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F. Ciências Sociais Aplicadas - 5. Arquitetura e Urbanismo - 1. Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo
RECIFE EM MAPAS: UMA VISÃO DO SÉCULO XVII
Flávia Campos Cerullo 1   (autor)   flaviacerullo@ig.com.br
Maria Angélica da Silva 1   (orientador)   mas@fapeal.br
1. Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas - UFAL
INTRODUÇÃO:
Durante a permanência holandesa no Brasil, no período de 1637 a 1644, vários artistas que vieram na comitiva trazida por Maurício de Nassau retrataram a paisagem local, em mapas e vistas, com fins culturais e militares. Esse material iconográfico é, neste estudo, fonte de investigação sobre a formação da paisagem e do traçado urbano da atual cidade de Recife.
Devido à importância adquirida ao se tornar sede do governo holandês, ao longo de sua permanência, foi a mais retratada por esses estrangeiros que registraram a paisagem natural e edificada. Nessas imagens estão ressaltadas as intervenções urbanas feitas na Ilha de Antônio Vaz, área que foi organizada a mando de Maurício de Nassau, implementando um núcleo baseado em princípios da prática urbanística holandesa e denominando de Cidade Maurícia.
Este estudo, a partir de fontes iconográficas, procura sobrepor os dados atuais aos antigos a fim de se buscar resquícios da presença holandesa e sua possível influência na construção do espaço e configuração urbana de Recife.
Como principal referência para este trabalho, tomou-se as obras e estudos realizados pelo professor José Luis da Mota Menezes, que estudou em profundidade o início da ocupação da cidade.
A intenção final da pesquisa, na qual este trabalho se insere, é cruzar os dados de várias vilas e cidades, de forma a levantar as premissas da implantação desses primeiros núcleos de ocupação do território nordestino, sob influência européia.
METODOLOGIA:
A metodologia adotada consistiu, primeiramente, em um reconhecimento da cidade atual através de visitas in loco na área que corresponde ao antigo núcleo histórico, para a observação das características da arquitetura e do traçado urbano. Nessas visitas foi realizado um levantamento fotográfico da área, além da elaboração de croquis. Também se buscou realizar contatos com estudiosos para a obtenção de informações mais específicas sobre a localidade.
Foi realizada uma ampla revisão bibliográfica referente, principalmente, à presença holandesa no Recife, através da qual puderam ser extraídas importantes informações acerca do urbanismo colonial e descrições da cidade.
Em seguida, prosseguiu-se uma coleta de imagens do período em questão. Sobre essas imagens foram preenchidas fichas que contêm informações como descrição da imagem, título, autor, dimensão, procedência e fonte. Essas informações foram de extrema importância para a etapa de análise das imagens e serviram de base para o estudo.
Para o preenchimento dessas fichas, foi necessária a tradução de legendas escritas em holandês arcaico ou latim.
RESULTADOS:
Como resultado, foi reunido um conjunto de informações sobre a cidade brasileira mais influenciada pela ocupação holandesa do século XVII.
Comprovou-se que a ocupação holandesa, arquitetonicamente, foi mais presente na Ilha de Antônio Vaz, que se transformou na Cidade Maurícia. Essa localizava-se em um grande recinto fortificado, denominado Groot Kwartier, entre o Forte Ernesto e o das Cinco Pontas. Diferentemente da península (então Vila de Santo Antônio do Recife), onde apenas organizou-se melhor o arruamento permanecendo as características portuguesas, para a Ilha foi elaborado um projeto baseado no urbanismo de cidades européias seguindo os princípios da racionalidade, geometria e regularidade. Nesse projeto, canais separavam as quadrículas ortogonais e os espaços livres eram reservados para praças ou largos, utilizados para comércio ou lazer.
Além de outros incentivos que foram oferecidos aos moradores a fim de se transferirem para a nova Cidade Maurícia, foi construída uma ponte ligando-a à península, intensificando seu povoamento. Em 1642, Maurício de Nassau se transferiu para a nova cidade residindo no Palácio de Friburgo, o qual se tornou um núcleo de estudos científicos e onde se destacou o Parque de Friburgo, primeiro jardim urbano do Brasil.
Através da metodologia adotada, a partir do estudo iconográfico, foi possível comprovar ou descobrir locações e datas de importantes marcas urbanas de Recife.
CONCLUSÕES:
O desenvolvimento urbano da Cidade Maurícia baseou-se nos novos planos de cidades européias que estavam sendo reformuladas no período. Além de urbanizar a Ilha de Antônio Vaz, melhorando as condições de vida da população, Maurício de Nassau se mostrou inovador e comprometido com os princípios humanistas ao trazer, em sua comitiva, artistas e naturalistas que investigaram a paisagem local. Conseqüentemente, tornou-se possível, hoje, o estudo desse percurso urbano através das imagens.
Com este estudo pôde-se compreender melhor o processo de formação da cidade de Recife e observar os aspectos da interferência holandesa.
Esse diagnóstico pode servir de base para futuros estudos de preservação do patrimônio histórico e na elaboração de planos diretores.
Instituição de fomento: MEC/SESu
Palavras-chave:  Recife; holandeses; iconografia.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004