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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
O CONCEITO DE ÁTOMO EM LIVROS DIDÁTICOS DE CIÊNCIAS DO ENSINO FUNDAMENTAL E DE QUÍMICA DO ENSINO MÉDIO E ENSINO SUPERIOR
Roberto Santos Barbiéri 1, 2   (orientador)   barbieri@faminas.edu.br
João Paulo Teodoro de Souza 4   (autor)   crico@unincor.br
Daiana Samara de Carvalho 4   (autor)   crico@unincor.br
Gláucia Helena Oliveira Silva 4   (autor)   crico@unincor.br
João Paulo Borges 4   (autor)   crico@unincor.br
José Roberto Ferreira Filho 4   (autor)   crico@unincor.br
José Romeu Ferreira 4   (autor)   crico@unincor.br
Juliana Pereira de Souza 4   (autor)   crico@unincor.br
Maria Alice Abranches 1, 2   (co-orientador)   mariaalice@faminas.edu.br
Valdenir José Belinelo 1, 5   (co-orientador)   belinelo@uol.com.br
1. Faculdade de Minas, FAMINAS, Muriaé/MG
2. Programa de Mestrado em Biotecnologia, UNINCOR, Três Corações/MG
3. Programa de Mestrado em Educação, UNINCOR, Três Corações/MG
4. Curso de Graduação em Química, 5o período, UNINCOR, Três Corações/MG
5. Rede Pitágoras, Belo Horizonte/MG
INTRODUÇÃO:
Para a divulgação da ciência e da filosofia, existem textos no mercado que, apesar de simples, servem de referência para quem não é erudito na área. É o caso das obras do inglês Paul Strather, publicadas pela Jorge Zahar, que são “O sonho de Mendeleiev” e duas séries de biografias “Filósofos e Cientistas em 90 minutos”, com mais de 30 títulos. Mesmo com referências como essas, parece não haver, nas últimas décadas, uma preocupação com a melhoria do padrão didático-pedagógico dos textos didáticos de Química utilizados do Ensino Fundamental ao Superior.
Na maioria dos textos estudados, tem-se a impressão que a evolução da teoria atômica da matéria se deu em saltos históricos, quando alguém imaginava alguma coisa. E mais: quase todos os textos fazem referências incorretas aos conceitos de átomos na Grécia Antiga, em cerca de 400 a.C. E mais, indicam que o conceito só ressurge com Dalton, em 1808, afirmando que o cientista inglês retoma o pensamento grego, com base em experimentos por ele realizados. Entre os gregos e a modernidade, muito se discutiu sobre o tema, inclusive Descartes, em 1658, que, curiosamente “dera ensejo ao mecanicismo não-atomístico e considerara impossível a própria noção de átomos” (Abbagnano, N. Dicionário de filosofia. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.).
Neste trabalho, nos preocupamos como o conceito de átomo vem sendo apresentado em livros didáticos desses níveis, na perspectiva histórica e na perspectiva de uma abordagem consistente.
METODOLOGIA:
Para a realização do presente trabalho, foram considerados três textos didáticos de ciências da oitava série do Ensino Fundamental, oito textos do Ensino Médio e seis textos do Ensino Superior. Entre os textos do Ensino Médio, considerados dentre aqueles mais utilizados em escolas brasileiras, em duas situações, foram escolhidos o livro empregado na primeira série e o livro conhecido como “volume único”, que engloba todo o conteúdo do nível. Entre os textos de ensino superior, incluíram-se dois livros “antigos” (Ostwald, W. Éléments de chimie inorganique. Paris: Gauthier-Villars, 1913 - Texto 1; e Pauling, Linus. Química General. Madrid: Aguilar, 1960. - Texto 2, além do moderno Atkins, Peter; Jones, Loretta. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. Porto Alegre: Bookman, 2001 - Texto 3. Também foram utilizados os textos de filosofia e de divulgação em Química de Strathern, já citados - Textos 4; Pessanha, J. A. M. (cons.) Os pré-socráticos. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996. - Texto 5; Chemical Educational Material Study. Química. São Paulo: EDART, 1976. - v. 1 a 3 + manuais - Texto 6.
A análise e comparação dos textos se deram sob um ponto de vista qualitativo, levando-se em consideração os aspectos conceituais, o sequenciamento dos conteúdos e o modo de contextualização do tema.
RESULTADOS:
Em geral, a idéia de átomo nos livros didáticos é que os gregos antigos o admitiram, e só em 1808 é que “o cientista inglês John Dalton, com base em inúmeras experiências, conseguiu provar cientificamente a idéia de átomo. Surgiu então a TEORIA ATÔMICA CLÁSSICA da matéria. Segundo essa teoria, quando olhamos, por exemplo, para um grãozinho de ferro, devemos imaginá-lo como sendo formado por um aglomerado de um número enorme de átomos de ferro.” (Feltre, R. Fundamentos de química: volume único. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996).
A hipótese de Dalton aparece em outro texto como “os diferentes elementos químicos seriam constituídos por átomos diferentes e cada tipo de átomo seria caracterizado por um peso atômico”, numa argumentação truncada e até dúbia (Mortimer, E. F.; Machado, A. H. Química para o ensino médio. São Paulo: Scipione, 2003).
Em outro texto, os autores, após afirmarem que “diferentes elementos químicos, submetidos a uma chama, produziam cores diferentes”, e, sem conexão, que “o estudo da luz conseguida dessa maneira permitiu a obtenção dos chamados espectros descontínuos, característicos de cada elemento. A cada cor desses espectros foi associada certa quantidade de energia”. Depois, de forma desconexa, afirmam que, “em 1913, Niels Bohr (1885-1962) propôs um novo modelo atômico, relacionando a distribuição dos elétrons na eletrosfera com sua quantidade de energia”. (Usberco, J.; Salvador, E. Química: volume único. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2002).
CONCLUSÕES:
Nos textos de Ensino Fundamental e Médio sob estudo não existe conceituação de átomo. E quando há, está errada. Parece que não há, por parte dos autores, preocupação com o entendimento (se é que é possível havê-lo) que os leitores fazem de seus escritos empastelados e imprecisos. Na leitura desses textos e em alguns do Ensino Superior, a questão de átomo se parece com uma história que é recontada sucessivamente para várias pessoas e que, depois de algumas transmissões, o sentido passa ser outro completamente diferente.
Precisamos retomar a qualidade de escrita como a do Texto 1, de uma época em que os modelos atômicos modernos ainda não haviam sido sugeridos e que era possível passar a idéia de uma química básica. Ou da forma concisa e elegante do Texto 2, em que Pauling, em cerca de meia página, traça uma idéia extremamente coesa e centrada da estrutura atômica da matéria e da natureza dos átomos. É necessária uma cultura filosófica, conseguida com obras do tipo dos Textos 4 e Texto 5. E quem sabe, redescobrirmos material didático de ótima qualidade como o saudoso Texto 6. E cabe lembrar que há, também, obras de qualidade, como Texto 3.
Instituição de fomento: UNINCOR e FAMINAS
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Átomo; Ensino de Química; Ensino de Ciências.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004