POLINIZADORES E POLINIZAÇÃO: O VALOR ECONÔMICO DA CONSERVAÇÃO

 

BRENO MAGALHÃES FREITAS1

 

 

            A polinização costuma ser apontada como o mais importante benefício das abelhas para a Humanidade. No entanto, a importância da polinização e sua real dimensão para a vida em nosso planeta é quase sempre ofuscada por definições de caráter acadêmico e pouco assimiláveis para o público, e pela baixa compreensão geral de como ela ocorre e suas conseqüências nos ecossistemas silvestres e agrícolas.

Estima-se que aproximadamente 73% das espécies vegetais cultivadas no mundo sejam polinizadas por alguma espécie de abelha, 19% por moscas, 6,5% por morcegos, 5% por vespas, 5% por besouros, 4% por pássaros e 4% por borboletas e mariposas. Os serviços de polinização prestados por estes polinizadores somente na indústria de sementes de alfafa (Medicago sativa) no Canadá é avaliado em 6 milhões de dólares canadenses por ano. Nos EUA, considerando-se apenas polinizadores nativos dos EUA (excluindo Apis mellifera), o valor dos serviços de polinização é estimado em US$ 4,1 bilhões de dólares por ano. Em termos globais, a contribuição dos polinizadores às principais culturas dependentes destes agentes alcança US$ 54 bilhões de dólares por ano. É preciso lembrar também que grande parte dos serviços de polinização prestados pelos agentes polinizadores ocorre em espécies vegetais silvestres e está incluído dentro dos chamados serviços de ecossistema, os quais também incluem os agro-ecossistemas, e foram estimados valerem, em média, US$ 33 trilhões de dólares anuais.

No Brasil, os serviços de polinização têm sido pouco valorizados e estudados. Não existem estudos compreensivos sobre o valor econômico da polinização nos sistemas agrícolas e/ou naturais. Isto é compreensível, pois diferente de vários outros países onde a polinização é considerada um fator de produção agrícola ou manutenção de ecossistemas silvestres, no Brasil poucos são os cursos de agronomia, engenharia florestal ou biologia onde este assunto é abordado profundamente, além dos conceitos acadêmicos e generalistas discutidos anteriormente. Pelo contrário, a ênfase sempre é dada nas novas variedades, nos agroquímicos, nas técnicas de cultivo, no equilíbrio ecológico isoladamente, como se nada disto interagisse de uma forma ou de outra com o processo de polinização das plantas. Porém, se o equilíbrio ecológico depende da capacidade das florestas e matas se perpetuar e o objetivo final de quase todo cultivo agrícola está relacionado à produção de frutos e sementes, como dissociar os vários aspectos do processo e serviços de polinização?  

Apesar da falta de estudos da valoração dos serviços de polinização no Brasil, sabemos que não é pequena. O agronegócio é responsável por 1/3 de todas as riquezas geradas no país atualmente, representando US$180,2 bilhões de dólares. Mesmo considerando apenas oito culturas (melão, maçã, maracujá, caju, café, laranja, soja e algodão) e somente os valores obtidos pelo Brasil com a exportação de seus produtos, excluindo todo o comércio interno, a geração direta e indireta de empregos, etc., verifica-se que estes bens captaram para o Brasil US$ 9,3 bilhões de dólares. Qualquer incremento médio de apenas 10% somente na produtividade destas oito culturas significa potencialmente quase US$ 1 bilhão de dólares. Pelo que vimos anteriormente, a maioria das culturas agrícolas respondem com aumentos bem mais expressivos quando polinizadas adequadamente. 

Esta palestra expõe a necessidade de pesquisas substanciais para identificar polinizadores, avaliar suas eficiências e desenvolver métodos de conservar, manejar e/ou introduzir polinizadores em áreas agrícolas e silvestres. Finalmente, ele mostra a necessidade de iniciativas para esclarecer a população em geral sobre o papel e importância da polinização para os sistemas agrícolas e silvestres, focando principalmente nos agricultores, apicultores, profissionais das ciências agrárias, técnicos em geral, extensionistas, ONGs, formadores de políticas públicas e tomadores de decisões. 

 

 

 

 

1. Departamento de Zootecnia – CCA, Universidade Federal do Ceará, C.P. 12168 Campus do Pici,

CEP 60.021-970,  Fortaleza – CE, Brazil.  e-mail: freitas@ufc.br