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G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social
MULHERES NO SERINGAL.
Vanessa Generoso Paes 1   (autor)   vanessacenhpre@bol.com.br
1. Centro de Hermenêutica do Presente, Universidade Federal de Rondônia - UNIR
INTRODUÇÃO:
Este é um sub-projeto de “NORDESTINOS NA AMAZÔNIA – HISTÓRIA ORAL COM SOLDADOS DA BORRACHA. No desenvolvimento deste projeto foi realizada uma entrevista com Benedita Maria Francisca, que foi aposentada como “Soldado da Borracha”. E foi ao perceber através de sua narrativa que a mulher não era reconhecida enquanto seringueira e percebendo-se o quanto contraditórias eram as relações estabelecidas no espaço do seringal surgiram questões à cerca das mulheres que tiveram experiência de vida nesse lugar.
Com isso, a intenção desta pesquisa foi analisar a experiência de vida do seringal a partir de um viés feminino, valorizando a história de vida das mulheres que vivenciaram os seringais da Amazônia; compreendendo como essas mulheres se identificam; percebem as relações sociais estabelecidas entre o espaço da casa e o espaço da floresta; quais a representações dessas mulheres no espaço do seringal e quais as relações de poder constituídas no espaço do seringal.
A relevância da pesquisa MULHERES NO SERINGAL se deu em possibilitar que essas mulheres, que nunca se disseram plenamente, nem disseram o seu mundo, se digam e dialoguem conosco, redimensionando o olhar historiográfico sobre a história regional, dando-lhe maior profundidade narrativa.
METODOLOGIA:
Para a constituição das narrativas trabalhamos com uma metodologia específica de História Oral de Vida. desenvolvida por José Carlos Sebe Bom Meihy e os procedimentos de Cápsula Narrativa e Nascimento Voluntário desenvolvidos por Alberto Lins Caldas. Essa perspectiva permitiu às colaboradoras escolher por onde e como gostaria de narrar, redimensionando a postura e a relação do pesquisador diante do outro.
Foi marcado com cada colaboradora uma “pré-entrevista”, onde explicamos sobre a pesquisa e a utilização do gravador.O passo seguinte foi a entrevista, onde utilizamos os procedimentos de Cápsula Narrativa e Nascimento Voluntário, onde a colaboradora iniciou a sua narrativa sem ser interrompida, até que se percebesse o esgotamento da fala, nos dando seu eixo narrativo, que foi respeitado até o fim do processo. As entrevistas passaram por um processo de Transcrição, que pretende em termos de escrita, ser a passagem fiel do dito para a grafia. O passo seguinte foi o da Conferência, momento em que retornamos com os textos para que as colaboradoras fizessem as devidas correções, modificações e autorizassem para publicação. Todo este processo que vai desde o momento da pré-entrevista até a constituição dos textos para a interpretação e retorno para conferência. é denominado Transcriação. Dessa forma estabelecemos que foge da relação pesquisador/objeto em favor da relação pesquisador/colaborador.
RESULTADOS:
No desenvolvimento desta pesquisa percebemos que nenhuma das mulheres se identificaram como Soldado da Borracha.. Algumas narradoras se identificaram como seringueiras, outras como simplesmente esposas e mães de família. Suas lembranças são atravessadas por marcas e ritos de vivências de uma infância difícil, como algo que deve ser apagado e esquecido, e em outros momentos, ressignificados por um “passado” que não volta mais. A relações que se estabelecem no espaço do seringal são volúveis, rompendo com a dicotomia do “dominador” e do “dominado”, onde não há o assujeitamento total do indivíduo. As relações de forças se sobrepoem e se determinam no jogo ou luta pelo poder.
Sendo a presença humana que constitui e atribui siguinificado ao espaço através da práxis social, percebemos que o espaço da casa e o espaço da florestas presentes nos textos-narrativas das colaboradoras, que a casa não está fisicamente separada da floresta, mas ambas se fundem como se fossem retalhos costurados por imagens móveis num jogo de esconder e mostrar da memória. Essas trajetórias pessoais se aproximam, em alguns momentos, de experiências de uma coletividade, mas se distanciam enquanto vivências singulares, onde cada narradora constrói para si e para a esfera que a envolve, os múltiplos fragmentos discursivos que constituem sua existência.
CONCLUSÕES:
A parti da experiência de campo juntamente com as leturas de Michel Foucault eEni Puccinelli Orlandi percemos que as narrativas das mulheres que tiveram experiência de vida no seringal são atravessadas pelo silêncio, que não foi compreendido como falta, vazio ou ausência de significação, mas silêncio significante, lugar onde os sujeitos constituem sua existência, e em outros momentos como forma de silenciamentos (interdições para que o outro não se diga) possibilitando multiplos deslocamentos de sentidos.
O espaço do seringal aparce nas narrativas das colaborados como marcas de uma infância difícil, por isso, silenciados para não retornarem o sofrimento de uma vida de renúncia. Em outros momentos como símbolo de conforto e fartura, e em outros momentos como espaço onde as relações de forças, constiui o lugar das contradições estabelecidas pelo conflito e briga de poder.
A maior pretensão deste trabalho foi conquistada no momento da entrevita: deixar que as próprias colaboradoras estruturassem sua experiência de vida dentro da narrativa, deixar que elas se dissecem como quiseram ser entendidas, possibilitando assim, uma compreensão mais nítida de suas vidas e do mundo em que vivem.
Instituição de fomento: CNPQ
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  MULHERES; HISTÓRIA ORAL; NARRATIVA.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004