resultados do levantamento de dificuldades indicaram que os professores receberiam com bastante entusiasmo os exercícios e a orientação, assim como permitiram identificar dificuldades técnicas de aprendizagem, que imediatamente foram assimiladas e serviram de orientação e elaboração de estratégias para aprender a aprender. A segunda etapa constou da aplicação de uma série de exercícios e estudos de casos voltados para o desenvolvimento das operações de observação, comparação, descrição, análise, síntese, raciocínio, julgamento, crítica, além de técnicas de leitura textual e interpretativa, resumo e síntese de leituras. Na terceira etapa, foram realizadas entrevistas constando de uma questão geradora aberta indagando sobre a percepção dos alunos sobre os efeitos dos exercícios realizados.
RESULTADOS:
A maioria dos entrevistados declarou ter obtido bons resultados com a prática dos exercícios e alguns afirmaram ter atingido um estágio em que passaram a utilizar muito pouco o recurso de tutoria. Cerca de 20% dos entrevistados alegou falta de tempo e declarou ainda não ter percebido os efeitos dos exercícios para a construção de sua autonomia e que permaneciam as dificuldades para estudo independente. Entre os depoimentos sobre os efeitos positivos destacamos:
“ ler, escrever, interpretar, avaliar e transformar se tornaram objetivos prioritários para mim”
“ Consigo ter uma visão mais crítica sobre o objeto de estudo.
“Consigo elaborar pensamentos e argumentações claras e coerentes as quais dão sustentação aos meus trabalhos”.
‘Os exercícios mostraram os caminhos para organizar a reflexão. Destaco a oportunidade de produzir análise de casos”
“Os exercícios ajudaram propiciando maior segurança na construção de autonomia de pensamento.”
Nos depoimentos, constatamos que os alunos desenvolveram maior habilidade em pesquisas, na construção de trabalhos científicos, especialmente quanto às operações de análise, síntese, crítica, argumentação e discussão. Em diversas falas, foi evidenciada a melhoria da capacidade de organização de trabalhos científicos. Entre as melhorias apontadas estão a objetividade e clareza, capacidades de manter argumentação bem fundamentada nas considerações sobre resultados e nas conclusões dos trabalhos em diferentes disciplinas.
CONCLUSÕES:
Resultados analisados indicam efeitos positivos no desenvolvimento de habilidades de pensamento e na formação do aluno capaz de aprendizagem independente. Os depoimentos apontam em vários sentidos positivos: criação do hábito de leitura proveitosa, i. é, realizada com a devida técnica e com resultados satisfatórios. Valorização dos exercícios como instrumento de aprendizagem. Desenvolvimento consciente da reflexão crítica, de habilidades de pensamento e de autonomia de raciocínio.Os resultados permitem concluir que uma forma de obter maior rendimento de aprendizagem consiste em iniciar os cursos ministrados com metodologia EAD propondo o que Lipman chama de “modelo reflexivo”, i. é, para ele, através de atividades que desenvolvam operações de pensamento, o aluno estaria atingindo a autonomia na aprendizagem. Essa prática leva à formação da autonomia exigida do aluno de EAD, aquele capaz de pensar por si próprio, emitindo seus próprios julgamentos e não repetindo simplesmente o que ouve ou lê. Tais resultados animam a continuidade do trabalho que vimos realizando e ampliação da presente pesquisa para outras realidades.
Palavras-chave:  operações de pensamento; aprendizagem autônoma; aprendizagem independente.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004