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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
PRÁTICAS TRANSGRESSIVAS DE JOVENS DA CLASSE MÉDIA: UMA ABORDAGEM SÓCIO-EDUCATIVA
Maria Aparecida Morgado 1   (autor)   morgadom@terra.com.br
Manoel Francisco de Vasconcelos Motta 1   (autor)   mmotta@cpd.ufmt.br
1. Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
INTRODUÇÃO:
Com freqüência práticas transgressivas de jovens da classe média são interpretadas como decorrentes de transtornos emocionais, como descaminhos educacionais da ordem de uma crise nos valores. Esse tipo de abordagem não corresponde à complexidade do fenômeno. Ao contrário, a transgressão juvenil requer um enfoque político-pedagógico. Desde 1950, a juventude da classe média ocidental vem sendo associada a comportamentos vinculados à transgressão, tornados mais ou menos visíveis pelos veículos de comunicação. Até então focalizada como prática de jovens oprimidos, com a intensificação do processo de modernização urbana e industrial a transgressão também passa a ser vinculada aos jovens da classe média brasileira. Em termos gerais, depois das mobilizações estudantis e das manifestações pacifistas e contraculturais das décadas de 1960 e 70, da desmobilização político-cultural dos anos 1980, a transgressão adquire dimensão de grave problema social nos anos 90: não há necessidade ou causa aparente que explique a participação de jovens da classe média em crimes contra o patrimônio e em crimes contra a vida.
METODOLOGIA:
O quadro teórico-metodológico fundamentou-se na tradição da pesquisa de abordagem qualitativa. O parâmetro de avaliação do rigor considerou a relação entre os conceitos e os fatos observados. O aprofundamento da teoria foi pressuposto da análise. A pesquisa desenvolveu-se em duas grandes atividades: a primeira, centrou-se no levantamento de estudos da bibliografia que fundamentou a produção de um ensaio teórico que teve por finalidade ancorar o trabalho de orientação dos mestrandos e da Iniciação Científica; a segunda atividade centrou-se na orientação de dissertações de mestrado e de bolsistas de Iniciação Científica.
RESULTADOS:
Nos meios acadêmicos brasileiros predominam pesquisas sobre a juventude das camadas populares. Questões relativas à classe média e à transgressão juvenil vêm sendo colocadas pela intelectualidade européia e norte-americana há meio século. Históricos traços culturais da sociedade capitalista contemporânea, que também se estruturam na sociedade brasileira, ficam mais evidenciados na implantação do modelo neoliberal. A nova faceta do capitalismo não apenas isenta o Estado da função de regulação da sociedade, como também deixa a mediação antes exercida pelas instituições socializadoras tradicionais por conta da mesma auto-regulação. O fenômeno corresponde à prevalência da vertente histórica do liberalismo que rechaça todo tipo de limitação e regulação dos interesses do mercado sobre a vertente histórica do liberalismo representada pela cultura iluminista de civilização. A aparente flexibilização dissimula uma pluralidade de controles mais severos e eficazes advindos de todas as direções. Isso se dá no sentido inverso àquele em que, retirado de sua natureza biológica, o indivíduo foi introduzido na história das relações que engendram a sociedade humana.
CONCLUSÕES:
Esse funcionamento social sustentado na dissimulação dos controles facilita o caminho para práticas anticivilização porque se baseia em normas aparentemente reguladas por forças naturais contra as quais nenhuma intervenção humana é possível. Para os jovens, a inexistência de mediações e o progressivo afrouxamento das relações parecem resultar numa vivência cujo impacto é aterrador. Submetidos a um jogo no qual as regras mutantes nunca são conhecidas, quais horizontes têm pela frente? Em vez de apontar para uma crise de valores, o contexto considerado revela que a transgressão juvenil na classe média brasileira está sintonizada ao esgotamento civilizatório das propostas sócio-educativas burguesas. Tais propostas ascenderam e se globalizaram em contraposição ao ideário burguês ocidental predominante no período iluminista, que enfatizava a universalização dos valores democráticos de liberdade, igualdade e fraternidade.
Instituição de fomento: CAPES/CNPq
Palavras-chave:  Educação; Juventude; Transgressão.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004