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C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 8. Botânica
FLORÍSTICA E FITOSSOCIOLOGIA DA MATA DE GALERIA DO CÓRREGO AVOADEIRA, PARQUE ESTADUAL DA SERRA AZUL, BARRA DO GARÇAS, MT.
Felipe Vieira Dias 1   (autor)   felipebio@hotmail.com
Maryland Sanchez 2   (orientador)   maryland@cpd.ufmt.br
Fernando Pedroni 3   (co-orientador)   fpedroni@cpd.ufmt.br
1. Graduando do Depto.Ciências Biológicas e da Saúde, Inst.de Ciências e Letras do Médio Araguaia/UFMT
2. Profa.Dra. do Depto. Ciências Biológicas e da Saúde, Inst.Ciências e Letras do Médio Araguaia/UFMT
3. Prof.Dr. do Depto.Ciências Biológicas e da Saúde, Inst.de Ciências e Letras do Médio Araguaia/UFMT
INTRODUÇÃO:
As matas de galeria ocorrem ao longo dos cursos d’água na região do Cerrado desempenhando papel fundamental na conservação do solo e da água. As matas de galeria que cruzam o Cerrado na região central podem funcionar como elo entre as grandes formações florestais no Brasil, conectando as Florestas Amazônica e Atlântica, no sentido noroeste-sudeste e funcionando como corredores de migração de espécies. Tais florestas vêm sendo erradicadas em várias partes do Brasil. Entre os numerosos fatores que têm contribuído para isto, destacam-se os desmatamentos, as queimadas, os represamentos e o assoreamento dos rios devido à erosão. No Mato Grosso, o desmatamento para a expansão das áreas agrícolas e a escassez de estudos florísticos e fitossociológicos destas comunidades tornam ainda mais crítica a situação destas florestas. O levantamento florístico abre perspectivas para o desenvolvimento de pesquisas relacionadas à fitossociologia, à fenologia e à dinâmica das populações ali instaladas fornecendo informações que serão aplicadas na recuperação ou revegetação de áreas degradadas em matas de galeria. O presente estudo tem como objetivo fazer o levantamento fitossociológico de espécies arbóreas em uma área de mata de galeria do córrego Avoadeira.
METODOLOGIA:
O estudo está sendo realizado na mata do córrego Avoadeira, que tem sua nascente no Parque Estadual da Serra Azul e é um tributário do rio Araguaia. O Parque Estadual da Serra Azul ocupa uma área de 11.002 ha, e localiza-se no município de Barra do Garças, MT (15o52’S e 51o16’W), sendo a vegetação formada por várias fitofisionomias do Bioma Cerrado, tais como o cerrado rupestre, cerrado típico e mata de galeria. A região apresenta clima tropical chuvoso, pertencendo ao tipo Aw de Köppen, com verão úmido e inverno seco; a temperatura média na região é de 22ºC e a precipitação média é de 1600 mm anuais. Para a realização do estudo, foram demarcadas 100 parcelas de 10 x 10 m, totalizando 1 ha. Até o momento, foram analisadas 12 parcelas nas quais foram amostradas todas as árvores com PAP (perímetro à altura do peito - 1,30 m acima do solo) ≥15 cm. Os indivíduos que se enquadraram neste critério tiveram seus perímetros medidos, suas alturas estimadas e material botânico coletado para identificação. Todos os exemplares foram herborizados e incorporados ao acervo do Herbário UFMT – Unidade do Instituto de Ciências e Letras do Médio Araguaia. As árvores recém mortas, que ainda estavam em pé, foram incluídas sendo consideradas como um grupo único Para avaliar a estrutura da vegetação, foram calculados os parâmetros fitossociológicos através do programa FITOPAC e para avaliar a diversidade florística da área estudada foi utilizado o Índice de Shannon (H’).
RESULTADOS:
Amostramos 135 indivíduos, dos quais 121 estavam vivos e 14 mortos, ainda em pé, numa densidade total de 1133 árvores/ha. A área basal total foi 14,670 m2/ha, diâmetro máximo foi 42,34 cm e a altura máxima foi 18 m. Os indivíduos vivos foram identificados como pertencentes à 27 famílias, 61 gêneros e 67 espécies. As famílias com maior riqueza foram Leguminosae (com 9 espécies) Myrtaceae (8), Lauraceae (7), Rubiaceae (5) e Sapotaceae e Euphorbiaceae (4) que juntas totalizaram 55% da riqueza total encontrada. Apresentaram maiores abundâncias as famílias Rubiaceae (com 22 indivíduos), Leguminosae (13), Myrtaceae (12), Sapotaceae (9) e Lauraceae (8), as quais totalizaram 53% da abundância de árvores vivas. O grupo das árvores mortas apresentou o maior IVI (Índice de Valor de Importância = 26,95). Entre as árvores vivas, o maior IVI (15,75) coube à espécie Copaifera langsdorffii determinado não tanto pela sua abundância (2 indivíduos), mas principalmente por sua grande área basal (Dominância Relativa = 12,43), seguido pelas espécies Lonchocarpus sp. (9,78), Coussarea hidraengifolia(9,75), Diospyrus brasiliensis (9,29), Mabea fistulifera (8,48), Casearia sylvestris (8,13) e Unonopsis guaterioides (7,62).
O valor de diversidade de Shannon foi de 3,9 nats/indivíduo.
CONCLUSÕES:
Nossos resultados indicam que a mata do Córrego Avoadeira possui composição florística similar aquela encontrada em outras matas de galeria com destaque para Leguminosae, considerada uma das famílias mais importantes nas formações florestais do bioma Cerrado, Myrtaceae e Rubiaceae representadas principalmente por árvores pequenas do subosque das matas de galeria do Brasil Central. O primeiro lugar em importância (IVI) ocupado pelo grupo de árvores mortas, parece indicar que a área sofreu distúrbios naturais (ventos, tempestades, queda de galhos grandes e até incêndios) ou mesmo perturbações antrópicas (retirada de madeira) produzidas num passado recente. No entanto, aspectos gerais da estrutura como densidade, área basal e altura das árvores da mata do córrego da Avoadeira dentro dos valores registrados nas matas de galeria do Brasil indicando que a mata ainda conserva sua estrutura primária. Esta interpretação é reforçada pela ocorrência de espécies igualmente importantes em outras matas de Galeria como Copaifera langsdorffii, no dossel da mata, e espécies do subosque como Coussarea hidraengifolia, Diospyrus brasiliensis, Mabea fistulifera e Unonopsis guaterioides. O acompanhamento de longo prazo, que está sendo iniciado com este estudo, permitirá verificar se a área está se recuperando ou não e ajudará a nortear a tomada de medidas para melhor conservação da área.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Florística; Fitossociologia; Mata de galeria.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004