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G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
PARA ALÉM DO ITINERÁRIO ULISSIANO: DO INFINITO CARTESIANO AO DESEJO E SEGREDO LEVINASIANOS - QUANDO O OUTRO É ABSOLUTAMENTE OUTREM
Antonio Evaldo Almeida Barros 2   (autor)   eusouevaldo@yahoo.com.br
Viviane de Oliveira Barbosa 2   (autor)   vivianedeob@yahoo.com.br
Raimundo Nonato Araújo Portela Filho 1   (orientador)   Prof. Msc.
1. Depto. de Filosofia, Universidade Federal do Maranhão - UFMA
2. Depto. de História, Universidade Federal do Maranhão - UFMA
INTRODUÇÃO:
Na história do pensamento ocidental qual o lugar ao outro disponibilizado? Para Emmanuel Levinas (1906-1995), todo o percurso da Filosofia Ocidental é como o itinerário ulissiano: um sempre retorno para casa, uma volta ao Idêntico, ao Mesmo, um contexto em que a afirmação da Una Totalidade implica a negação do Outro. Considerando que, em nossos dias, é necessário refletir acerca das relações entre os homens e sobre as implicações de todo e qualquer tipo de conhecimento cuja única coisa certa é a própria consciência do Eu que conhece, num prisma em que o Outro é acoplado pelo Si Mesmo, é que a proposta levinasiana nos parece ser plausível. O pensamento de Levinas está, certamente, entre os mais sugestivos e os mais complexos da contemporaneidade e é com tal que temos dialogado, pontuando, precisamente, a crítica acerca da filosofia ocidental entendida como síntese universal e pensamento absoluto, identificada com o percurso de Ulisses (Odisseu): complacência no Mesmo, desconhecimento do Outro. Para isso, visamos discutir e analisar a reavaliação de Levinas acerca do cogito e da idéia de Deus como Infinito em Descartes e a conseqüente proposição daquele de criação de uma plena subjetividade  separação absoluta, o Infinito como Desejo, atestando-se o pensamento do Desigual, dando espaço ao Segredo, que consiste na responsabilidade por Outrem.
METODOLOGIA:
Na busca de efetivação de uma atividade filosófica séria primando pelo rigor conceitual e pela fundamentação teórica, realizamos pesquisa bibliográfica debruçando-nos, em especial, sobre textos de Emmanuel Levinas e de outros filósofos e comentadores que com ele dialogam. Nossa abordagem tem-se pretendido interdisciplinar, haja vista que trabalhamos com bibliografia da Antropologia e da História além da filosofia propriamente dita.
RESULTADOS:
Na reavaliação levinasiana da idéia de Infinito em Descartes encontramos um paradigma a partir do qual poderemos pensar a relação entre o Outro e o Mesmo em que aquele não seja absorvido e sacrificado por este. O cogito cartesiano propõe a consciência como fonte e fundadora de suas próprias verdades, separada de princípios externos. Ora, no Infinito cartesiano aquilo que a idéia visa é infinitamente maior do que o próprio ato por meio do qual pensamos, ou seja, entre o ato de pensar e aquilo a que o ato dá acesso há uma desproporção. Uma desproporção entre a realidade objetiva e a realidade formal da idéia de Deus, contrariando Sócrates (pensamento grego), para quem seria impossível que uma idéia fosse colocada em um pensamento sem que aí já não estivesse. A noção cartesiana da idéia do Infinito designa uma relação com um ser que conserva a sua exterioridade total em relação àquele que o pensa. Se em Descartes a idéia de Infinito é teorética, em Levinas é um Desejo, que nunca pode ser satisfeito, Desejo que é bondade e eticidade, diferente de necessidade, que parte do sujeito, é uma aspiração animada pelo Desejável, é totalmente não egoísta, nasce de seu "objeto". Nos pensamentos da totalidade não há espaço para o Segredo, pois isto implicaria algo que não fosse abarcado. Segredo é, para cada um, a sua vida, consiste na responsabilidade por outrem, que no seu acontecimento ético é princípio de individuação absoluta, pois a medida do Outro é a sua própria inadequação.
CONCLUSÕES:
A proposta de Levinas é radical: propõe uma concepção de alteridade em que a relação com o Outro seja uma relação de total separação, em que os outros sejam absolutamente Outros e jamais podem ser definidos, finitizados, distanciando-se, desse modo, da história da filosofia enquanto interpretada como uma síntese de caráter universal configurando um pensamento absoluto, uma perspectiva para além do itinerário ulissiano. A Totalidade nega o Outro. O pensamento de Levinas se constrói, principalmente, como crítica à universalidade de uma razão totalitária. Levinas deixa-nos entrever que é possível um modo outro de pensar, não necessariamente em conformidade com os moldes daquela razão universalizante e identificadora. É possível uma maneira de pensar não determinada pelo princípio da identidade em que a exterioridade do ser  Outro  é abarcada e amuralhada pela interioridade do Mesmo. O ideal de pensamento proposto por Levinas foge do ideal de poder presente na história da filosofia enquanto espaço privilegiado da ontologia. Seu ideal de pensamento aponta para o Absolutamente Outro que é o inabarcável por excelência. O Outro escapa à Totalidade. O caminho aberto por Levinas nos convida a partirmos da perspectiva dos entes, da pluralidade (multiplicidade), da particularidade, do Outro, enfim, um prisma que se funda na idéia de Infinito como Desejo, vivência do Segredo, uma sempre responsabilidade do Eu pelo Outro, em que estes são total e absolutamente separados.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Emmanuel Levinas; Desejo; Totalidade.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004