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C. Ciências Biológicas - 9. Imunologia - 1. Imunologia Aplicada
AVALIAÇÃO IMUNE HUMORAL NO SORO E SALIVA ANTI-PGL1 DE PACIENTES PORTADORES DE HANSENÍASE
Rivanda da Costa Santos 1 (rivanda-santos@bol.com.br), Elizabeth Yokobatake-Souza 1, Rafaela Peixoto de Araújo 1, Ana Laura Pierre Lima 3, Thereza Lúcia Prata de Almeida 3, Márcia Brasil 3, Lilia Maria Carneiro Câmara 2, Maria de Fátima Oliveira 1 e Aparecida Tiemi Nagao-Dias 1
(1. Depto. Análises Clínicas e Toxicológicas, Universidade Federal do Ceará - UFC; 2. Depto. Patologia e Medicina Legal, Universidade Federal do Ceará, UFC; 3. Depto. Dermatologia, Hospital Universitário Walter Cantídio, UFC)
INTRODUÇÃO:
A Hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae, um bacilo álcool-ácido-resistente, parasita intracelular com predileção por células de Schwann e pele. O Brasil é o segundo país do mundo em número de casos, ficando atrás apenas da Índia. A Hanseníase se manifesta em dois pólos estáveis (virchowiano e tuberculóide) e dois pólos instáveis (indeterminado e dimorfo), segundo a classificação de Madrid (Congresso Internacional, 1953). A principal via de infecção do bacilo é o trato respiratório superior. A pesquisa de anticorpos por ELISA tem sido proposta utilizando-se antígenos purificados, sendo o antígeno glicolipídico-1 fenólico (PGL1) o único ainda considerado específico do M. leprae e utilizado no diagnóstico sorológico da hanseníase (Cho et al, 2001). O objetivo do presente trabalho é avaliar a resposta imune-humoral sérica e secretora em pacientes portadores de hanseníase nas diferentes fases da doença.
METODOLOGIA:
Foram coletadas 152 amostras de soro e 74 amostras de saliva de pacientes portadores de hanseníase atendidos no ambulatório de Dermatologia do Hospital Universitário Walter Cantídio, Universidade Federal do Ceará, após assinatura de termo de consentimento. O grupo MB-L ou de multibacilares incluía pacientes portadores da forma virchowiana, borderline borderline, borderline virchowiana. O grupo PB-L ou de paucibacilares incluía pacientes portadores da forma tuberculóide, forma borderline tuberculóide, forma indeterminada, forma neural pura. O grupo BT ou de borderline tuberculóide foi considerado como um grupo à parte devido ao fato do mesmo ter apresentado níveis de IgG anti-PGL1 significativamente mais elevados do que o grupo PB-L. Foi utilizado o método imunoenzimático em fase sólida, utilizando-se microplacas de poliestireno previamente adsorvidas com 10 mg/L de PGL1 (doado por Dr. J.S. Spencer, National Institute of Health, USA). Resumidamente, amostras de soro ou saliva diluídas a 1:50 foram incubadas nas placas durante 24 h a 4o C. Em seguida às lavagens, foram adicionados conjugado anti-IgG marcado com peroxidase (Sigma, USA) no caso da análise de anticorpos no soro, ou conjugado anti-IgA ou anti-IgM marcados com fosfatase alcalina (Sigma, USA), no caso da análise de anticorpos salivares. Após incubação durante 2 h a 27o C, lavagens foram realizadas e solução de substrato para peroxidase ou fosfatase alcalina, respectivamente, foi adicionada às placas.
RESULTADOS:
Anticorpos séricos anti-PGL1 estavam significativamente mais altos em pacientes com baciloscopia positiva do que aqueles com baciloscopia negativa (p<0,001). Comparando as formas clínicas de pacientes portadores de hanseníase não tratados, os títulos de IgG anti-PGL1 em MB-L estavam mais elevados que em PB-L e controles (p<0,01); algumas diferenças foram observadas comparando pacientes BT e PB-L (p<0,05). Entre os grupos de pacientes com as formas MB-L em diferentes fases de tratamento, houve significância estatística no grupo 1-6 meses e no grupo 7-12 meses (p<0,05), comparados aos controles. Não foi observada diferença estatística no grupo de 13-24 meses ou naqueles que completaram o esquema de tratamento em relação aos controles (p>0,05). Os anticorpos salivares IgA e IgM anti-PGL1 estavam significativamente mais elevados em pacientes MB-L, comparados aos controles normais (p<0,05). Uma discreta correlação foi observada entre níveis salivares de IgA e IgM anti-PGL1 (r=0,21,p<0,05). Uma melhor correlação entre os parâmetros foi encontrada em pacientes MB-L (r=0,41, p<0,01). Nenhuma correlação foi observada entre os títulos séricos de IgG anti-PGL1 e os anticorpos salivares (p>0,01).
CONCLUSÕES:
Foram encontrados níveis similares de IgA/IgM anti-PGL1 na maioria dos pacientes portadores de hanseníase, mesmo entre aqueles com níveis elevados de IgG anti-PGL1 ou com baciloscopia positiva, podendo sugerir que nestes pacientes o antígeno PGL1 não estava presente na mucosa em quantidade suficiente para induzir uma resposta imune local. Por outro lado, valores elevados de IgM salivar anti-PGL1 e/ou IgA, foram encontrados em três pacientes não tratados, dois deles apresentando a forma lepromatosa e o outro, a forma borderline tuberculóide. O fato de que um paciente apresentou títulos salivares elevados de IgM e IgA anti-PGL1 após 24 doses do tratamento, pode significar que a bactéria está presente a nível de mucosa oral e/ou nasal. Alguma positividade quanto à IgA salivar anti-PGLl em controles normais foi encontrada(2 de 22 amostras), enquanto nenhum dos mesmos apresentou positividade para IgM salivar anti-PGL1. Levando em consideração o universo de antígenos em contato com a mucosa, é possível que ocorra presença de IgA heteróloga. Isto, em parte, poderia ser a explicação da elevada freqüência de anticorpos salivares IgA anti-M. leprae observada em outros estudos. Desta forma, os níveis de IgA anti-PGL1 não devem ser usados como um parâmetro isolado. O trabalho sugere que anticorpos salivares IgM anti-PGLl, associados ou não a anticorpos IgA, é um importante parâmetro laboratorial para auxiliar no diagnóstico e acompanhamento de pacientes portadores de hanseníase.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  hanseníase; anti-PGL; anticorpos salivares.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005