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D. Ciências da Saúde - 6. Nutrição - 4. Desnutrição e Desenvolvimento Fisiológico
AVALIAÇÃO DO METABOLISMO DE LIPÍDIOS EM RATAS SUBMETIDAS À RESTRIÇÃO PROTÉICA DURANTE A GESTAÇÃO
Gláucia da Silva Macêdo 1   (autor)   donafilha@hotmail.com
Andressa Menegaz 1   (autor)   andressa.mene@bol.com.br
Maria Helena Gaíva Gomes da Silva 1   (orientador)   marihele@cpd.ufmt.br
Márcia Queiroz Latorraca 1   (colaborador)   mqlator@cpd.ufmt.br
1. Depto. de Nutrição e Dietética, Fac. de Enfermagem e Nutrição, Fac. de Ciências Médicas - UFMT
INTRODUÇÃO:
Evidências documentadas na literatura mostram que um ambiente alimentar adverso durante o desenvolvimento intra-uterino pode provocar o que se denominou “programação fetal do metabolismo”. Esta hipótese preconiza que a desnutrição, principalmente a fetal, interfere na velocidade de multiplicação celular nas crias, modificando a estrutura dos órgãos de forma permanente, com conseqüente alteração na funcionalidade dos sistemas e do organismo como um todo. O aumento nos índices de obesidade e doenças co-relacionadas como diabetes melittus tipo 2, hipertensão arterial e doenças coronarianas, em populações comumente associadas à desnutrição, poderia ser explicado como conseqüência tardia de um agravo nutricional em fase precoce de crescimento fetal. Assim, filhos de gestantes expostas à desnutrição e com baixo peso ao nascer, estariam mais propensos à obesidade, principalmente a visceral, quando em contato com um ambiente de oferta normal de alimentos. Este tipo de obesidade, caracterizada por armazenamento de gordura na região abdominal, sendo de fácil mobilização, facilitaria o mecanismo de resistência à insulina e intolerância à glicose, podendo desencadear diabetes e outras doenças associadas, um quadro denominado síndrome plurimetabólica. Considerando que a maioria das pesquisas tem estudado tais hipóteses nas crias, o objetivo deste estudo é avaliar os efeitos da restrição protéica materna sobre alguns aspectos do metabolismo lipídico em ratas grávidas.
METODOLOGIA:
Avaliou-se ratas adultas (90 dias), da linhagem Wistar, grávidas e não grávidas, e tratadas com dieta normoprotéica (AIN, 93) -17% (CG; n=5 e CNG; n=5) ou hipoprotéica (DG; n=6 e DNG; n=4), 6% de proteína, até o 14º dia de gestação. As dietas e água foram oferecidas ad libitum e avaliou-se o consumo alimentar e peso corporal 3 vezes por semana durante a gestação. No sacrifício coletou-se o sangue, para análise de glicose (método enzimático da glicose oxidase-peroxidase – Trinder, 1969), albumina (método descrito por Doumas et al., 1971), proteínas totais (método descrito por Wolfson, et al., 1948), insulina (método do radioimunoensaio – Scott et al., 1981) e leptina (por kits comercialmente disponíveis – Cristal Chem Inc.). Os tecidos: fígado (FIG), músculo gastrocnêmio (GAST), tecidos adiposos branco retroperitoneal (RET), gonadal (GON) e tecido adiposo marrom interescapular (TAM), glândula mamária (GMA) e carcaça (CARC), foram coletados para determinações de glicogênio (hepático e muscular), DNA, proteína, lipídeos totais e taxa de lipogênese de novo in vivo. Os resultados avaliados foram analisados no programa Statistica for Windows, versão 4.3, 1993 (StatSoft, Tulsa, OK, USA). A homogeneidade das variâncias foi verificada pelo teste de Bartlett, seguido da ANOVA a dois fatores e dos testes de comparações múltiplas de médias (Tukey HSB para grupos com n iguais e diferentes). Adotou-se o nível de significância de p< 0,0 5%.
RESULTADOS:
Ao final do tratamento, o peso das ratas (g) foi, significativamente maior nos grupos de grávidas, comparado aos de não grávidas (DG: 300±10; DN: 287±21 e CG: 315±17; CNG: 259±16; p<0,05). Observou-se, também, um consumo alimentar elevado no DG (267±20), em relação ao CNG (199±29). O peso das carcaças (g) não diferiu nas ratas submetidas à restrição protéica durante a gestação (CG: 221±11; CN: 191±12; DG: 208±9; DNG: 209±11), entretanto, a distribuição dos substratos nutricionais nos compartimentos protéico e lipídico ainda não foi avaliada. Nos tecidos envolvidos em intensa atividade metabólica nessa fase fisiológica: FIG e GMA, ocorreu um aumento acentuado no peso fresco, no grupo de ratas desnutridas (FIG- DG: 9,37±0,67; DNG: 7,69±0,36; CNG:7,11±0,84 e GMA- DG: 7,80±1,21; CG: 6,01±0,29; CNG: 4,49±0,68; DNG: 5,53±1,31; p<0,05). Não houve diferença entre os grupos com relação ao peso (g) dos tecidos adiposos branco (RET e GON). Entretanto, o peso do TAM (g) foi maior no DG (0,385±0,03) comparado ao CG (0,302±0,02) e CNG (0,284±0,06). Não se observou alteração nas concentrações de DNA (mg/g tecido e mg/ tecido total) nesses tecidos. As concentrações séricas de glicose (mg/dl), proteínas totais (g/dl) e albumina (g/dl) também foram semelhantes, assim como as determinações hormonais de insulina (ng/ml) e leptina (pg/ml).
CONCLUSÕES:
As condições fisiológicas e nutricionais determinadas pela restrição protéica durante a gestação mostraram um aumento no consumo alimentar no grupo desnutrido, associado à elevação do peso fresco de tecidos como fígado e glândula mamária nesse grupo, possivelmente relacionado com o maior acúmulo de substratos nesses tecidos, visando atender ao aumento das demandas metabólicas. Além disso, o peso aumentado do tecido adiposo marrom no grupo desnutrido pode ser resultado de um desequilíbrio na atividade termogênica nesse tecido. Esses resultados podem significar que a restrição protéica materna durante a gestação determina uma alteração nos depósitos de substratos em tecidos de grande atividade metabólica, podendo desencadear mudanças permanentes nesses tecidos.
Instituição de fomento: CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Palavras-chave:  metabolismo lipídico; restrição protéica; gestação.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004