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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA NA FRONTEIRA AMAZÔNICA MATO-GROSSENSE – O CASO DE SINOP
Ronei Coelho de Lima 1   (autor)   roneicoelho@bol.com.br
Júlia Adão Bernardes 2   (orientador)   
1. Pós-Graduando do Programa de Mestrado do Depto de Geografia – UFMT
2. Profª Drª do Programa de Mestrado do Depto de Geografia - UFMT
INTRODUÇÃO:
O estado de Mato Grosso atravessa atualmente um processo de expansão da sua economia e a produção agrícola é determinante para este crescimento que, por sua vez, provoca mudanças no espaço produtivo, em que este, tecnificado, passa a integrar o circuito internacional produtivo se submetendo, desta forma, ao capital industrial e financeiro que no caso da agricultura é representado pelas agroindústrias. A região de Sinop, situada no médio norte mato-grossense, portanto dentro da área da fronteira amazônica, passa por este processo de modernização do setor agrícola, baseado principalmente na produção de soja, cujos resultados agem diretamente no seu espaço e, nos diversos atores nele contidos, transformando as relações sociais e a produção espacial, de acordo com o novo padrão tecnológico que se estabelece e com as novas territorialidades construídas. Compreender este processo de modernização, com as suas racionalidades, sob a ótica capitalista, e as contradições inerentes, cujos resultados negativos recaem sobre o meio ambiente e sobre a parte excluída da sociedade, é o objetivo deste trabalho.
METODOLOGIA:
Para que o objetivo de compreender o processo de modernização da agricultura em Sinop tivesse êxito, partimos de algumas estratégias e procedimentos metodológicos que, embasados à luz dos aportes teóricos, pudessem nos indicar os resultados de tal processo no espaço e na sociedade local. Assim, a visita a campo efetivada permitiu-nos observar as transformações às quais o espaço estava passando e como o mesmo torna-se racional, sob a ótica capitalista, pois se estrutura materialmente para atender as novas técnicas que se estabelecem. Dentro deste processo de interação com o objeto de estudo, efetivamos entrevistas com os diversos atores, como: produtores rurais, atores diretos, mesmo submissos ao capital financeiro, autoridades públicas e representantes da classe produtora, que são intermediários das relações estabelecidas e, representantes da agroindústria, ator hegemônico deste processo de modernização por submeter os demais, cujos resultados permitiram compreender este processo em curso. Pela exigüidade do tempo da pesquisa, não foi possível aprofundar na questão dos trabalhadores do setor, fato este que implicou na necessidade de se obter dados junto à prefeitura do município, cuja análise permitiu-nos compreender as relações desta classe dentro deste processo de modernização do setor agrícola, que implica em toda a sociedade local.
RESULTADOS:
Os resultados obtidos na pesquisa de campo, analisados à luz dos conceitos teóricos pertinentes, leva-nos a considerar que a modernização do campo, que busca no norte mato-grossense novos espaços para a sua expansão, tecnifica e territorializa este espaço, inserindo-o no circuito produtivo internacional e submetendo-o ao capital industrial e financeiro. Outro fato verificado é que, dentro deste processo de territorialização do capital, a produção tradicional perde espaço, o que se comprova com a redução da área destinada à pecuária extensiva e, ainda, do caráter excludente deste modelo tecnificado, em que a pequena produção não tem acesso. As relações de trabalho que se estabelecem são próprias do capitalismo, com o assalariamento da mão-de-obra e há, por conseguinte, o declínio das relações não-capitalistas e, em que pese às condições da economia local sejam de crescimento, verificou-se o surgimento de um processo de favelização que ocorre na periferia da cidade, que mesmo ocorrendo em pequena escala, demonstra que o modelo não promove o desenvolvimento de todos os setores da sociedade. A luta da sociedade local pela inversão do sentido de escoamento da safra local, em que esta seria escoada pelos portos de Meridituba e Santarém, ambos no Pará, que provocaria uma valorização da produção e do espaço local, demonstra como o capital, no seu processo de otimização, utiliza-se de estratégias para tornar possível uma ampliação do acumulo de capital na região.
CONCLUSÕES:
Este estudo, que inicia um processo de análise da modernização da agricultura na área de fronteira amazônica na região de Sinop, nos permitiu compreender alguns elementos presentes na caracterização das transformações que vem ocorrendo no espaço desta região, quando da introdução da ciência, tecnologia e informação, vinculada diretamente com a expansão da produção de soja. Um ponto importante da pesquisa foi detectar que este processo modernizador, em que pese transformar as relações de tempo social na região, se mostra excludente, quando permite apenas aos produtores capitalizados se reproduzirem neste meio tecnificado. Percebemos ainda que os diversos setores da sociedade buscam redirecionar o eixo de escoamento da produção, que sairia do destino sul (portos de Santos e Paranaguá) e se dirigiria para o norte (portos de Meridituba e Santarém). Todos os esforços se voltam para esta mudança e, se esta ocorrer, haverá uma valorização da produção local permitindo aos produtores a acumulação ampliada do capital, alem de ser de interesse também das agroindústrias estabelecidas na região que vislumbram nesta possibilidade, um aumento da produção que permitiria complementar o circuito de produção-circulação com maior agilidade. Todavia o capital encontra, na região, um espaço ideal para se reproduzir e se expandir, transformando definitivamente a fronteira amazônica em área pioneira da soja e dos processos tecnificados que a acompanha.
Palavras-chave:  Modernização da agricultura; Espaço tecnificado; Fronteira amazônica.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004