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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
MÍTICA PANTANEIRA NUMA REPRESENTATIVIDADE SOCIAL
Roberta Moraes Simione 1   (autor)   roberta@cpd.ufmt.br
Dolores Watanabe 1   (autor)   dolores@cpd.ufmt.br
Michèle Sato 1   (orientador)   michele@cpd.ufmt.br
1. Instituto de Educação -Universidade Federal de Mato Grosso- UFMT
INTRODUÇÃO:
Alguma vez já lhe ocorreu de chaves sumirem e posteriormente aparecerem em lugares onde você nunca imaginaria lá encontrar? Ou então objetos caírem no chão sem motivo aparente? E aquele livro que agorinha mesmo estava na sua frente ... onde está? Quem, morador da cidade ou do campo, já não contou ou ouviu histórias como essas, as quais recorremos muitas vezes a ... São Longuinho, São Longuinho, se você encontrar minha moeda, eu lhe darei três pulinhos? Em comunidades rurais, como as do Pantanal Mato-grossense, histórias como estas compõem o saber regional e alimentam de emoções, sejam elas alegres ou assustadoras, a vida de muitos indivíduos. Um conhecimento que nasce do contato com a natureza, de pessoas de vida simples e humilde. Do contato com a terra, das conversas sem compromisso ao redor da fogueira, em noites de lua cheia. Experiências de vida que se traduzem em um mundo encantado, projetado na esperança de um mundo melhor, feliz e harmonioso. Inseridas numa perspectiva ambiental, estas histórias fazem parte de uma rede de conceitos sócio-culturais. É nesta perspectiva que este trabalho, através dos relatos orais, objetiva registrar “causos”, lendas e “assombrações” presentes no imaginário da comunidade pantaneira localizada no entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural, SESC Pantanal, no município de Barão de Melgaço - MT.
METODOLOGIA:
Para obtenção dos dados foi utilizada a metodologia da História Oral com entrevista informal, semi-estruturada e observação participativa com a utilização de instrumentos fotográficos, gravadores e bloco de notas para o registro das informações. Como metodologia de investigação cientifica, fonte de pesquisa ou técnica de produção e também tratamento de documentos, a História Oral se constitui por um conjunto sistemático e diverso de depoimentos registrados em torno de um tema. Esta metodologia se faz presente, como uma forma de dar voz a pessoas que pouco ou nada deixaram de registros escritos, ficando sua história para ser escrita por posteriores gerações. Esta história não se interessa por somente informar. Mas como narrativa de acontecimentos e experiências, possibilita que o ouvinte transporte-se para um contexto histórico já passado intermediando, entretanto, a diversidade de vida e de mundo entre o depoente e narrador. Considera-se assim, que esta metodologia não se constitui por preencher lacunas de documentos escritos e iconográficos ou informações inéditas contemporâneas, mas por uma postura em relação uma história que privilegia o registro do vivido por pessoas que a vivenciaram.
RESULTADOS:
Verificou-se a presença de lendas do “Pé-de-garrafa”, bicho alto e cabeludo que mora na mata, com apenas um pé com formato de fundo de garrafa, que pega e come homens. Defensor dos animais assim como imitador de seus sons e assustador com o seu grito, é comum nas matas dos tempos já passados. Mesmo que nunca tenha sido visto, ainda hoje amedronta pessoas. Outro ser fantástico, também muito conhecido, é o “Minhocão”, monstro que lembra uma sucuri, morador de águas profundas. Diz a lenda que afunda barcos, derruba barrancos e árvores. Caso jogue no rio uma cabeça de porco quando o mesmo está trabalhando, o bicho com raiva, a joga de volta, porém destruindo tudo que na frente encontra. História também muito conhecida é a do “Negrinho d’água”, moleque pretinho que habita as águas pantaneiras, com espírito travesso retira iscas de anzóis e vira barcos. Nas comunidades biorregionais, comuns entre os antigos são também as “visagens”, podendo ser luz que aparece e desaparece na escuridão, ou seres míticos como a “Mãe d’água”, mulher branca e nua, de cabelos negros, que aparece em beira de barranco ou no meio do rio, para atrair, seduzir e afogar homens.
CONCLUSÕES:
Neste trabalho verificou-se que a água é um elemento bastante representativo e equilibrador no imaginário pantaneiro. O estímulo à memória permite-nos que reflitamos sobre a potencialidade do imaginário, ou seja, a cultura regional, de maneira que compreendamos a diversidade humana existente no presente que, entretanto, não está ausente.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Educação Ambiental; mitopoética; cultura regional.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004