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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
O SABER TRADICIONAL SOBRE A FAUNA TERRESTRE LOCAL E SUA TRANSMISSÃO ENTRE A POPULAÇÃO DA COMUNIDADE RETIREIROS DO ARAGUAIA:LUCIARA-MT.
Regisnei Aparecido de Oliveira Silva 1   (autor)   dead@unemat.br
Germano Guarim Neto 1   (orientador)   gguarim@terra.com.br
1. Instituto de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso
INTRODUÇÃO:
O Bioma cerrado ocupa uma posição de destaque entre as formações florestasi existentes em Mato Grosso. Além de uma fauna e flora característica, o cerrado se destaca pela diversidade cultural dos povos que o habitam e o conhecimento que esses povos tem sobre o ambiente local. Esse conhecimento, transmitido de geração em geração num processo de educação informal, é fundamental para manter as características culturais desses povos garantindo assim o seu sustento e a conservação do ambiente natural.
METODOLOGIA:
A realização deste estudo se deu no município de Luciara, localizado na região Norte-Araguaia do Estado de Mato Grosso 11° 05’ 25” S e 50° 37’49” N. A comunidade aqui estudada é composta por 40 famílias, sendo denominada “Comunidade dos Retireiros do Araguaia”. O termo retireiro deriva da palavra retiro que na linguagem regional é o local onde se cria e cuida do gado. Esta comunidade se caracteriza por desenvolver uma atividade peculiar para a região que é a criação e manejo de gado em pastagens nativas à margem esquerda do Rio Araguaia. Este trabalho teve como objetivo a verificação do processo de transmissão de conhecimento sobre a fauna local por uma comunidade tradicional denominada Retireiros do Araguaia. Para obtenção dos dados foram selecionadas aleatoriamente 10 famílias das quais foi entrevistado 01 membro de cada família. A entrevista foi semi-estruturada com o auxílio de gravador.
RESULTADOS:
A maioria dos entrevistados atribui aos pais, avós ou pessoas mais velhas da comunidade, o ensinamento sobre as espécies e utilização dos animais nativos, seja na alimentação, medicina ou em rituais. Dentre os animais mais utilizados na alimentação destacam-se a anta (Tapirus terrestris), capivara (Hydrochaeris hydrochaeris ), tatu ( Dasypus novemcinctus), tartaruga (Podocnemis espansa), tracajá (Podocnemis unifilis), jaó (Crypturellus noctivagens), galinha d’água (Gallinula chloropus) e perdiz (Alectoris rufa). Para fins medicinais destacam-se a arraia (Polamotrygon laticeps), tatupeba (Euphractus sexcintus), jibóia (Scindapsus aureus ), cascavel (Crotalus durissus), jacaré( Caiman sp) e tartaruga (Podocnemis espansa ). A utilização de animais em rituais não foi apresentada por nenhum entrevistado, embora afirmaram que muitas pessoas utilizam animais inteiros para fazer “feitiço” como o sapo (Bufo ictericus) que é utilizado para fazer mal a alguém, ou parte de animais para atrair sorte como o olho de boto (Sotalia fluviatilis), que, de acordo com os entrevistados, quem anda com um olho de boto vive cercado de mulheres bonitas. Para os entrevistados este conhecimento não é ensinado na escola e sim aprendido nas relações do dia-a-dia entre as pessoas da comunidade.
CONCLUSÕES:
Observou-se que a população estudada possui um profundo conhecimento sobre a fauna local e desenvolve uma relação harmoniosa com esses animais. Outro fato importante é que a maior quantidade de citações ocorreram entre as pessoas mais velhas, advindo delas a preocupação em conservar as espécies nativas, pois acreditam ser importante para a sobrevivência da comunidade.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  saber tradicional; fauna; cerrado.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004