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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
VOCÊ SABE O QUE É SINDROME ALCOÓLICA FETAL?
Luciana Reis Malheiros 1   (orientador)   malheiro@vm.uff.br
Débora Rocha de Moura 1   (autor)   deboramed@Superig.com.br
Diego Vigna Carneiro 1   (autor)   diegomengo@aol.com.br
1. Departamento de Fisiologia e Farmacologia, Universidade Federal Fluminense - UFF
INTRODUÇÃO:
A identificação do álcool como agressor do desenvolvimento fetal data do século XVIII quando foram relatados abortamentos e distúrbios do crescimento em filhos de mulheres alcoolistas. Entretanto, somente em 1973, a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) foi descrita, sendo caracterizada, basicamente, por retardo do desenvolvimento pré e pós-natal, anomalias faciais e retardo mental. A incidência estimada da SAF é de 1-3/1000 nascidos vivos. Essa síndrome é a principal causa de retardo mental prevenível em todo o mundo. Considerando os malefícios que o consumo de álcool durante a gestação pode causar, é razoável supor que os médicos deveriam estar familiarizados com a SAF. Existe um projeto de lei (2909/2002) que prevê a instituição de um programa de prevenção a SAF. Contudo, estudos realizados em outros países – não encontramos trabalhos brasileiros - concluem que muitos médicos não estão aptos a contribuir com as campanhas de prevenção por desconhecerem a síndrome e/ou suas características. O objetivo desse trabalho é avaliar o conhecimento de médicos e estudantes de medicina sobre a SAF.
METODOLOGIA:
Os dados apresentados aqui correspondem a 55 entrevistas realizadas com estudantes de medicina do quinto e oitavo períodos da Universidade Federal Fluminense (UFF) e com 15 médicos que atendem no Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) ligado a UFF. Foi solicitado aos participantes que respondessem a um questionário que continha perguntas sobre a quantidade de álcool que uma gestante pode beber; características principais da SAF e a identificação, entre 4 fotos de crianças, de uma portadora de SAF. Aos médicos também foi perguntado se eles já haviam diagnosticado alguma criança portadora de SAF, se eles consideravam importante perguntar sobre o consumo de álcool durante a gestação e se faziam uso de algum questionário específico para avaliar problemas relacionados ao uso de álcool em seus pacientes. A participação foi voluntária, o anonimato garantido e as entrevistas não duraram mais de 10 minutos. Os dados foram avaliados utilizando o programa SPSS para Windows, versão 9.0. Devido a natureza dos dados a maioria das análises foi não paramétrica e o grau de significância adotado foi de 5%.
RESULTADOS:
A média de idade dos alunos entrevistados foi de 22,3 anos e a dos médicos de 37,2. O tempo de graduação dos médicos variou de 3 a 28 anos de formado. Entre os médicos, 35,7% (n=5) foram capazes de identificar corretamente as três principais características da SAF, valor esse superior ao encontrado entre estudantes, 11,3% (Teste do Qui-quadrado, p=0,03). Por outro lado, um número maior de estudantes (64%) comparado ao de médicos (20%, n=3) foi capaz de reconhecer corretamente a foto da criança portadora de SAF (Teste do Qui-quadrado, p=0,002). Quando perguntados quanto de bebida alcoólica uma grávida poderia ingerir, tanto médicos quanto estudantes, responderam que grávidas não deveriam ingerir álcool. Somente 4 (7,3%) estudantes responderam que grávidas poderiam ingerir até duas doses de álcool por dia. Com relação às perguntas dirigidas somente aos médicos, 33,3% relataram que a informação sobre o consumo de álcool não é fundamental para o diagnóstico da SAF; dois responderam ter diagnosticado ao menos um caso de SAF; somente um médico disse fazer uso de um questionário específico para avaliar os possíveis riscos do consumo de álcool de seus pacientes. A maioria que respondeu negativamente a essa pergunta, justificou dizendo que não conhece questionários apropriados para tal fim.
CONCLUSÕES:
Os dados encontrados nessa fase do trabalho são preocupantes considerando que a pesquisa foi realizada entre estudantes de medicina e médicos de um hospital universitário. Os estudantes parecem ter mais facilidade de reconhecer fotos de crianças com SAF , talvez por terem visto alguma das fotos, retiradas de livros, mais recentemente do que os médicos. Estes, por sua vez, conseguiram identificar melhor as características da SAF. Se, na prática, isso é de alguma ajuda no diagnóstico da SAF, não é possível ainda avaliar devido ao pequeno número de entrevistados. Felizmente, boa parte dos entrevistados reconhece que ingerir bebidas alcoólicas durante a gestação é contra-indicado. Contudo, parece que os médicos não sabem como identificar pacientes que estejam fazendo uso inadequado de álcool já que desconhecem instrumentos adequados para esse fim. Concluímos que o conhecimento da SAF, suas características e identificação, precisa melhorar na nossa universidade e pretendemos ampliar nossa pesquisa. Sugerimos que mais estudos a esse respeito sejam conduzidos no Brasil para que possamos contribuir para a prevenção e tratamento da SAF.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Síndrome Alcoólica Fetal; medicina; identificação.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004