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D. Ciências da Saúde - 6. Nutrição - 4. Desnutrição e Desenvolvimento Fisiológico
AVALIAÇÃO DO METABOLISMO LIPÍDICO EM RATAS LACTANTES SUBMETIDAS À RESTRIÇÃO PROTÉICA
Cristiane Lopes Pinto 1   (autor)   cristianelopesnut@hotmail.com
Cristiane Slusarski 1   (autor)   cricaecia@bol.com.br
Maria Helena Gaíva Gomes da Silva 1   (orientador)   marihele@cpd.ufmt.br
Márcia Queiroz Latorraca 1   (colaborador)   mqlator@cpd.ufmt.br
1. Depto. de Nutrição e Dietética, Fac. de Enfermagem e Nutrição, Fac. de Ciências Médicas - UFMT
INTRODUÇÃO:
Presume-se que a restrição protéica na fase intra-uterina e na lactação possa produzir danos morfológicos e funcionais em vários tecidos e órgãos, como as células beta pancreáticas, os hepatócitos e os tecidos adiposos e muscular, determinando anormalidades metabólicas como a intolerância à glicose, as dislipidemias e a obesidade na vida adulta. Relatos na literatura procuram demonstrar que as doenças crônicas relacionadas à desnutrição na idade adulta, poderiam ser conseqüências tardias da desnutrição fetal e pós-natal, possivelmente relacionados a alterações no controle hipotalâmico da ingestão alimentar. Assim, crianças nascidas em condições de pobreza, que foram submetidas a retardo no crescimento intra-uterino e pós-natal e, tendo acesso a melhores condições sócio-econômicas na vida adulta, tornar-se-iam grupos de risco para essas enfermidades. Poucos relatos, entretanto, têm procurado enfocar as alterações metabólicas desencadeadas no organismo das mães submetidas à desnutrição durante o período de gestação e lactação, sendo que a maioria demonstra, principalmente, os efeitos da restrição nutricional nas crias, em várias fases de desenvolvimento. Assim, o objetivo deste estudo é avaliar os efeitos da restrição protéica materna sobre alguns aspectos do metabolismo lipídico em ratas lactantes.
METODOLOGIA:
Foram avaliadas ratas adultas (90 dias) Wistar, lactantes e não lactantes, tratadas com dieta normoprotéica (AIN, 93) -17% (GCL e GCNL; n=8) ou hipoprotéica (GDL; n=7 e GDNL; n=8), 6% de proteína, durante a gestação e até o 14º dia (pico da lactação). As dietas e água foram oferecidas ad libitum. Avaliou-se o consumo alimentar e o peso corporal 3 vezes por semana durante a lactação. No sacrifício, foram coletados o sangue para análises de glicose (método enzimático da glicose oxidase-peroxidase  Trinder, 1969), albumina (método descrito por Doumas et al., 1971), proteínas totais (método descrito por Wolfson, et al., 1948), insulina (método do radioimunoensaio  Scott et al., 1981) e leptina (por kits comercialmente disponíveis  Cristal Chem Inc.). Os tecidos: fígado (FIG), músculo gastrocnêmio (GAST), tecidos adiposos branco retroperitoneal (RET), gonadal (GON) e tecido adiposo marrom interescapular (TAM), glândula mamária (GMA) e carcaça (CARC), foram coletados para determinações de glicogênio (hepático e muscular), DNA, proteína, lipídeos totais e taxa de lipogênese de novo in vivo. Os resultados foram analisados pelo programa Statistica for Windows, versão 4.3, 1993 (StatSoft, Tulsa, OK, USA). A homogeneidade das variâncias foi verificada pelo teste de Bartlett, seguido da ANOVA a dois fatores e dos testes de comparações múltiplas de médias (Tukey HSB para grupos com n iguais e diferentes). Adotou-se o nível de significância de p< 0,0 5%.
RESULTADOS:
Não se observou diferença no peso final (g) dos animais (CL: 262±25; CNL: 271±31; DL:272±28; DNL: 289±113) e nas carcaças (g) (CL: 187±17; CNL: 204±18; DL: 189±21; DNL: 208±11), mas o consumo alimentar (g) no DNL e CNL (472±46; 532±45) foi menor (p<0.05) que no DL e CL (658±88; 642±28). Houve aumento significativo no peso do FIG (g) no grupo DL (12,38±2,3), comparado aos demais (DNL: 7,98±1,16; CL: 8,12±0,44; CNL: 7,54±1,18; p<0,005), acompanhado de hipotrofia (mg DNA/g tecido- 1,73±1,2) e hipoplasia (mg DNA/tec. total - 20,11±11,21) nesse tecido. O peso da GMA (g), no DL (10,0±1,03) e CL (9,1±1,38), relacionado ao CNL (4,80±1,34) e DNL (6,0±2,11). Quanto aos tecidos adiposos, o peso do GON (g) no DNL foi maior (DNL: 13,11±1,39; CL: 6,77±2,57; DL: 9,11±1,06; CNL: 10,2±1,84), e o TAM, também no DNL (0,39±0,08) foi maior (g) comparado ao CL (0,26±0,064) e CNL (0,29±0,05) e o RET foi maior no DNL (5,64±0,92), comparado ao CL (3,58±1,62). A glicemia (mg/dl) (CL: 65±19; CNL: 82±27; DL: 67±24; DNL: 80±29) e proteínas totais séricas (g/dl) (CL: 5,6±1,1; CNL:6,2±1,5; DL:4,8±11,2; DNL: 6,0±1,11) foram semelhantes entre os grupos, mas a albumina (g/dl) apresentou redução (p<0,05) no DL, relacionado ao DNL e CNL (2,39±0,34; 3,32±1,01;3,37±0,42), respectivamente, e não se observou diferença nas avaliações hormonais de insulina (ng/ml) (CL: 0,93±0,53; CNL: 0,86±0,61; DL:0,46±0,26; DNL: 0,73±0,38); e leptina (pg/ml) (CL:2873±1589; CNL: 4244±2136; DL:5864±2558; DNL: 4334±2154).
CONCLUSÕES:
As condições fisiológicas determinadas pela restrição protéica durante a lactação não mostraram interferência na evolução do peso total e nem tampouco no peso das carcaças das ratas, embora estas não tenham sido avaliadas quanto às concentrações de substratos, tanto lipídicos como protéicos, que possam expressar a composição corporal das mesmas. Entretanto, a elevação acentuada de peso em tecidos de grande atividade metabólica como o fígado e a glândula mamária, em ratas desnutridas lactantes, pode significar um acúmulo muito elevado de energia nesses tecidos, às custas principalmente da deposição de lipídios, o que pode ser corroborado pela condição de hipotrofia e hipoplasia detectada no fígado. O aumento do peso dos tecidos adiposos branco e marrom em ratas desnutridas sugere que a restrição nutricional pode ser o fator determinante para o acúmulo de reserva energética, independente da condição fisiológica da lactação. Embora não tenham sido alteradas as condições de glicemia, o pool de proteínas plasmáticas e o perfil hormonal, o estado de lactação em ratas submetidas à restrição protéica, implicou na redução acentuada nas concentrações séricas de albumina, o que pode estar refletindo um estado crônico de desnutrição protéica. O conjunto destes resultados sugere que a restrição protéica durante a lactação pode provocar alterações importantes nos tecidos maternos, podendo resultar em modificação permanente na estrutura desses tecidos.
Instituição de fomento: CNPq - Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Palavras-chave:  metabolismo lipídico; restrição protéica; lactação.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004