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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 8. Psicologia do Trabalho e Organizacional
SAÚDE, TRABALHO E EDUCAÇÃO: CONSTRUINDO UMA ÉTICA DE PESQUISA
Fabio Hebert da Silva 1   (autor)   fabiohebert@hotmail.com
Maria Elizabeth Barros de Barros 1   (orientador)   Profa. Dra. / betebarros@uol.com.br
1. Depto. de Psicologia, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
INTRODUÇÃO:
A pesquisa consistiu na construção coletiva de estratégias que potencializem o trabalho real dos educadores na rede municipal de Vitória, que se efetiva através da renormatização da atividade prescrita; e para que isso pudesse ser possível, foi necessário uma aposta renitente, não só na metodologia científica e na ética que nortearam as intervenções na escola, mas também na história construída por aqueles trabalhadores, que trazem as marcas das adversidades estampadas em seus corpos.
Para atingir os objetivos propostos- tais como a analise dos efeitos das políticas públicas de educação na saúde do trabalhador; o mapeamento através da aplicação de questionários sobre as condições de trabalho dos docentes; a construção com os trabalhadores de estratégias de transformação das situações adoecedoras  foi necessário a insistência em três pontos: a história construída pelos trabalhadores, o saber científico (conceito) e a ética(articulação entre o saber científico e a história de vida dos trabalhadores).
A luta por esta saúde, por melhor qualidade de vida no trabalho do educador, é uma busca constante por metodologias e espaços onde o questionamento de exercícios cotidianos tenha efeitos práticos na vida dos trabalhadores.
METODOLOGIA:
Levando-se em consideração os modos como os trabalhadores relacionam-se com o seu próprio trabalho optou-se pela utilização do material teórico-metodológico da Ergologia: o Dispositivo à Três Pólos, que consiste na construção de novos modos de funcionamento coletivo, levando-se em consideração o saber da ciência, o saber construído pelo trabalhador e a ética que permite a articulação entre o saber científico e a experiência do trabalhador. A Vivência Institucional permitiu o mapeamento das relações que compõem o cotidiano escolar e a Análise Coletiva do Trabalho pretendeu o questionamento das significações hegemônicas do trabalho. A partir da análise ergológica do trabalho, buscou-se investigar os altos índices de adoecimento dos docentes e também as condições reais de trabalho dos profissionais da educação. A pesquisa do perfil epidemiológico dos trabalhadores em educação das escolas públicas foi possibilitada pela aplicação de questionários nas escolas da rede municipal de Vitória. A tabulação dos dados obtidos foi realizada com o auxílio do programa estatístico spss 8.0 for Windows. A partir da aplicação dos questionários foi traçado um perfil das condições de trabalho dos docentes. Os dados obtidos são ainda o tema de discussão por parte dos trabalhadores e utilizados como articuladores entre a história do trabalhador e o saber científico na luta por melhores condições de trabalho.
RESULTADOS:
Os resultados obtidos a partir da pesquisa do perfil epidemiológico revelam uma situação preocupante. A organização do trabalho nas escolas está marcada por uma forma de funcionamento adoecedora para o trabalhador, o que dificulta sobremaneira a criação de novas estratégias para que o trabalhador lide com a infidelidade do meio. É importante ressaltar que a pesquisa não verificou somente aspectos que causam o adoecimento do trabalhador, mas foi capaz de constatar o trabalho sendo constituído por uma dimensão inventiva, que se atualiza nas estratégias construídas pelos trabalhadores para dar conta do trabalho prescrito, de acordo com tal ou qual modelo pedagógico. As falas, muitas vezes, anunciam não só os sentidos da organização do trabalho, mas também, um certo desânimo, efeitos das políticas públicas, situações adoecedoras, desespero por não saber mais o que fazer, lutas cotidianas, indignações, estratégias para promoção de saúde. Em outra esfera, é possível perceber como resultado da análise dos dados, o descaso da Secretaria de Educação com relação à saúde do trabalhador e sua relação direta com a impotência descrita pelos trabalhadores frente às atrocidades cometidas em nome de um modelo pedagógico democrático. A impotência se mostra como reclamação e muitas vezes é narrada como a única forma permitida de contestação.
CONCLUSÕES:
Torna-se evidente a necessidade de implementação de políticas públicas que levem em consideração as particularidades do trabalho dos educadores. Se os projetos políticos são construídos sem a participação efetiva dos trabalhadores provavelmente estão condenados a funcionar como um paliativo, prova disso pode ser o grande número de educadores em sua faixa etária onde se esperaria uma capacidade produtiva máxima, apresentando-se com algum transtorno. Mas a atividade real do trabalhador também revela um outro movimento, de renormatização, criação de novas normas, possibilitando a superação das dificuldades que se constituem no próprio momento da atividade. Novas regras são criadas, incessantemente. Ninguém consegue trabalhar exatamente como ordena uma prescrição. A ação robotizada da professora, é frágil, ela pressente que o tempo lhe está sendo roubado, sabe que algo não está certo, mas não sabe como mudar. O problema aqui não é saber o porquê, o motivo, não é falta de conhecimento que deixou de ser absorvido pelo trabalhador no momento da sua formação, mas o modo, o como essa formação acontece, como a história se processa. A análise da relação entre saúde, trabalho e educação é exatamente a construção coletiva de estratégias de ações que promovam e mantenham a luta por melhor qualidade de vida do trabalhador, o que implica, necessariamente, abertura para o risco. A luta por saúde é uma luta política, daí a importância da criação de espaços coletivos de discussão, onde experiências e estratégias possam ser compartilhadas para a construção de um caminhar ético.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  saude; trabalho; educação.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004