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D. Ciências da Saúde - 6. Nutrição - 5. Nutrição
COMPORTAMENTO ALIMENTAR E PERCEPÇÃO CORPORAL DE ALUNAS E ALUNOS DO CURSO DE NUTRIÇÃO DA UFF.
Luciana Reis Malheiros 1, 3   (orientador)   malheiro@vm.uff.br
Irene Chaves dos Santos 2, 4   (autor)   nenichaves@yahoo.com
Nina Parmera Segond 2   (autor)   
1. Professora do Departamento de Fisiologia e Farmacologia, CCM, UFF
2. Discente do curso de Nutrição, CCM, UFF
3. Nutricionista do NUTTRA
4. Discente do curso de Comunicação Social da PUC-RJ
INTRODUÇÃO:
A prevalência de transtornos alimentares (TA), anorexia nervosa e bulimia nervosa, vem aumentado a partir da década de 80 do século passado. Um dos fatores que parece contribuir para esse aumento é a pressão cultural que promove o conceito de que indivíduos de sucesso e felizes exibem corpos magros. Os TA não afetam somente jovens mulheres ricas, mas também homens e indivíduos de classe socioeconômica mais baixa. Estudos realizados no Brasil apontam para prevalências de TA semelhantes às encontradas em países ditos desenvolvidos. Sabemos, também, que o meio universitário pode ser um meio propicio para o desenvolvimento de TA, principalmente, para os estudantes da área de saúde que podem apresentar um risco maior. No caso dos estudantes de Nutrição e Educação Física, não está claro se pertencer a esse grupo aumenta a chance de desenvolver TA ou se pessoas com esses problemas tendem a se direcionar para estas áreas. Considerando que um dos papéis do nutricionista é orientar indivíduos a terem uma alimentação mais saudável e manterem um peso adequado, acreditamos que um profissional que sofra de um transtorno alimentar pode, por exemplo, não avaliar adequadamente pacientes com o mesmo problema. O objetivo dessa pesquisa foi verificar de que forma alunas e alunos do curso de Nutrição da Universidade Federal Fluminense (UFF) percebem o seu corpo e se eles apresentam comportamento alimentar considerado normal.
METODOLOGIA:
Foram convidados a participar da pesquisa todos os alunos que estavam regularmente matriculados no curso de graduação de Nutrição da UFF e compareceram à semana de inscrição em disciplinas para o primeiro semestre de 2003. Uma sala de aula foi usada exclusivamente para a realização da pesquisa. Os alunos interessados eram informados dos objetivos do estudo e de que o anonimato seria assegurado. Junto ao questionário foi anexado um termo de consentimento livre e esclarecido, onde os alunos permitiam a divulgação agregada dos dados. Os instrumentos de auto aplicação utilizados foram o BITE (Bulimic Investigatory Test) e o BSQ (Body Shape Questionnaire). O BITE avalia o comportamento alimentar; escores abaixo de 10 indicam comportamento alimentar adequado, escores superiores sugerem um padrão alimentar não usual. O BSQ indica a preocupação com a imagem corporal. Escores abaixo de 80 indicam ausência de distúrbio de imagem corporal (DIC); entre 80 e 111, um leve DIC; entre 111 e 140, moderada presença de DIC e acima de 140, DIC grave. Outras perguntas incluídas em nosso questionário: idade; sexo; como se sente em relação a seu peso - normal, magro(a), gordo(a) ; se deseja manter, perder ou ganhar peso (um desejo de ganhar ou perder até 2 Kg foi considerado como desejo de manter o peso) ; se pratica atividade física regularmente e, se sim, quantas vezes por semana. As análises estatísticas realizadas foram não-parametricas e o nível de significância adotado foi p<0,05.
RESULTADOS:
O total de alunos que responderam ao questionário foi de 202 (74,3% do total de alunos inscritos) e, desses, 27 eram do sexo masculino. A média de idade dos homens (H) foi de 20,9 anos e a das mulheres (M), 21,6. Nos H, a média do IMC aferido ficou em 23,7, estatisticamente superior que o IMC (21,6) das M (Mann-Whitney, p<0,05). Contudo é interessante observar que não encontramos nenhum H com IMC acima de 30, mas 6 M nessa categoria. Quando analisamos a porcentagem de alunas que fazem atividade física, encontramos 49,4% (n=86), enquanto nos H esse valor foi de 92,6% (n=25), estatisticamente superior (Mann-Whitney, p<0,05). Dos H que relataram fazer atividade física, 76% praticavam 4 ou mais vezes por semana, enquanto que um número menor de M (44,2%) relatavam realizar exercícios com essa freqüência (Mann-Whitney, p<0,05). Com relação a pergunta "como se sente em relação a seu corpo", não encontramos diferenças entre os gêneros, a maioria dos H (74,1%) e M(66,1%) relataram sentirem-se 'normais'. Porém, 29,6% dos H relataram desejar ganhar peso, número superior ao de M (13%, Qui-quadrado, p<0,05). A maioria das mulheres, 54,4%, desejava perder peso (mais de 2 Kg). A pontuação no BITE não diferiu entre M e H, mas quatro alunas relataram vomitar com o objetivo de perder peso. A análise dos dados do BSQ mostrou que as M preocupam-se mais com o corpo que os H; 12,4% das M foram classificadas com DIC moderado, enquanto que nos homens encontramos 3,8% (Qui-quadrado, p<0,05).
CONCLUSÕES:
A média de IMC dos homens foi maior do que a das mulheres, o que pode ser explicado pela maior freqüência da prática de atividade física, que levaria ao aumento da massa muscular e do IMC. Hoje, o conceito de ‘corpo masculino ideal’ passa pelo de corpo ‘musculoso’, ‘sem gordura’. Como a atividade física em excesso pode ser um método não purgativo utilizado por indivíduos bulímicos, seria interessante estudar melhor a relação dos alunos com a prática de exercícios. O fato de não acharmos escores elevados no BSQ dos homens não significa que eles não tenham DIC. Alguns autores sugerem que, mesmo não havendo restrições ao uso do BSQ em homens, ele é um instrumento mais voltado para as angústias das mulheres. O DIC apresentado pelas mulheres é motivo de preocupação, pois ele parece ter grande influência sobre a ocorrência e manutenção dos TA. Apesar do número de homens no nosso estudo não ser elevado, uma característica do curso, esperávamos encontrar diferenças no comportamento alimentar entre os gêneros, o que não foi observado. O relato de 2,3% de mulheres que vomitam com o objetivo de perder peso é um sinal para que fiquemos mais atentos às dificuldades de nossos alunos. Concluímos que uma significativa parcela de estudantes de Nutrição não está satisfeita com seu corpo e apresenta comportamento alimentar de risco para o desenvolvimento de TA. Os profissionais que atuam nesses cursos devem estar alerta para esse fato e discutirem estratégias de prevenção.
Palavras-chave:  comportamento alimentar; percepção corporal; nutrição.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004