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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde
PSF E A COMUNIDADE - COMPREENDENDO CONCEPÇÕES, DIVERGÊNCIAS E HISTÓRIAS.
Andressa Alencar Gondim 1 (andressagondim@yahoo.com.br), Carla Weyne Melo de Castro 1, Osmar Luís Gadelha Teixeira 1, Paulo André Sousa Teixeira 1 e Veriana de Fátima Rodrigues Colaço 1
(1. Departamento de Psicologia - UFC)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho surgiu a partir de uma pesquisa realizada no Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará sobre a concepção de saúde dos usuários de um serviço de saúde, no caso o Programa de Saúde da Família (PSF) da Unidade Básica de Saúde da Família (Ubasf) Rocilda Pontes, em Caucaia, Ceará. Tal demanda surgiu a partir de conversas com a equipe dos profissionais da referida unidade e do interesse dos pesquisadores pela temática da Saúde Pública, além de uma carência de discussão acerca da atuação do profissional da Psicologia no âmbito da saúde pública em nossa cidade. A pesquisa encontra sua justificativa na observação de uma importância significativa da concepção de saúde dos usuários para a relação destes com o serviço e com os cuidados dispensados à sua própria saúde.
METODOLOGIA:
Realizamos um levantamento bibliográfico sobre o PSF e pesquisas anteriores que abordassem a mesma temática, como também sobre os diversos conceitos de saúde em vários períodos históricos, bem como segundo a abordagem em Psicologia Sócio-Histórica. Utilizamos como referencial teórico a Teoria Histórico-Cultural da Mente de Vygostsk e a Teoria das Representações Sociais segundo Moscovici (1978), a qual afirma que as representações sociais, enquanto teorias sobre saberes do senso comum, influenciam nos comportamentos e formas de interação dos indivíduos com o contexto em que vivem, ressaltando-se a diferença entre uma representação socialmente construída e uma opinião. Para a coleta dos dados realizamos três grupos focais com a participação de 3 pesquisadores e 6 participantes em cada momento, selecionados por conveniência, todos de sexo feminino e faixa etária entre 20 e 60 anos. Os encontros foram gravados e transcritos em sua totalidade. Realizamos uma análise semiótica, tendo como referência os estudos de Spink (1999). A partir da leitura flutuante do material transcrito, e levando em conta os objetivos da nossa pesquisa, delimitamos as categorias de análise para cada grupo focal, criando-se assim mapas de associação de idéias, segundo o que era evidenciado nas falas transcritas. Estes correspondem a uma espécie de tabela em que os conteúdos foram organizados de acordo com as categorias, sem que se perdesse a ordem das falas, a fim de preservar o contexto no qual surgiram.
RESULTADOS:
Evidenciou-se, assim, uma série de representações sociais acerca da saúde, muitas vezes contraditórias entre si. Verificamos, a partir de então, que a saúde era compreendida ora como um aspecto físico, ligado ao vigor, ora a um aspecto subjetivo, traduzido pelo “sentir-se bem”. Em alguns momentos revelou-se sob uma noção negativa, como ausência de doença, semelhante à concebida na Idade Média, e em outros como uma concepção positiva, relacionada a uma postura autônoma e ativa diante da vida. Surgiu também a representação de uma saúde dicotomizada, dividida entre mente e corpo. A gênese dessa representação pode estar exatamente na cisão na qual o próprio saber é concebido, culminando numa especialização acentuada das áreas do conhecimento. Por sua vez, esse saber cindido implica numa atuação fragmentada, contribuindo, desta forma, para uma concepção que não preza pela totalidade. Ademais, outras variáveis, que não a concepção de saúde, interferem na forma com que os usuários irão se relacionar com o serviço, como a própria dinâmica comunitária, a concepção de saúde da equipe, as condições sócio-econômicas, o financiamento do serviço, assim como as políticas públicas as quais orientam a execução do serviço.
CONCLUSÕES:
A partir dos dados coletados, o que pudemos notar é que fica clara a falta de comunicação entre os discursos dos usuários e do serviço, a qual reflete-se na insatisfação de ambos os lados. Os usuários demonstram não ter clareza sobre as definições, possibilidades e justificativas para o modo de funcionamento do serviço e este, por sua vez, parece não conseguir ouvir as reais demandas dos primeiros, revelando, assim, a necessidade de um maior diálogo entre ambos. Acreditamos que tal diálogo poderia se materializar em uma maior participação, e conseqüente responsabilização dos usuários nas decisões da Unidade. Mesmo com a produção de novos conhecimentos que subsidiam a atuação na área da saúde, o estudo do processo de saúde e doença ainda está embasado no paradigma da medicina científica, ou seja, a visão que se tem do paciente é ditada pelo saber médico. Dessa forma, outros aspectos da saúde são negligenciados, como as questões subjetivas e sociais. No entanto, esses aspectos estão fortemente vinculados à saúde, visto que são produtores de patologias, dependendo das condições a que o sujeito é exposto. Podemos perceber, então, o quanto é significante o contexto social para as questões subjetivas e, então, para os processos de saúde/doença, os quais são produzidos por um indivíduo socialmente construído.
Palavras-chave:  Programa Saúde da Família; Representação Social de Saúde; Psicologia da Saúde.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005