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G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil
A TRAJETÓRIA DO FUNDADOR DA CIDADE DE MONTALVÂNIA NA MEMÓRIA COLETIVA: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A CULTURA LOCAL E ESCOLAR
KÁTIA MONTALVÃO 1   (autor)   katiamontalvao@micks.com.br
1. Depto. de Educação de Guanambi, Universidade do Estado da Bahia - UNEB
INTRODUÇÃO:
O desejo de trilhar os caminhos do fundador da cidade de Montalvânia - Antônio Montalvão (1917-1992) - centrados no período de 1950 a 2002, constituiu-se na necessidade de se registrar a memória coletiva construída pelo grupo de apoiadores e participantes do projeto de fundação desta cidade que se situa no Norte de Minas Gerais.

O caminho histórico de Montalvânia inicia-se com a sua idealização, planejamento e fundação (com recursos próprios) locada nas necessidades e anseios de setores sociais menos favorecidos da região, constituídos, na sua maioria, por pequenos agricultores que se rebelaram contra os mandos políticos dos grandes fazendeiros locais (os conhecidos coronéis), sob a liderança política do camponês Antônio Montalvão.

A preocupação ultrapassou o registro da substância social da memória, buscando os efeitos e os usos que o presente e o futuro poderão vir a fazer dessas lembranças, sobretudo no que toca aos processos educativos escolares. Considerando que o diálogo entre presente e passado poderá vir a desempenhar um papel de relevância na constituição da identidade e na formação de uma cidadania mais participativa. Almejando-se que os diferentes grupos e gerações ao refletirem a respeito da memória coletiva do grupo construtor de Montalvânia em relação à trajetória do fundador da cidade e ao confrontá-las com outras memórias, desenvolvam, de forma crítica, ações cidadãs.
METODOLOGIA:
Ressaltando a valorização do sujeito como intérprete do mundo que o cerca e como produtor de significações sociais, optamos por uma a abordagem qualitativa e pela adoção metodológica da história oral. Admitindo, assim, que os heróis poderão vir não só dentre os líderes, mas também dentre a maioria desconhecida do povo (THOMPSON, 1992).

A seleção dos atores sociais se deu em função dos envolvimentos e experiências em acontecimentos ou conjunturas históricas, políticas e sociais relacionadas à trajetória do seu fundador e foram distribuídos em gerações diferentes para criarmos possibilidade de comparações e de confronto entre as (re)significações coletadas.

Em um primeiro momento foram realizadas entrevistas coletivas e posteriormente foram selecionados depoentes para entrevistas individuais. A tarefa de análise consistiu na construção de um conjunto de categorias que foram localizadas nos discursos dos entrevistados e tornaram foco de reflexão, onde foram identificadas as evidências e tendências relevantes. Como complementação de estudos, foram recolhidos jornais, revistas e fotografias reveladoras da historicidade pessoal e grupal. Foram também coletados dados secundários gerados por entrevistas não realizadas por mim. Nessa perspectiva o nosso campo de pesquisa constituiu-se através de um processo intenso e continuado de aproximação, inserção, compreensão e interação com moradores de Montalvânia.
RESULTADOS:
Percebe-se nas representações sociais emergidas do grupo de depoentes desta pesquisa, que as relações de poder/opressão exercidas pelos coronéis e que tanto subordinavam os trabalhadores e pequenos proprietários do extremo Norte de Minas, começaram a desmoronar a partir da presença política de Antônio Montalvão na região e da fundação da cidade de Montalvânia. O entrelaçamento da história de Montalvânia com a história de vida de Montalvão desenraiza as reminiscências de idealismo, luta, determinação e persistência em prol de um novo espaço de mais liberdade e de melhores condições de vida social, política e econômica. A questão que comumente mais aparece é em relação ao clima de esperança na construção coletiva da nova cidade que é marcada pela liderança de Montalvão e que vai de embate e desestruturação do regime ditatorial coronelista do município.

Percebe-se, também, que pessoas de gerações passadas estão imbuídas de uma certa preocupação para com o registro e a preservação da memória social que parece-nos estar ligada à aquisição de referências identitárias quando da convivência com a criação da cidade. Todavia, no presente, são poucas as lembranças das atividades que ressaltam as lutas dos sujeitos históricos, tanto na comunidade como na escola. As referências aos indivíduos sociais, sujeitos construtores da história local, acabam passando despercebidas no cotidiano da cidade.
CONCLUSÕES:
A partir dos depoimentos que se pode compreender mais um pouco da história do fundador de Montalvânia preservada nas lembranças desse grupo participante da formação inicial da cidade. A trilha histórica foi construída no intento de resgatar os registros das memórias e, conseqüentemente, a forma como estas atuam na determinação da compreensão do passado, do presente e do futuro.

Ao se trazer à tona memórias coletivas de um determinado grupo participante do projeto de fundação da cidade emergiu, como confronto histórico, a atual trajetória da cidade que apresenta uma história presente muito diferenciada, politicamente, da história no passado. O interesse para a compreensão deste processo colocou no cerne deste trabalho a discussão da formação da identidade como um processo móvel em face da dinâmica da realidade e, nesse transitar identitário a necessidade da formação identitária edificada em valores históricos locais.

Assim, em busca de uma maior valorização e respeito às especificidades de processos históricos locais é preciso repensar criticamente a prática pedagógica do ensino escolar de forma que seja mais articulada aos conhecimentos sobre as memórias e história local. É nesse confronto cultural entre a homogeneização e a diversidade cultural que a história local torna-se referência para um melhor conhecimento e consciência dos valores peculiares implícitos nas distintas comunidades.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  memória; identidade; história.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004