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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem
A MICROPOLÍTICA NO COTIDIANO ESCOLAR: APROXIMANDO ESCOLA E COMUNIDADE
Thiago Sandrini Mansur 1   (autor)   tsmansur@hotmail.com
Sonia Pinto de Oliveira 2   (orientador)   soniapdo@npd.ufes.br
1. Graduando do Depto. de Psicologia, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
2. Profa. do Depto. de Psicologia, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
INTRODUÇÃO:
Muito se fala em formação docente na atualidade e o seu papel fundamental na efetivação das políticas públicas educacionais. Nossa pesquisa adentrou no campo da formação a partir de um olhar micropolítico. A micropolítica constitui-se como uma orientação na investigação dos diferentes dizeres/fazeres dos atores sociais sobre uma temática. Diversas concepções sobre formação coexistem, quer nas instituições de formação, quer no cotidiano de trabalho na escola. A partir da análise micropolítica, nesses espaços, ora vemos reafirmado o modelo hegemônico de formação, como: aquisição individual de um aparato técnico-instrumental que dicotomiza o apto e o inapto, o competente e o incompetente, em função da posse ou não desse aparato; ora, outras concepções, menos visíveis que, sem desqualificar o saber técnico, apostam na formação como um processo inacabado de construções e desconstruções coletivas de saberes, valores e concepções, exigindo diálogo constante com os diferentes setores da sociedade.
A partir do expresso acima, o objetivo da presente pesquisa foi fazer um mapeamento das diferentes práticas formativas, e seus efeitos, que se materializam no cotidiano de uma escola pública municipal de Vitória-ES, identificando o modelo hegemônico educacional e o que escapa a tal modelo. Outro objetivo foi analisar como as práticas formativas que escapam ao modelo hegemônico investem na articulação entre o cotidiano de trabalho e os processos sociais que se atualizam na comunidade.
METODOLOGIA:
Para alcançarmos os objetivos da pesquisa realizamos uma análise micropolítica das práticas de formação docente, principalmente, daquelas que colocam em questão a hegemonia das políticas neoliberais de educação pública, utilizando alguns instrumentos metodológicos. De acordo com o referencial teórico utilizado, a formação pode ser entendida como um processo envolvendo modos de relação social que dizem respeito a todos os segmentos, portanto, sempre antenado com os movimentos vivos que perpassam a comunidade. Sendo assim, os instrumentos metodológicos pretenderam dar visibilidade a tais práticas.
Realizamos um levantamento bibliográfico buscando dados que ampliasse nosso entendimento do problema levantado pela pesquisa e auxiliasse a articulação do arcabouço teórico com dados coletados pelos outros instrumentos metodológicos. Através das observações sistemáticas, em salas de aula, reuniões formais e informais, procedemos a um mapeamento do cotidiano de trabalho de uma escola pública municipal de Vitória-ES. Utilizamos questionários para entrevistar os educadores (professores, pedagogas, diretor e demais funcionários da escola), alunos e representantes da comunidade (associação de bairro, moradores e donos de estabelecimentos comerciais vizinhos à escola, etc.). Os questionários almejavam coletar falas, percepções e concepções que os entrevistados expressavam acerca da formação. Por fim, o diário de campo conteve informações e apontamentos referentes ao dia-a-dia de pesquisa.
RESULTADOS:
O referencial teórico utilizado na pesquisa, a micropolítica, não requer um trabalho com dados estatísticos. As informações obtidas pelos instrumentos metodológicos referem-se às diversas práticas formativas que habitam o cotidiano escolar. Para sistematizar e melhorar a compreensão desses dados, as práticas de formação são entendidas a partir das seguintes categorias: formação como transmissão e aquisição de informações aliada à experiência de trabalho; como aquilo que legitima o trabalhador, dicotomizando o apto e o inapto, o competente e o incompetente, o saber e o não-saber; como aquisição de um saber técnico-instrumental, utilizado principalmente para motivar e desafiar o aluno ao conhecimento; como modelagem de sujeitos; como construção coletiva e cotidiana de conhecimentos a partir da aliança entre a experiência de trabalho e o “saber acadêmico”; como processo inacabado que supõe construções e desconstruções de saberes, valores, concepções; como atividade que alia o cotidiano de trabalho à comunidade/bairro da escola; como processo evolutivo com etapas progressivas (formação inicial x formação continuada); como mediadora para a reflexão crítica.
CONCLUSÕES:
Através da análise dos resultados, concluímos que, por um lado, quando a formação é somente concebida a partir do modelo hegemônico, as práticas formativas estão intimamente ligadas ao não reconhecimento por parte dos professores de que produzem saber, assim como a desqualificação das estratégias por eles criadas no cotidiano de trabalho, considerando-as como saberes de segunda ordem. O discurso do fracasso impera, paralisando suas ações, investindo-se pouco na construção de saberes junto a comunidade, já que, por esse ponto de vista, a aquisição de conhecimentos é tarefa exclusiva do educador.
Por outro, fica evidenciado, embora de forma mais frágil e esporádica, que os professores desconfiam da “naturalidade” desse modelo hegemônico, percebendo seu caráter histórico-político. Assim, percebem-se como produtores de conhecimento autorizados e, potencializados, desmancham as categorias apto/inapto, competente/incompetente e a divisão técnica e social do trabalho, em seus especialismos, é posta em questão. Afirmam que formação é processo contínuo de construções e desconstruções de saber que serão sempre provisórias, circunstanciais e não voltadas a atingir um modelo pré-estabelecido. Entendem a formação como a constante problematização das práticas escolares, tarefa que só é possível realizar-se coletivamente, prescindindo, nesse sentido, da atuação conjunta escola/comunidade. Não desqualificam técnicas nem metodologias, mas se perguntam de que forma e para que serão utilizadas.
Instituição de fomento: Universidade Federal do Espírito Santo
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  educação; formação; micropolítica.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004