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H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 1. Língua Portuguesa
O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E AS NOVAS TECNOLOGIAS - PERSPECTIVAS PARA UM ENSINO DEMOCRÁTICO
Antônio de Pádua Dias da Silva 1, 2, 3   (autor)   paduajew@bol.com.br
Waldívia de Macêdo Oliveira 4, 5   (autor)   waldiviavasconcelos@bol.com.br
1. Prof. Dr. do Depto. de Letras e Artes da Universidade Estadual da Paraíba - UEPB
2. Pesquisador do CNPq
3. Prof. Centro de Pós-Graduação da Universidade Estadul da Paraíba - UEPB
4. Graduanda do Curso de Letras pela Universidade estadual da Paraíba - UEPB
5. Bolsista do PIBIC/ CNPq/UEPB
INTRODUÇÃO:
Desde que novas tecnologias da informática e da informação foram anunciadas como transformadoras de pensamento em tempos e espaços contemporâneos que os sujeitos culturais vêm tentando adaptar as sociedades aos novos mecanismos de comunicação que são desenvolvidos para melhorar a performance dos atores sociais em suas áreas específicas de atuação, pois as novas formas de ler e interpretar o mundo, bem como de criar e adaptar-se a ele, exigem dos que estão inseridos nesse contexto a consciência de que as antigas formas de viabilizar produção de conhecimento e sustentação de discursos são permutadas ou trabalhadas em paralelo com as tecnologias oriundas diretamente do campo da informação e da informática. Hoje, novas tecnologias são criadas/desenvolvidas em vários contextos socioculturais e espalhadas pela sociedade global, mas o acesso a tais informações e bens não chega ao domínio de todos os que são envolvidos por essa produção de conhecimento.
Assim, o objetivo desta pesquisa foi analisar conteúdos didáticos e pedagógicos da área de língua portuguesa, em dez escolas da cidade de Campina Grande, e verificar até que ponto os conteúdos abordados em livros didáticos e aulas preparadas por professor viabilizam uma discussão crítica na qual fosse possível discutir novas funções dos sujeitos que são formados no contexto das novas tecnologias e as possibilidades de tais sujeitos poderem ser inseridos no mercado de trabalho a partir dessa base de formação.
METODOLOGIA:
A pesquisa ora em discussão foi realizada entre fevereiro e dezembro de 2003. Neste período, foram coletados dados que serviram de amostras para a leitura direcionada para a problemática e respectivos objetivos da pesquisa. Dessa forma, dez escolas da cidade de Campina Grande/Paraíba, dos ensinos fundamental e médio - cinco particulares e cinco públicas - serviram como locus de coleta de dados. Na coleta de amostras foram utilizadas as técnicas de questionário, respondido pelos informantes, e entrevistas informais que tinham dados anotados a partir do momento que os pesquisadores observavam pontos importantes para a pesquisa. Foram consideradas, nesta pesquisa, categorias teóricas que balizaram a fundamentação teórica do estudo como sujeito, postulada por Doel (1996), tecnologia, segundo a concepção de Lévy (1993), pedagogia e pós-humano, na esteira de Silva (2000) e Haraway (1991). Após a coleta de dados, que aconteceu na seqüência em que o ano letivo nas escolas foi estruturado e que consistiram em questionários escritos, anotações de entrevistas informais e cópia de conteúdos de livros didáticos adotados pelas escolas, passou-se a analisá-los de acordo com as categorias teóricas citadas. As entrevistas foram feitas diretamente no ambiente de trabalho/estudo de alunos/professores, pois foram coletados dados tanto de professores (também coordenadores de áreas) como de alunos, que colaboraram com os pesquisadores.
RESULTADOS:
Os resultados da análise de dados a que se chegou permitiram aos pesquisadores perceber que a abordagem de conteúdos que envolvam o assunto tecnologia nas aulas de língua portuguesa em escolas particulares e públicas da cidade Campina Grande/Paraíba não é prioridade dos profissionais envolvidos em tais práticas, a saber, professores, coordenadores de área/pedagógico, bem como a própria filosofia curricular que estrutura os ensinos fundamental e médio dessas instituições. Dos livros didáticos analisados na pesquisa (as edições de Faraco & Moura, distribuídas pela Editora Ática), 100% deles concentram seus conteúdos em quaisquer outras abordagens teóricas, filosóficas ou visões, menos na questão das tecnologias da informação e da inteligência. Quando o pseudo-tema tecnologia aparece em dado livro didático, é de forma muito superficial e simplória - quantas calorias o sujeito perde ao beijar outra pessoa, por exemplo -, fazendo com que os professores/alunos entrevistados, cerca de 85% de um percentual de 20 professores, 100 alunos e 4 coordenadores pedagógicos, confundissem um dado interpretado através do olhar científico (medir calorias gastas em um beijo: texto que aparece no livro didático de Faraco & Moura para a 7ª série do ensino fundamental) com um texto que enviesasse o conteúdo para a discussão tecnológica e suas respectivas implicações para a vida prática dos sujeitos envolvidos nesse processo.
CONCLUSÕES:
Seguindo a ordem dos resultados apresentados, pode-se dizer que a conclusão maior a que se chegou nessa pesquisa foi a de que o ensino de língua portuguesa em Campina Grande/Paraíba, que reflete grande parte do ensino desse componente curricular em contexto de Brasil, está perdendo qualitativamente a tradição que sempre teve de, através de discussões geradas nos contextos em que era produzida, refletir sobre o sujeito e a sua inserção no mundo que produz e é, simultaneamente, produzido por ele. A ausência de tópicos relacionados às tecnologias da informação e da informática nos livros didáticos dessa disciplina, bem como nas aulas preparadas pelos professores e revisadas pelos coordenadores pedagógicos são prova cabal de que uma geração inteira de educandos pode, posteriormente, quando tiverem sua vida profissional já definida, estar ou ficar deslocada dos papéis e funções que a nova ordem mundial, baseada justamente nas novas tecnologias, exige dos que são formados dentro desse contexto. Pôde-se inferir que, a partir dos dados coletados, e considerando-se as variáveis que influenciam na exclusão de tais conteúdos nas salas de aula de língua portuguesa, dificilmente os sujeitos desse processo terão condições suficientes e necessárias para encontrar democraticamente seu espaço - simbólico ou material - nas estruturas sociais que são construídas a partir dessas tecnologias.
Palavras-chave:  Ensino; Tecnologia; Democracia.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004