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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
CARACTERIZAÇÃO DA DIETA DE Hemiodus unimaculatus E Hemiodus microlepis (PISCES, HEMIODONTIDAE) NO LAGO QUATRO BOCAS, ARAGUAIANA-MT.
Stephania Luz Poleto 1   (autor)   slpoleto@yahoo.com.br
Valdézio de Oliveira 2   (colaborador)   vovl@uol.com.br
Silvana Aparecida Meira 3   (co-orientador)   sil_meira@yahoo.com.br
Paulo César Vênere 4   (orientador)   pvenere@uol.com.br
1. Mestranda em Ecologia e Conservação da Biodiversidade, Depto. Pós-graduação, UFMT.
2. Graduando do Depto. de Ciências Biológicas, UFMT – Campus do Médio Araguaia.
3. Profa., Msc. do Depto de Estatística, Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT.
4. Prof., Dr. do Depto de Ciências Biológicas, UFMT – Campus do Médio Araguaia.
INTRODUÇÃO:
O conhecimento do hábito alimentar em peixes é de fundamental importância no delineamento da estrutura trófica do ecossistema bem como do nível trófico ocupado pelas espécies. Fornece também subsídios para desenvolver estratégias de manejo sustentável aos ecossistemas. A caracterização da dieta é efetuada através de análises de conteúdo estomacal, sendo complementada com estudos paralelos sobre a disponibilidade de alimentos no ambiente. Diversos estudos abordam peixes da região neotropical, entretanto, poucos são os trabalhos enfocando os peixes da família Hemiodontidae. Estes são comumente encontrados na bacia do rio Araguaia, sendo muito comuns em lagos marginais como é o caso do lago Quatro Bocas (S 150 23’e W 510 42’), local do presente estudo. Este é um lago aparentemente bem preservado, com 108 hectares de área, localizado na fazenda Lago, à esquerda do rio Araguaia, com o qual se conecta nos períodos de cheia. Esta família, mesmo possuindo alguns dos peixes de água doce mais comuns da América do Sul, pode ser considerada pouco conhecida em diferentes aspectos da biologia. Trabalhos científicos relacionados com a ecologia trófica de Hemiodus unimaculatus e ,Hemiodus microlepis para a bacia do Araguaia-Tocantins são praticamente inexistentes. Frente ao exposto, o presente estudo objetivou caracterizar a dieta de Hemiodus unimaculatus e Hemiodus microlepis, e contribuir com informações biológicas a respeito destes peixes conhecidos na região como lapixó ou voador.
METODOLOGIA:
Para a realização do presente trabalho, foi realizada uma coleta no mês de setembro de 2003 (pico da estiagem na região) onde os exemplares obtidos foram capturados com redes de espera de 30m de comprimento e malhagens 2.4, 3, 5, 7 e 10mm de entre nós opostos. O lago foi dividido em quatro estações. Os pontos de coleta foram sorteados aleatoriamente para cada estação. As redes ficaram expostas durante 24 horas, sendo realizadas despescas em intervalos de 6 horas. Em campo os peixes receberam um número de registro, foram fixados em formol a 10%, acondicionados em sacos plásticos identificados e transportados para o laboratório de ictiologia da UFMT, campus do Médio Araguaia. Após 72 horas os peixes foram transferidos para álcool a 70%. Depois de registrados os dados biométricos os exemplares foram abertos, eviscerados e os estômagos retirados e preservados em álcool 70%, sendo os itens alimentares analisados qualitativamente através de microscópio óptico e quantitativamente através de seus volumes. Estes foram obtidos por deslocamento da coluna d’água, utilizando-se uma bateria de provetas graduadas. Para itens alimentares de volume inferior a 0,1ml foi utilizada uma placa milimetrada onde o volume é obtido em mm3 e posteriormente transformado em ml. Para cada estômago foi atribuído um grau de repleção gástrica: 0=vazio; 1=parcialmente vazio (volume ocupado até 25%); 2=parcialmente cheio (volume entre 25 a 75%) e 3=cheio (volume entre 75 e 100%).
RESULTADOS:
Foram feitas análises estatísticas descritivas para os graus de repleção dos estômagos dos peixes e de seus conteúdos estomacais. Dos 113 exemplares analisados observou-se que 33,66% apresentavam-se com estômagos parcialmente vazios; 30,97% com estômagos cheios; 30,09% com os estômagos parcialmente cheios; e 5,30% com os estômagos vazios. A análise de dados referentes aos itens presentes no conteúdo estomacal de Hemiodus unimaculatus e de Hemiodus microlepis revelaram que 25,81% são representados por detrito orgânico; 19,60% por sedimento; 14,39% por algas; 11,66 por Ephemeroptera; 5,71% por Chironomidae; 4,71% por ácaros; 4,47% por pupa de Díptera; 3,23% por Cladócera; 1,99% por restos de insetos; 1,74% por sementes e Copépoda. Através de análise de variância (ANOVA) observou-se que existe diferença entre os tratamentos grau de repleção estomacal e o peso total, e também entre a repleção estomacal e o comprimento total do peixe. Aplicando o teste qui-quadrado observa-se que existe diferença significativa nos graus de repleção entre Hemiodus microlepis e Hemiodus unimaculatus nas diferentes estações. Na primeira e quarta estações 94,67% e 100% dos exemplares são Hemiodus unimaculatus respectivamente e na terceira estação 67,67% é Hemiodus microlepis. Desse total, 32,59% dos estômagos de Hemiodus unimaculatus estavam parcialmente vazios e 3,37% estavam vazios. Para Hemiodus microlepis na estação 3 foram encontrados 33,33% de estômagos cheios e na estação 4 não foi coletado nenhum exemplar.
CONCLUSÕES:
Constatou-se, neste estudo, que tanto para Hemiodus unimaculatus quanto para Hemiodus microlepis houve uma variação dos graus de repleção estomacal, sendo que nenhum exemplar de Hemiodus microlepis foi encontrado com estômago vazio. A análise geral dos dados demonstra que a principal fonte de alimento para as espécies estudadas é detrito orgânico, seguido de sedimento e algas respectivamente. O grau de repleção estomacal das espécies foram diferentes para exemplares que tinham maior peso e maior tamanho, ou seja, tais fatores são diretamente proporcionais. Os diferentes ambientes selecionados para as coletas apresentam características peculiares. A distribuição das espécies variou ao longo de cada estação. Houve variação nos recursos alimentares explorados em cada estação. O teste de qui-quadrado confirmou que existem diferenças significativas entre os graus de repleção estomacal e os diferentes ambientes amostrados. Nenhum dos indivíduos de Hemiodus microlepis coletados na estação 3 apresentaram estômagos vazios. Com as diferentes malhagens utilizadas no lago, foi possível observar que as malhas três e cinco foram as mais eficientes na captura de Hemiodus unimaculatus e Hemiodus microlepis respectivamente.
Instituição de fomento: Capes; Ibama de Barra do Garças/MT.
Palavras-chave:  bacia do rio Araguaia; ecologia trófica; hemiodontideos.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004