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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

BRASÕES DE SABERES POPULARES: MEMÓRIA DAS RENDEIRAS DO CARIRI PARAIBANO

Ingrid Farias Fechine 1 (ingridfechine@yahoo.com.br) e Maria Claurênia Abreu Silveira 1

(1. Depto. de Metodologia da Educação, Universidade Federal da Paraíba - UFPB)

INTRODUÇÃO: Pesquisa sobre a cultura e a memória das rendeiras da renda renascença do município de Monteiro-PB e o processo educativo em torno do ensino desta atividade artesanal, construída ao longo do tempo através da tradição familiar, num encontro do saber e da experiência. Estudar as rendeiras do município de Monteiro revelou caminhos, até então não enfatizados nas pesquisas acadêmicas, envolvendo questões culturais, relacionando memória, arte e saber. Ressaltar essa temática é colaborar para o conhecimento da cultura nordestina. Na perspectiva de contribuir com os estudos sobre a arte da renda renascença na Paraíba, tivemos como objetivo estudar os saberes das rendeiras, buscando conhecer as condições que possibilitam o aprendizado coletivo no fazer renda renascença em Monteiro-PB, bem como identificar os aspectos educativos do fazer das rendeiras para a construção da sua cultura e sua memória.

METODOLOGIA: Com o objetivo de estudar o saber-fazer das rendeiras, recorremos à pesquisa prática e exploratória, ao método etnográfico, com entrevistas semi-estruturadas junto às rendeiras da renda renascença do município de Monteiro-PB, na perspectiva de compreender como a rendeira, a partir do saber-fazer renda, reconhece este saber, participa de sua cultura e constrói sua memória. Leitura e estudo da bibliografia específica. Conhecimento do processo de criação da renda renascença produzida na cidade de Monteiro, bem como a passagem desse saber entre as rendeiras e o valor desta atividade artesanal para aquelas mulheres. No decorrer desse estudo, foram feitas visitas à cidade de Monteiro, onde foram registradas entrevistas com a presidente da Associação de Artesãos de Monteiro (ASSOAM), e com rendeiras de três gerações diferentes, representadas por duas famílias, totalizando a duração de oito horas de gravação. Foram feitas ainda 103 fotos destacando as rendeiras, a casa onde funciona a ASSOAM e os desenhos a serem tecidos pelas rendeiras, além de roupas e utensílios domésticos feitos de renda.

RESULTADOS: O saber-fazer da renda renascença é uma ação criativa que envolve relações sociais, familiares e econômicas. As rendeiras de Monteiro participam do processo de identificação de sua cultura, transformando sua realidade através de suas criações. Mantêm-se elevada sua auto-estima através do trabalho, reconhecendo os motivos para suas vidas, como o amor pelo ofício, a luta pela sobrevivência e o conhecimento garantido pela experiência. A cultura da renda é um processo que envolve ensino-aprendizagem da renda renascença, valorização de saberes, relações humanas e consideração do que foi vivido. Culturalmente essas mulheres são fortalecidas por seu saber. As rendeiras da renda renascença de Monteiro são sujeitos transformadores através de sua arte, sua memória e seus saberes, firmados na criação solitária e no trabalho coletivo. Essas mulheres são representantes de uma cultura que as leva a lutar por seus direitos de artesãs e pela sobrevivência em torno de sua arte e de seu saber.

CONCLUSÕES: As rendeiras da renda renascença em Monteiro, desenvolvem uma arte que envolve conhecimentos, criatividade e relações sociais. É nesse sentido que o artesanato se transforma, se (re)constrói e se ativa através da criatividade das suas artesãs, de sua memória, de suas vivências, experiências e saberes. Pode-se considerar que no processo de compor a renda há um envolvimento dos sentidos: plural e singular. Pluralidade no que tange aos vários pontos da renda, ao feitio dessa atividade artesanal. Singularidade no que se refere à renda, em sua abstração, sentimentos, como o amor por esta arte e a força de vontade de viver melhor. A renda renascença, mantêm-se presente na criação de pontos, na transformação de vidas. A renda é assim, o brasão dos saberes das rendeiras, um corpus significativo na vida de quem a cria, unindo a singularidade dos saberes e a construção coletiva. Ela é então, significante como fortalecedora do trabalho coletivo, reconhecido em seu valor, também por empreendimentos que visam à divulgação e comercialização da renda. A renda renascença, para suas criadoras, é mais que simplesmente um produto, mas uma arte cada vez mais consolidada em suas vidas, ou seja, o “brasão” de suas vidas, saberes e luta.

Instituição de fomento: CAPES/PPGE/UFPB

Palavras-chave:  Rendeiras da renda renascença; Cultura e Memória; Saber.

Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005