OLIMPÍADAS DE MATEMÁTICA

UMA EXPERIÊNCIA DE SUCESSO EM EDUCAÇÃO NO CEARÁ

 

João Lucas Marques Barbosa

 

O objetivo desta exposição é o de oferecer uma visão sobre a experiência das olimpíadas no Ceará, considerada nacionalmente como coroada de êxito. Esta experiência inclui o trabalho de mais de 25 anos com a Olimpíada Cearense de Matemática , a participação do Ceará na Olimpíada Brasileira de Matemática, o Projeto Linguagem das Letras e dos Números – Leituralizar e Numeratizar, e o Projeto Olimpíadas de Fortaleza.

 

1.      A situação do Ensino de Matemática no País.

A qualidade do ensino de Matemática no País atingiu níveis inaceitáveis que comprometem mesmo o futuro do desenvolvimento do País. Os resultados do Exame Nacional de Cursos (ENC), o Provão, do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e do Sistema de Avaliação do Ensino Básico (SAEB) evidenciam de forma objetiva o baixo nível em que se encontra o ensino de matemática que é oferecido à quase totalidade de nossos jovens.

No SAEB são aplicados testes em uma amostra de estudantes da quarta e oitava série do ensino fundamental e da terceira série do ensino médio. São definidos níveis de proficiência: o nível 300 engloba competências que deveriam ser do domínio dos estudantes que concluem o ensino fundamental. Entretanto, apenas 15% dos concluintes do segundo grau do ano 1993 atingiram tal nível. Os concluintes possuíam três anos de defasagem no desenvolvimento das habilidades matemáticas. Apenas 3,7% deles atingiram o nível esperado. Nos anos 1997 e 1999 e 3003 não ocorrera, mudanças significativas neste quadro. 

No Provão a média dos graduandos em Matemática foi 1,68 (quando o total máximo possível era 10).  Nesta prova dois fatos foram significativos: (i) considerando-se apenas os resultados dos licenciandos, a média cai para 0,8; (ii) mais da metade da prova envolvia conteúdos matemáticos do ensino médio e não do terceiro grau.

Esta situação se torna ainda mais desconfortável quando o País é submetido a parâmetros internacionais, conforme demonstram os resultados das últimas avaliações, onde o Brasil se insere nos últimos lugares.

Por outro lado,

Esta situação de contraste que inclui realidades tão distintas é um dos motivos de preocupação da Sociedade Brasileira de Matemática e de toda a comunidade que ela representa.

 

2.      O efeito das Olimpíadas no caso do Ceará.

Há cerca de 20 anos, o Ceará decidiu criar a Olimpíada Cearense de Matemática que vem, desde então, selecionando precocemente alunos de escolas privadas (de Fortaleza) que têm pendor especial para esta ciência. Tal permitiu que o Estado passasse a competir na Olimpíada Brasileira de Matemática e obtivesse sempre, nos últimos 10 anos, colocação de destaque (sempre um dos três primeiros lugares) nesta competição. Hoje podemos dizer que o Ceará vem produzindo alunos do segundo grau com condições de competir, representando o Brasil, em pé de igualdade com os estudantes de outros Países, inclusive os mais desenvolvidos.

O Departamento de Matemática da UFC convidou alunos do segundo grau, vencedores das últimas Olimpíadas para cursarem disciplinas de Álgebra Linear e Análise durante os meses de Janeiro e Fevereiro dos anos 2002 e 2003. Tais disciplinas são ofertadas como parte do processo de seleção dos alunos que vão cursar o mestrado em Matemática na UFC. Tais disciplinas são lecionadas em regime intensivo para uma platéia de alunos provenientes dos cursos de Matemática situados no Norte e Nordeste. Nos dois casos mencionados, os vencedores das Olimpíadas, embora sem o treinamento preliminar de um curso de graduação, foram capazes de, não apenas serem aprovados, mas de obterem notas máximas, concorrendo em pé de igualdade com os participantes usuais de tais disciplinas.

