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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva | ||
SOFRIMENTO PSIQUICO E TRABALHO POLICIAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO | ||
Priscila Azevedo de Souza 1 (priscilazevedo@ig.com.br), Helen de Abreu Oliveira 1, Carla de Meis 1 e João Ferreira da Silva Filho 1 | ||
(1. Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ) | ||
INTRODUÇÃO:
A segurança pública vem sendo alvo de grande atenção nos últimos tempos, em especial na cidade do Rio de Janeiro. A polícia militar deste estado, a PMERJ, está presente no imaginário popular fluminense como sendo “uma polícia corrupta, envolvida com o crime organizado e despreparada para lidar com a situação caótica atual”. Entretanto, pouco se fala das condições físicas e psicológicas destes policiais ao estarem lidando com situações de trabalho que os colocam em perigo. É cada vez mais freqüente, especialmente no Rio de Janeiro, notícias de atos violentos cometidos contra policiais militares, colocando-os em uma situação paradoxal, a de combater a violência sendo uma das principais vítimas da mesma. A carga excessiva de trabalho, a cobrança dos superiores, a falta de armamentos, de equipamentos de segurança e de treinamento colocam o policial em uma situação de tensão constante. Diante deste quadro nos propusemos a analisar a segurança pública através da visão dos que são responsáveis por ela, ou seja, dos próprios policiais. |
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METODOLOGIA:
Realizamos, de janeiro a dezembro de 2004, quatro grupos de discussão com policiais da PMERJ inscritos no Programa de Trabalho para Policial Militar. Este programa foi criado para reintegrar os policias que foram afastados por terem cometido alguma infração, mas que foram absolvidos pela justiça. Cada grupo possuía 20 policiais. Ao todo participaram das entrevistas 80 policiais militares (soldados, cabos e sargentos). A discussão nos grupos focais girava em torno de quais seriam as maiores dificuldades de ser um policial militar no estado do Rio de Janeiro e tinha duração média de uma manhã, ou seja, 04 horas. |
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RESULTADOS:
Os policiais queixam-se de dificuldade na hora de abordar a população. O temor da "carteirada" está sempre presente: "é sempre complicado saber quando abordar (...) pode ser o filho do comandante, um juiz..." O militarismo foi um outro problema citado. Queixam-se de situações de abuso de poder por parte dos superiores hierárquicos dentro da corporação: "(...) um oficial pode estar com o cuturno sujo e nada acontece, mas se o praça aparecer assim ele pode ser punido". Os direitos humanos foi um outro tema muito citado por eles. A maioria dos policiais vêem os "direitos humanos" como uma entidade hostil, pois acreditam que ela defende sempre o direito dos outros e nunca o deles. Uma fala diversas vezes repetida foi a de que os direitos humanos são só para proteger bandido, nunca o policial. Um outro fator que gera grande ressentimento é a desvalorização do policial pelos meios de comunicação. Imagens recorrentes, como a da "polícia corrupta", assim como a divulgação de crimes cometidos por policiais os revolta. Segundo eles, muitos destes crimes não são nem investigados antes de serem publicados, "...a polícia é sempre culpada até que se prove o contrário". Junta-se a isto a própria intervenção do estado no funcionamento desta, com campanhas periódicas que pretendem sanear a polícia, acabar com sua "banda podre". Dependendo de quem é o governador tudo muda, "hoje nós não sabemos qual é o nosso regulamento, se é o do Garotinho ou da Benedita...". |
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CONCLUSÕES:
As falas dizem do modo como se lida com estes profissionais. A visão que os policiais têm da população, como sendo hostil a eles, é interpretada como uma das conseqüências de campanhas periódicas contra a polícia. Tais campanhas acabam influenciando o próprio estado a lançar projetos de “saneamento” na própria polícia. Chega-se a uma situação onde não se sabe o que veio antes ou depois. Há uma retroalimentação entre as campanhas do estado para “limpar” a polícia e os próprio meios de comunicação. A desmoralização dos policiais pode ser entendida também como mais um fator que diminui a sua autoridade frente à população, estimulando inclusive o fenômeno da “carteirada”. Burlar a autoridade policial torna-se "menos grave" pois este está destituído de seu poder moral. Como reivindicar a autoridade da lei frente a população quando ele mesmo é visto como o primeiro a não respeitá-la? A situação de estigmatização que eles se ressentem é bem ilustrada quando falam dos direitos humanos que os exclui. Os direitos humanos refletindo a moral da sociedade, que não os leva em conta. Finalmente, tal contexto repercute na forma como estes policias vêem a si mesmos. Falas que revelam baixa auto-estima e valor social negativo da sua identidade profissional são recorrentes, traduzindo um potencial importante de sofrimento psíquico ligado ao trabalho. |
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Instituição de fomento: CNPq / FAPERJ | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Identidade Profissional; Sofrimento Psíquico; Policial Militar. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |