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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 17. Planejamento e Avaliação Educacional
OS RITOS NOS DIAS DE PROVA: A RELAÇÃO ASSIMÉTRICA ENTRE PROFESSORES E ALUNOS
Edilene Luzia Reis Machado 1   (autor)   edilene@unir-roo.br
1. Professora das FAIR - Faculdades Integradas de Rondonópolis - FAIR / UNIR
INTRODUÇÃO:
Muito já se pesquisou no campo da educação e, com isso, várias contribuições vieram se somar. Mas é preciso pesquisar mais, pois crescimento é isso, é buscar sempre o conhecimento e difundi-lo. Este trabalho, de natureza qualitativa, tem como objetivo geral subsidiar a comunidade acadêmica do ensino superior, em específico os docentes, com discussões e reflexões sobre o sistema e os processos de avaliação enfaticamente nos ritos de provas, a partir da problemática: se a mudança no processo de interação entre aluno e professor se dá devido ao ou para o rito? Se o ritual de prova afeta a aprendizagem? Se afeta, até que ponto ele é prejudicial? Quais atitudes, posturas, comportamentos apresentados no ritual de prova tanto do professor como do aluno? E quais leituras estes comportamentos permitem fazer? Para orientar e direcionar nossas ações, na definição do objeto de estudo – a relação assimétrica entre professores e alunos no rito de prova no ensino superior, este trabalho teve por objetivos específicos com relação às concepções de avaliação da IES e dos docentes investigados: analisar o sistema de avaliação da instituição a partir do Projeto Pedagógico Institucional e dos planos de ensino das disciplinas; com referência à relação docente-discente: observar a relação professor-aluno e a interação verbal e não-verbal estabelecida entre eles em sala de aula; conhecer as atitudes e comportamentos de professores e alunos no rito de prova e acompanhar, observar os ritos de prova.
METODOLOGIA:
Para desenvolver a pesquisa foram selecionados, das Faculdades Integradas de Rondonópolis – MT, 06 professores do curso Ciência da Computação, para a apreensão do objeto em estudo. Quanto aos discentes, ao todo foram 95 alunos observados. Com relação à metodologia, optamos pela abordagem qualitativa com ênfase na observação, porque é uma estratégia de campo que combina simultaneamente a análise de documentos, a entrevista e a observação direta. Com a finalidade de abarcar o universo pesquisado, fizemos contato direta e informalmente com os sujeitos envolvidos na pesquisa (professores e alunos) e efetivamos análise documental do Projeto Pedagógico Institucional e dos planos de disciplina dos docentes selecionados, realizamos entrevista semi-estruturada com os professores e analisamos suas falas, bem como as anotações descritas em um diário de campo das observações, sem perder de foco, também, o clima do ambiente, além de fotografias. Por meio da análise documental, buscamos visualizar evidências para entender as concepções de educação e de avaliação de cada docente observado, bem como a sua utilização no processo de ensino-aprendizagem. Para a coleta de informações e características da relação assimétrica entre professores e alunos, a gestualidade e os comportamentos deles utilizamos o método de observação direta. O enfoque da observação centrou-se sobre os significados que os comportamentos dos sujeitos envolvidos podem representar para a relação entre docentes e discentes.
RESULTADOS:
No Projeto Pedagógico Institucional, percebemos na análise que tanto na missão quanto na filosofia a ênfase do processo educativo está no aluno. Tal documento demonstra também que a instituição está firmada e acordada com a concepção que considera o ato de avaliar não como mero medir conhecimentos, mas trabalhar para a formação integral do cidadão. Já nos planos de disciplinas dos professores, percebemos uma certa tendência em pensar que planejar, talvez, não signifique uma autêntica elaboração, uma forma de comunicar para o outro sobre o que e o como se pretende trabalhar durante o ano, mas uma prática mimética. Verificamos, também, que não há consenso sobre avaliação entre o projeto da instituição e os planos dos professores, uma vez que para estes a avaliação está meramente voltada para a mensuração do conhecimento e para a classificação dos alunos. Já na prática educativa pareceu-nos configurar uma metodologia de aula centrada no paradigma de ensino tradicional, que privilegia o conteúdo a ser repassado, tendo o professor como o agente de transmissão de conhecimento e o aluno como o ouvinte. Com relação à interação entre professores e alunos, percebemos que a ritualidade das aulas e das provas organizou-se em dois eixos: o eixo vertical, caracterizado pela relação assimétrica entre o professor e os alunos, na qual perpassam valores de autoridade, obediência e respeito; e o eixo horizontal, que se caracteriza pelas relações socializadas dos alunos entre si.
CONCLUSÕES:
O papel do docente é complexo por envolver facetas diferentes: pode-se observar o relacionamento do docente com os seus superiores imediatos, a relação e, por conseguinte, a interação que estabelece com seus alunos e/ou as trocas que efetua com seus pares. É necessário ressaltar que os docentes pesquisados são professores universitários que não cursaram licenciatura (são bacharéis) e, portanto, não possuem conhecimento pedagógico formal. Assim, a formação pedagógica (inicial e continuada) destes docentes é construída a partir de sua experiência em sala de aula, no dia-a-dia, pelos erros e acertos, pela interação com seus alunos e pela reflexão sobre a sua própria prática pedagógica. Acreditamos que a manutenção da avaliação pela prova, o caráter autoritário instituído nas salas de aula universitárias, pode descaracterizar o trabalho coletivo proposto para se chegar a uma produção autônoma dos alunos e dos docentes. Assim, essa forma de avaliar torna-se prejudicial porque os professores ainda não percebem a avaliação como um processo, mas como uma atividade estanque, com a intenção de apenas conferir mérito ou demérito aos alunos. Contudo, foi possível observar nos discursos dos professores uma ânsia por formas inovadoras das práticas avaliativas, só não sabiam, ainda, como fazer. O processo pode ser difícil e desafiador, mais vale a pena romper com o tradicional e buscar metodologias inovadoras que possibilitam uma maior participação e interação entre docente e aluno.
Palavras-chave:  Relação professor e aluno; educação superior; Avaliação.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004