Os principais parceiros neste empreendimento foram, sem dúvida, a Universidade Federal do Ceará e a Universidade Estadual do Ceará, as Escolas publicas e privadas, a Sociedade Brasileira de Matemática, o CNPq e a ONG Teorema.

Deve-se observar que as escolas públicas deixaram, em sua grande maioria, de participar do experimento ainda no seu início, o qual se tornou um instrumento essencialmente aplicado nas escolas privadas. Entretanto o sucesso obtido na melhoria da qualidade do ensino nas escolas participantes foi significativo ao ponto de que algumas delas hoje figuram entre as mais qualificadas nacionalmente.

Lamentavelmente, como no caso nacional, o Estado vem se saindo muito mal quando se trata de considerar um exame que atinja a maioria da população estudantil. Neste caso, não fugimos do que ocorre no País. Testes internacionais foram aplicados em São Paulo e no Ceará revelando uma situação lastimável no ensino de Matemática que vimos oferecendo aos nossos jovens e crianças no primeiro e segundo grau.

 

3.      Olimpíadas de Matemática em Escolas Públicas do Estado

Em 2003 o Governo do Estado do Ceará criou o Projeto Linguagem das Letras e dos Números – Numeratizar e Leituralizar. Devido à experiência do Estado no que concerne às Olimpíadas de Matemática, a vertente deste projeto relativa à Matemática teve início imediato realizado sua primeira olimpíada no segundo semestre daquele ano.

 

Entusiasmado com o sucesso do projeto, a Prefeitura de Fortaleza, por iniciativa do Secretário Paulo de Melo Jorge Filho, criou o Programa de Olimpíadas de Fortaleza, incluindo as áreas de Matemática, Português e Ciências. Olimpíadas das três áreas foram realizadas em 2004.

 

O objetivo macro dos dois Projetos foi o de Melhorar a Educação Pública – corrigir deficiências da educação formal que afetam a cidadania e a inclusão social, dificultando o crescimento científico e tecnológico e a qualidade da educação profissional e superior.

 

Participaram da primeira fase do Numeratizar 110.995 alunos, provenientes de 646 escolas situadas em 190 municípios do Estado. Destes, foram para a segunda fase 5587 alunos dos quais foram selecionados 346 estudantes para premiação. Estes estudantes foram indicados para participar da fase de treinamento da olimpíada.

 

As olimpíadas de Fortaleza foram realizadas com 70424 alunos provenientes de 158 escolas. A inovação maior desta olimpíada foi a de que abrangeu universalmente todos os alunos da quinta a oitava série de todas as escolas municipais de Fortaleza. Destes alunos foram selecionados cerca de 11000 alunos para a segunda fase e destes 3300 para a terceira fase, sendo, ao final, selecionados 307 alunos para premiação.  Lamentavelmente, com a mudança de prefeito, o projeto não teve continuidade, o que acarretou que a etapa de treinamento deixou de ser realizada.  

 

A aplicação universal da Olimpíada trouxe várias vantagens adicionais. O fato de que se pode identificar a prova de cada aluno propiciou que a olimpíada, neste caso, funcionasse como um sistema de avaliação da qualidade do ensino escola a escola, turma a turma. Permitiu também criar um processo de competição saudável entre as escolas. Estas vantagens associaram-se às já existentes em todas as olimpíadas que inclui a elevação da auto-estima de professores, alunos e da comunidade escolar.

 

4.      A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas

Esta olimpíada foi criada a partir do desejo do Governo Federal de generalizar para o País o sucesso obtido pelas Olimpíadas promovidas no Ceará, particularmente as experiências do Numeratizar e das Olimpíadas de Fortaleza.

 

Sua execução esta ainda em fase inicial tendo sido concluída a fase de inscrições para a primeira fase. Até o momento desta exposição, a página da OBMEP registrava 10496474 inscritos. Ela deverá abranger a quase totalidade dos municípios brasileiros e representará um dos maiores esforços governamentais visando melhor o ensino de Matemática no País.