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G. Ciências Humanas - 6. Ciência Política - 5. Relações Internacionais
O TERRORISMO GLOBAL E A ORDEM INTERNACIONAL
Thiago Fernandes Franco 1 (thiagoffranco@yahoo.com.br), Luis Renato de Alcantara Rua 1, Fábio de Vasconcellos Aquino 1, Conrado Evangelista 1 e Fabrizio Sardelli Panzini 1
(1. Laboratório de Pesquisa em Relações Internacionais, Faculdades de Campinas - FACAMP)
INTRODUÇÃO:
Nosso objetivo é a abordagem do tema “terrorismo e ordem mundial” sob duas perspectivas:
- Estabelecendo uma análise comparada entre as formas “tradicionais” de terrorismo local (IRA, ETA, FARC) e o terrorismo “global” no mundo característico do mundo atual (Al Qaeda);
- Abordando o tema de uma perspectiva teórica – no campo das TRI –, tendo como objeto de estudo a relação entre terrorismo e “ordem” mundial .
Diferentemente do terrorismo local, com objetivos facilmente identificáveis e uma pauta de reivindicações específicas, o terrorismo global, identificado à rede Al Qaeda, elege como inimigo o “estilo de vida” ocidental, que teria nos EUA seu principal representante. A partir da interpretação que têm da doutrina islâmica, os terroristas “globais”, retoricamente, empreendem uma Guerra Santa – jihad.
A inclusão do tema do terrorismo global no campo das RI dá-se sob a ótica da manutenção ou superação da ordem. Para abordar tal problemática recorreremos aos autores ligados à escola racionalista inglesa, que consideramos a tentativa mais elaborada na área. Todo problema, conforme o entendemos, é que a perspectiva da manutenção ou superação da ordem não detém instrumentos analíticos adequados à apreensão da (i)lógica do terrorismo global e seu enfrentamento. Daí a relevância em se apontar as insuficiências no campo teórico e de se buscar um caminho para superá-las.
METODOLOGIA:
Os procedimentos metodológicos envolvidos na realização deste trabalho consistem, sobretudo, na pesquisa bibliográfica e consulta de fontes primárias (jornais, revistas e documentos disponiveis na internet). Foram utilizados, sobretudo, os livros de BULL, Hedley. A sociedade anárquica; e WIGHT, Martin. A política do poder. Para a re-interpretação crítica da “escola inglesa”, nos baseamos em M. Weber , Ciência e política como vocação; M. Foucault, Vigiar e punir, Microfísica do poder; T. Adorno e M. Horkeimer, Dialética do Esclarecimento, Temas básicos de sociologia.
RESULTADOS:
A teoria racionalista inglesa constitui o melhor enfoque à reflexão sobre o SI. Mesmo assim, não dispõe de instrumentos analíticos suficientes à compreensão do terrorismo atual; mas acreditamos que, sob as luzes da construção conceitual da escola racionalista, aliada à outras perspectivas teóricas, se poderia alcançar bons frutos à compreensão do fenômeno do terrorismo atual.
Hedley Bull (2002), em A sociedade anárquica, identifica Anarquia à ausência de uma entidade supranacional que estabeleça regras sistêmicas, já Caos seria a ausência de Ordem, tornando o SI impossível. Quanto às revoluções e o SI, fundamental é a interação dos momentos revolucionários com a Ordem vigente, a capacidade do SI de absorver surtos de desordem que pareciam desafiá-lo (Martin Wight, A politica do poder). O terrorismo global nem instaura o caos (por enquanto), nem constitui um movimento revolucionário passível de se acomodar ao sistema. Trata-se de um movimento globalizado, que invade o mundo “civilizado” e que é anti-sistêmico; uma ação política que pode ser caracterizada como a-política, na medida em que não não é uma estratégia reivindicativa mas, sim, uma estratégia destrutiva que visa a aniquilação do modo de vida antiislâmico. Em questão, estão princípios absolutos e inegociáveis que não admitem qualquer espécie de diálogo entre Estados, ademais o movimento não pode ser identificado à nação.
CONCLUSÕES:
O terrorismo global diverge radicalmente do terrorismo tradicional, enquanto estes utilizam o Terror como instrumento de ação política nacional, um meio de pressão visando objetivos específicos, como o separatismo e/ou a conquista de direitos; o terrorismo global tem como meta destruir o “modo de vida ocidental”. Ou seja, o primeiro é um “terrorismo de resultados”, direcionado ao Estado nacional; o segundo, uma ação “política” que subverte a própria política, pois não há espaço para negociações, o jogo político tradicional torna-se impossível e o antagonismo insolúvel, uma vez que não há como o lado pressionado ceder à demanda alheia, a pauta de reivindicação é absoluta. Deste modo, a política no terrorismo global, como locus por excelência da negociação, inexiste. Daí a necessidade premente de criação de novas categorias analíticas que transcendam o conhecimento tradicional no campo da TRI, com o objetivo de compreender este fenômeno recente que altera totalmente a lógica sistêmica, impedindo a previsibilidade, condição fundamental para a organização do SI. Gostaríamos de contribuir com o debate teórico a respeito, partindo da produção da escola racionalista inglesa, das suas considerações teóricas sobre o sistema internacional, mas fazendo a crítica ao seu racionalismo (cuja matriz é o realismo político). Para tanto, recorrendo aos autores que questionam a própria idéia de razão moderna/iluminista - como Max Weber, autores da Escola de Frankfurt e Michel Foucault.
Instituição de fomento: Laboratório de Pesquisa em Relações Internacionais, Faculdades de Campinas - FACAMP
Palavras-chave:  Terrorismo; Ordem Internacional; Política Internacional.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005