FAUNA MARINHA COSTEIRA DO CEARÁ

 

Helena Matthews-Cascon

Universidade Federal do Ceará

hmc@ufc.br

 

 

 A costa do Estado do Ceará possui aproximadamente 570 km de extensão. O litoral deste estado é caracterizado por apresentar praias arenosas e planícies de acumulação de sedimentos onde ocorrem dunas móveis e fixas.  A predominância arenosa da faixa litorânea é ocasionalmente interrompida por dois tipos de formações de material consolidado: os afloramentos rochosos e os recifes de praia, ou “beach rocks”. Os afloramentos de rocha consolidada (e.g., Jericoacoara, Pecém) são estruturas descontínuas localizadas geralmente no supralitoral com penetração restrita abaixo da linha de marés, enquanto os recifes de praia (e.g., Fleixeiras, Iparana), que ocorrem predominantemente na região localizada entre a preamar e a baixamar, possuem formato tabular, levemente inclinado em direção ao mar e são formados por areia cimentada por carbonato de cálcio e óxido de ferro.

As áreas com substrato rochoso geralmente abrigam uma flora e fauna mais ricas do que as de praias com areia. Muitos animais da faixa entre marés podem tolerar a subida e descida da água e o bater das ondas, quando conseguem fixar-se firmemente a um substrato estável. Existe um zoneamento distinto de algas e de vários tipos de animais, entre a marca da maré baixa e a zona de respingo supralitoral. Num ambiente rochoso é característico o aparecimento de poças de marés. Estas poças são microcosmos da vida marinha encontrado na faixa entre marés e facilmente acessíveis quando a maré está baixa. Os três principais fatores que causam variações entre estas poças são: localização desta poça na praia, o seu grau de exposição às ondas e as dimensões e formato da poça.

Organismos vivendo em uma poça mais alta em relação à praia vão sofrer um período maior de exposição, estando assim sujeitos a uma maior dessecação. Se a poça for muito rasa, os organismos vão sofrer com o aumento da temperatura e consequentemente com a falta de oxigênio. Estas poças são colonizadas por organismos sésseis e vágeis, que podem ser permanentes ou apenas usar as poças como refúgios, quando a maré está baixa.

A faixa litorânea, onde o mar encontra a terra, apresenta um dos mais difíceis “habitats” que os organismos podem encontrar, já que seus habitantes enfrentam, na maioria, condições de ambiente terrestre e de ambiente aquático duas vezes, a cada 24 horas, sendo uma verdadeira área de transição. Dentre os principais problemas que seus habitantes enfrentam, está, temperatura, hidrodinamismo, dessecação, falta de oxigênio, competição e predação.

Para poder colonizar a faixa entre marés os organismos necessitam de adaptações que permitam sua sobrevivência. Dentre os que habitam substrato rochoso, as cracas e alguns moluscos são bem adaptados, pois apresentam um exoesqueleto bastante eficaz para enfrentar os problemas mais característicos do ambiente entre marés.

Em função do tempo de exposição durante a maré baixa, a faixa litorânea é dividida em supra, médio e infralitoral, a topografia sendo extremamente importante, pois dela depende a largura da faixa entre marés bem como a intromissão de diferentes níveis.

Para cada tipo de substrato na faixa entre marés existem diferentes associações de animais, os quais podem indicar, devido suas exigências e/ou tolerâncias ecológicas, as divisões da faixa onde habitam. O limite do substrato pode induzir os organismos sésseis a uma competição intra e interespecífica, mas a predação pode controlar essa competição.

O pioneiro no estudo de Zoologia no Estado do Ceará foi o  Prof. Francisco Dias da Rocha (1869-1960), que em 1948 publicou o trabalho “Subsídio para o estudo da fauna cearense (Catálogo das espécies por mim coligidas e notadas). Rev. Inst. do Ceará, 62: 102-135” onde os táxons Porifera, Cnidaria, Mollusca, Crustacea, Echinodermata, Tunicata e Peixes foram reportados.

Em dezembro de 1960, foi fundado a Estação de Biologia Marinha da Universidade Federal do Ceará atualmente Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR). Este Instituto tem atuação nas áreas de botânica, zoologia, geologia, microbiologia, pesca e aquacultura. Em 1961 houve a criação do periódico “Arquivos da Estação de Biologia Marinha da UFC” atualmente “Arquivos de Ciências do Mar”.

Os levantamentos taxonômicos  realizados  sobre a fauna marinha costeira do Ceará entre as décadas de 1960/80 contribuíram de forma significativa para o conhecimento  desta fauna. Os grupos que receberam maior destaque foram os moluscos, os crustáceos e os peixes.  Dentre estes, uma série de trabalhos sobre moluscos foram realizados pelo Prof.Dr. Henry Ramos Matthews, sobre custáceos pelo Prof.Fausto-Filho e sobre peixes pelos professores Melquíades Pinto Paiva e Hermínia Lima. Neste período foram formadas as coleções Malacológica, Carcinológica e Ictiológica estando estas,  depositadas no  Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR) da Universidade Federal do Ceará. Neste período concentraram-se  muitas publicações sobre a fauna marinha presente na região costeira do estado do Ceará.

Durante as décadas de 1980/90 poucos trabalhos foram realizados em função de aposentadorias, afastamento para qualificação e transferência de pesquisadores e professores da área.

No período de 1990/2000 ocorreram contratações e qualificação de pesquisadores e professores, além de projetos de graduação e pós-graduação. intercâmbio com outras universidades e a  criação do Laboratório de Malacologia e Invertebrados Marinhos do Departamento de Biologia da UFC.

Os ambientes estudados  foram: Plataforma Continental (material coletado pelo NOc “Almirante Saldanha”, barcos pesqueiros CANOPUS e AKAROA, B. Pq. “Prof. Martins Filho”  NOc. “Victor Hansen” (Alfred Wegener Institut/Alemanha) e Programa REVIZEE);  praias arenosas; praias rochosas e estuários.

Atualmente novos grupos estão sendo inventariados (Cnidaria, Bryozoa, Echinodermata, Tunicata, Cetacea e Sirenia). Novos projetos realizados no estado do Ceará foram: Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira – PROBIO (Subprojeto – “Biota Marinha da Costa Oeste do Ceará”), Projeto de Caracterização e Monitoramento Ambiental da Bacia do Ceará – PETROBRÁS, Projeto Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona Costeira do Estado do Ceará (ZEE-CE) e Diagnóstico Geoambiental e Socioeconômico e Proposta de Monitoramento das Áreas Estuarinas e Manguezais dos rios Malcozinhado, Catú, Timonha e Jaguaribe,  no Estado do Ceará.