IMPRIMIRVOLTAR
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
TOPONÍMIA DOS ACIDENTES FÍSICOS DA MICRORREGIÃO CAMPO GRANDE - MS: UM ESTUDO PRELIMINAR
Marineide Cassuci Tavares 1   (autor)   m.cassuci@bol.com.br
Aparecida Negri Isquerdo 2   (orientador)   anegri.isquerdo@terra.com.br
1. Departamento de Educação - Mestrado em Letras - CPTL -UFMS
2. Departamento de Comunicação e Expressão  CPDO - UFMS
INTRODUÇÃO:
Quando se estuda a língua de um determinado grupo, estuda-se também a sua cultura, o que propicia a compreensão da relação do homem com o mundo que o cerca. Essa realidade social e cultural é representada pelas palavras, já que é por meio delas que o homem nomeia e identifica os elementos da realidade que o cerca e, nomeando-os, atribui significado às palavras e ao mundo. O estudo deste processo de nomeação é de responsabilidade da Toponímia, um dos ramos da Onomástica, que não busca apenas a origem ou etimologia das palavras, mas também procura resgatar a motivação que há por traz da escolha de cada nome. Neste trabalho, analisamos a toponímia dos acidentes físicos  nomes de rios, córregos, ribeirões, cabeceiras...  da microrregião Campo Grande (MS), que reúne 08 (oito) municípios: Rio Negro, Bandeirantes, Corguinho, Rochedo, Jaraguari, Terenos, Campo Grande e Sidrolândia. Adotamos, para a pesquisa, a divisão em microrregiões utilizada pelo IBGE, publicada em 1991. Por meio do estudo dos nomes atribuídos aos acidentes físicos da área investigada, além da análise lingüística dos topônimos, procuramos recuperar aspectos históricos e sociais relacionados à região pesquisada, resgatando a memória dos moradores locais por meio do levantamento, registro, classificação e análise dos topônimos oficiais localizados nos municípios estudados.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi embasada num suporte teórico fornecido pela Lexicologia, particularmente os fundamentos teóricos relativos à Toponímia, pela Etnolingüística e pela Semântica. Também foram consultadas fontes que registram a história do estado de Mato Grosso do Sul, sobretudo da microrregião de Campo Grande. O corpus da pesquisa foi coletado das folhas cartográficas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de escala de 1: 250.00, datadas de 1987, que contemplam a microrregião Campo Grande (MR 04). Esse material foi disponibilizado pela SEPLANCT  Secretaria de Estado de Planejamento e de Ciência e Tecnologia do estado de Mato Grosso do Sul. Para a classificação dos topônimos coletados, adotamos o modelo taxionômico proposto por Dick (1992), que apresenta 27 categorias, divididas em Taxionomia de Natureza Física (11 taxes) e de Natureza Antropo-Cultural (16 taxes). Foram basicamente as obras dessa autora que serviram de fundamentação para a pesquisa, no que diz respeito aos aspectos teórico-metodológicos. Os dados foram analisados, a partir de dois enfoques: lingüístico (etimologia, estrutura e classificação do topônimo) e extralingüístico (a motivação para a escolha dos designativos, os reflexos da realidade sócio-cultural e física na escolha dos nomes).
RESULTADOS:
O levantamento dos topônimos que nomeiam os acidentes físicos da microrregião de Campo Grande (MR 04) resultou num total de 351. Dentre as 27 (vinte e sete) categorias apresentadas por Dick (1992), 24 foram contempladas pelo corpus analisado  08 (oito) de Natureza Física e 15 (quinze) de Natureza Antropo-Cultural. As categorias mais produtivas foram as dos fitotopônimos (cinqüenta e nove ocorrências), dos hidrotopônimos (cinqüenta topônimos) e a dos zootopônimos (quarenta e três designativos). Verificamos durante a análise que, ao nomear os acidentes físicos com os topônimos de índole vegetal  categoria mais produtiva fitotopônimos , o denominador procurou retratar a importância que as plantas possuíam para ele, seja pelo fornecimento de madeira forte como a do angico (córrego Angico), seja pelo alimento extraído de árvores frutíferas, como a figueira (córrego Figueira) e o indaiá (córrego Indaiá), ou ainda, pela utilidade da planta no cotidiano da vida daqueles que estavam acabando de se instalar no local, como o buriti (córrego Buriti), tipo de palmeira cujas folhas são usadas nas coberturas das casas e as fibras utilizadas no artesanato. Outros fitotopônimos analisados: são campeira (córrego Campeira), campina (córrego da Campina), mangue (córrego Mangue), que revelam características físicas do local.
CONCLUSÕES:
O estudo realizado deu mostras de que a pesquisa toponímica ultrapassa o simples estudo de palavras, de etimologias, de significados retirados de dicionários. Pelo estudo dos nomes atribuídos aos lugares, pode-se abstrair aspectos dos sentimentos mais íntimos do nomeador, a expectativa frente à realidade, a maneira do homem ler e interpretar a realidade. Isto porque o ato de nomear revela aspectos culturais de uma comunidade de falantes  valores, visão de mundo, hábitos, simbiose com o meio natural  manifestos na escolha das designações dos lugares. Assim, ao nomear, o homem se revela e revela seu meio, já que para escolher um nome ele busca motivação, seja na realidade física  aspectos naturais do local, como em córrego Abismo; na própria aparência física do acidente geográfico, como em cabeceira Comprida; nas riquezas da fauna, como em ribeirão do Cervo, ou da flora, como em cabeceira Jatobá, seja em valores culturais, sentimentos, ideologias de uma comunidade, manifestos no ato da nomeação: córrego Boa Fortuna, córrego Boa Sorte, córrego Esperança.Em síntese, o estudo demonstrou a importância de pesquisas que se ocupam das palavras, em especial daquelas que se voltam para o estudo dos nomes em geral, pois, por meio deles, foi possível recuperar aspectos etnolingüísticos e históricos representativos dos municípios pesquisados e registrar aspectos da história social e ideológica de um povo.
Palavras-chave:  léxico; toponímia; cultura.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004