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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação | ||
EDUCAÇÃO E ESPAÇOS URBANOS: A DIMENSÃO EDUCATIVA DA SOCIALIZAÇÃO JOVEM NA PRAÇA | ||
Maria da Penha Fornanciari Antunes 1 (penhamestrado@bol.com.br) e Maria Aparecida Morgado 1 | ||
(1. Programa de Pós-Graduação, Instituto de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso) | ||
INTRODUÇÃO:
Este trabalho resulta de pesquisa realizada em Cáceres-MT, tendo como sujeitos os jovens que freqüentam a Praça Barão do Rio Branco, centro da cidade. O objeto da pesquisa se pauta na busca da identificação e compreensão das dimensões educativas que permeiam a convivência dos jovens entre si e com pessoas de outras idades, nas atividades de lazer e sociabilidade. Esta Praça sempre teve grande significação social para a população da cidade, ponto de encontro para negócios, diversão, festas religiosas, eventos cívicos e festividades diversas. Hoje a convivência neste espaço público, único na cidade destinado ao lazer da população, ponto de encontro para todas as idades, tem se tornado palco de desentendimentos entre as gerações que a freqüentam além dos moradores circunvizinhos. A atual cultura de diversão jovem na era da comunicação eletrônica baseia-se na utilização de carros de som, em torno dos quais ocorre concentração de grupos, com música executada em alto volume. Isso gera intolerância nos mais velhos com relação ao “barulho”. O tema juventude tem aparecido no debate público com opiniões diversas sobre modelo de condutas e horários considerados adequados ou não pelas faixas etárias diversas, para o lazer da juventude. Considerando as muitas significações que a Praça tem para toda a população logo para os jovens também, freqüentá-la tornou-se um paradigma cultural, representando um caráter social de processo educativo que se dá nas relações de sociabilidade. |
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METODOLOGIA:
A pesquisa foi desenvolvida dentro da abordagem qualitativa com utilização de técnicas de observação e entrevista com grupo focal composto por jovens que freqüentam a praça nos finais de semana. Para compor o grupo selecionamos jovens entre 18 e 30 anos – adotamos como critério de escolha da idade a autonomia que os jovens de 18 anos já possuem para falarem sem necessidade de autorização dos responsáveis - dentre eles, proprietários de carros de som, organizadores de festas e os que freqüentam regularmente a Praça nas festas ou não. Foi solicitado aos jovens que falassem porque a Praça é o local preferido para a diversão, a importância que dão ao local, o significado de conviver com pessoas de diversas gerações, porque a música é tocada alta, quais as reclamações mais comuns sobre seu comportamento, se eles consideram que têm atitudes que prejudicam alguém, quem tem direito de se divertir na Praça, a quem a Praça pertence e o que se aprende nas relações que o estar na Praça proporciona. |
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RESULTADOS:
Os jovens consideram a Praça um espaço adequado para a diversão porque a cidade não oferece outras alternativas. É local importante, nele se convive com todos, é gratuito tendo acesso facilitado. No convívio com pessoas de outras gerações aprendem a importância histórica e cultural da praça, palco dos maiores acontecimentos históricos e sociais de Cáceres. A música é a expressão de todos os sentimentos e também forma de comunicação. Os mais velhos reclamam da música alta, os bares às vezes pedem para desligar os carros de som ou se afastarem. Famílias que residem próximas ligam para a polícia para reclamarem nas madrugadas. Com freqüência há blitz e já houve muitas situações de apreensões dos veículos e detenção dos jovens proprietários. Consideram a Praça pública, de todos, logo todos têm direito de utilizá-la para a diversão conforme seus gostos e interesses. A Praça, na visão jovem, é espaço público, democrático, os cidadãos de Cáceres devem conservá-la. Tem grande significado histórico que não pode ser descaracterizado com mudanças nas fachadas ou demolição dos prédios. A convivência com os mais velhos ensina atitudes de respeito, solidariedade, porém às vezes não entendem que o mundo evoluiu, tudo se modificou e os jovens hoje, apesar de curtirem coisas antigas preferem as modernas, como se divertir ouvindo música alta e barulhenta. Reivindicam do governo municipal a construção de um espaço para os jovens utilizarem os carros de som e fazerem shows e competições. |
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CONCLUSÕES:
A praça é espaço de diversão e educação. Relações conflituosas mostram que nesta cidade tradicional, “há valores que são da comunidade inteira, cujos filhos se impregnam por contato e por imitação” (CAVINEZ, 1998). Todas as gerações querem estar na Praça, mesmo que uns criticando outros. O hábito de freqüentá-la vem desde criança, os pais as levam para brincar. Calçadão, bares e prédios históricos existem a mais de duzentos anos. Freire (1997) afirma que “a cidade somos nós e nós somos a cidade, mas não podemos esquecer de que o que somos guarda algo que foi e que nos chega pela continuidade histórica (...)”. Horários e preferências da juventude não corresponde ao que os mais velhos consideram correto. Surgem reclamações, críticas, jovens se rebelam contra imposição de costumes conservadores. Para Freire a cidade “enquanto educadora é também educanda” e “sua tarefa educativa implica nossa posição política (...) a maneira como exerçamos o poder na cidade”. Não cabe às gerações subjugarem-se, recomenda “que nos aventurássemos um pouco, que corrêssemos o risco de pensar em certos valores (...) se incorporando a nós (...)”. Convivência democrática requer comportamento coerente para ser real. Não discriminação, respeito aos diferentes, tolerância aos novos. “Talvez as cidades pudessem estimular as suas instituições (...) os adolescentes, os jovens a pensar e a discutir o direito de ser diferente sem que isto signifique correr o risco de ser discriminado ... (FREIRE, 1997) |
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Palavras-chave: Educação; Jovens; espaços urbanos. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |