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PLANEJAMENTO ENERGÉTICO PARA A SUSTENTABILIDADE DA RESERVA EXTRATIVISTA DO ALTO JURUÁ (REAJ): A ESCOLHA DO LOCAL PARA A COMUNIDADE PILOTO.
Elizabete Moreira Dias 1   (autor)   betedias2001@hotmail.com
Marco Alfredo Di Lascio 1   (orientador)   
Ana Tereza Siqueira Melo 1   (colaborador)   
1. Depto. de Engenharia elétrica, Faculdade de Tecnologia, Universidade de Brasília - UnB
INTRODUÇÃO:
O desenvolvimento energético brasileiro foi condicionado pelo processo de industrialização e desconsiderou um papel fundamental no fornecimento de energia, a inclusão social. Sua revisão passa, portanto, pela implantação de um modelo de gestão ambiental e planejamento energético que considere: o homem e seu meio social, ambiental e econômico como atores, em todas as etapas de execução, e na determinação do modelo energético próprio e peculiar a cada comunidade.
O presente trabalho se propõe: aplicar um modelo de gestão ambiental na escolha do local ideal para implantação de módulos de geração de energia elétrica na Reserva Extrativista do Alto Juruá - REAJ. Esta etapa é parte de um projeto maior, desenvolvido pelo Projeto Equinócio FT/UnB.
Segundo dados do IBGE de 1998, enquanto o sudeste consumia 58% da energia elétrica produzida no Brasil, no norte este índice era de apenas 5%. Esta discrepância é justificada pelas diferenças regionais criadas ao longo da história e pelas peculiaridades naturais da região.
Assim, cabe às comunidades amazônicas buscar um modelo próprio de desenvolvimento que considere suas diferenças como vantagens, seus potenciais como recursos, seu saber como ciência e sua floresta como energia. Nesta perspectiva é que foi feito o presente estudo nas 35 comunidades que ocupam 5.062 km2 da REAJ.
METODOLOGIA:
Para a compreensão dos critérios de escolha da localização ideal para a implantação dos módulos na REAJ, é necessário que façamos uma breve explanação dos objetivos gerais do Projeto Equinócio – FT/UnB.
O projeto visa a geração de energia alternativa e valorização da biomassa nativa da floresta Amazônica, em especial das espécies oleaginosas, com o objetivo de criar opções de emprego e renda, sem comprometer a sustentabilidade do ecossistema. Com a extração do óleo vegetal, cujo resultado da comercialização de sua parte mais valiosa é suficiente para cobrir os custos de coleta e extração, se obtém óleo diesel e o bagaço que são direcionados para cobrir as necessidades energéticas das populações envolvidas no processo.
Para atender a todos os propósitos, o local para implantação do primeiro módulo considerou: densidade e disponibilidade de espécies oleaginosas, o acesso, a disponibilidade de mão-de-obra, a organização e motivação das comunidades. Estas informações foram confirmadas com visitas às comunidades pré-selecionadas. Através de reuniões e aplicação de questionários.
O reconhecimento do local se deu com o sobrevôo da reserva, detectando: as manchas de palmeiras oleaginosas, o tamanho das comunidades e as condições de navegabilidade dos rios. Estes dados quantificados, geraram índices de 0 a 5, indicando a viabilidade da comunidade para a instalação do projeto e, a partir destes, foram obtidos valores médios comparativos entre as comunidades.
RESULTADOS:
Observados todos os critérios, foi escolhida a comunidade de Belfort para a instalação do primeiro módulo de geração de energia a partir de óleo vegetal
Na avaliação do acesso, foram considerados dois fatores: navegabilidade durante o ano e estabilidade geológica. O primeiro, se deve, não só ao regime das chuvas da região, como à formação geomorfológica dos rios, que apresentam praias e barrancos formados por aluviões holocênicos onde o processo de sedimentação é maior que a erosão. Isto dificulta a navegação, em muitos trechos, nos meses em que o rio tem baixo fluxo. Quanto à estabilidade, predominem os rios sinuosos de drenagem dendrítica e a formação de vários meandros abandonados Foi importante encontrar trechos do rio controlados por arcabouço geológico estrutural que permitisse maior estabilidade ao local.
No segundo critério, as comunidades foram classificadas conforme o número de famílias, variando entre 5 e 40, prevendo a mão-de-obra disponível.
Para avaliação, da disponibilidade e da densidade de palmeiras oleaginosas, foram detectadas e classificadas as manchas de palmeiras, num raio de 5 km das comunidades.
A última avaliação considerou a motivação e o nível de organização das comunidades, ou seja, se os seringueiros estavam interessados e dispostos a trabalhar na extração de oleaginosas e se já apresentavam organização comunitária capaz de administrar e operar os módulos de geração de energia.
CONCLUSÕES:
A comunidade indicada, Belfort, foi escolhida para iniciar o projeto piloto por está próxima à cidade de Marechal Thaumaturgo, nas margens do rio Juruá. O acesso por barcos, tipo voadeira, de maior porte e potência, é possível durante os 12 meses do ano.
Próximo a esta comunidade, na margem esquerda do rio Juruá, a floresta aberta de várzea apresenta alta densidade e disponibilidade de palmeiras oleaginosas. A comunidade também é uma das mais organizadas com: escola, rede de energia, motor a diesel, casa de farinha e etc. As mais de 30 famílias se mostraram disponíveis e interessadas em atividades como a coleta de frutos e a administração das cooperativas de energia.
Os critérios para a escolha do local de instalação do projeto piloto de geração de energia elétrica possibilitou a mobilização de todos os elementos essências ao requisito da sustentabilidade. Reafirmou a proposição de que o espaço deve ser construído coletivamente, respeitando as características políticas, sociais, culturais, econômicas e o meio físico, condições essenciais para a sustentabilidade do projeto. Ao encontrar soluções construídas a partir da própria comunidade obteve sustentabilidade social e política; a econômica, veio ao se valorizar os produtos locais, gerando renda interna e diminuído a dependência externa e; obteve sustentabilidade ambiental, porque a preservação do meio ambiente passou a ser condição para obtenção da renda e da melhoria da qualidade de vida local.
Instituição de fomento: FT - UnB e IBAMA
Palavras-chave:  Energia; Sustentabilidade; Amazônia.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004