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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde | ||
A MORTE NA ROTINA DOS TRABALHADORES DA ÁREA DE ENFERMAGEM | ||
Luziane Zacché Avellar 1 (luzianeavellar@yahoo.com.br), Priscila Valverde Fernandes 1 e Alexandra Iglesias 1 | ||
(1. Dept. de Psicologia Social e do Desenvolvimento, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES) | ||
INTRODUÇÃO:
Delinear a morte constitui permanente desafio para o homem desde as mais remotas civilizações. Relacionada à morte está a questão do processo de morrer, o qual evoca indagações relativas ao sofrimento e à qualidade de vida. Como efeito direto do capitalismo houve a supressão do luto, escondendo-se a manifestação ou até mesmo a vivência da dor. Com os avanços da medicina o tema da morte, de certa forma, afastou-se do cotidiano das pessoas, o que resultou numa mudança em relação ao modo de lidar com a morte, que antes era tratada com uma certa naturalidade. Mudou-se, então, a forma de se conviver com a morte, com o morrer e com os pacientes prestes a morrer. No contexto hospitalar objetivou-se investigar a representação de morte para técnicos de enfermagem, que lidam diretamente com pacientes terminais em um hospital público da Grande Vitória. Pretendeu-se também perceber de que forma esses profissionais enfrentam e representam a morte, como isso interfere em suas vidas cotidianas e em suas práticas de trabalho. Considerando o tema da morte um assunto inquietante, justificou a realização desta pesquisa a necessidade de se fornecer um suporte profissional referente a esse tema, para um auxílio aos profissionais na revisão de suas práticas. Acredita-se que uma intervenção adequada só será possível produzindo um conhecimento aprofundado sobre a morte e suas implicações nas pessoas que têm em sua rotina de trabalho a proximidade com tal situação. |
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METODOLOGIA:
Foram realizadas observações participantes e entrevistas semi-estruturadas. Com as observações objetivamos conseguir uma aproximação com aquilo que desejávamos conhecer e estudar, convivendo, presenciando o dia a dia no hospital, acompanhando os técnicos de enfermagem. O acompanhamento consistiu na participação em quatro plantões em dias diferentes, dentro do setor oncológico do hospital, sendo dois realizados no período diurno em um plantão de 12 horas, e duas observações noturnas com duração de 4 horas. Em seguida, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, com duração de aproximadamente 35 minutos, com 10 técnicos de enfermagem da equipe do setor oncológico de um hospital público de Vitória, Espírito Santo. Logo após a realização das observações, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas. A entrevista foi gravada em áudio, seguindo o protocolo de aceitação, e posteriormente transcritas, a fim de garantir o registro do maior números de associações trazidas pelo sujeito. Após a coleta dos dados foi feita a análise qualitativa, dando destaque aos relacionamentos dos técnicos com aqueles que ali estavam, bem como as suas queixas e os procedimentos de trabalho dos mesmos diante da morte. Para que assim fosse possível verificar se há elementos que apontam para a existência de uma relação entre o sofrimento psíquico, a morte e o trabalho dos profissionais de enfermagem no hospital. |
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RESULTADOS:
A concepção de morte aparece difusa no discurso. Pode-se explicar pelo fato de que pensar a morte, considerá-la em profundidade, é algo doloroso para o homem e traz à tona lembranças de perdas antigas, o sentimento de finitude e o medo de um futuro completamente desconhecido e incerto. Para evitar o contato com a morte o profissional se apropria de uma rotina de trabalho acelerada que faz surgir queixas sobre o cotidiano, mas que, muitas vezes, está relacionada indiretamente com a frustração perante a morte. Há uma contínua tensão no setor e no trabalho realizado, a eminência constante de morte não se afasta do ambiente nem por um instante. Esse estado de permanente apreensão pode estar falando da crença inconsciente que o homem tem, a da própria imortalidade, e naquele espaço essa crença é abalada a todo instante e ainda, quando se trata da morte de outrem, o homem civilizado cuidadosamente evita que a pessoa condenada ouça falar de tal possibilidade. A morte é considerada como normal e parte do cotidiano, mas ao mesmo tempo há uma dificuldade em presenciá-la. Tenta-se acostumar com a morte, mas mesmo entre os técnicos experientes, o medo da morte de outrem remete ao medo da própria morte, sem que se possa desprezar as marcas culturais da negação da morte que caracterizam o homem ocidental deste século. |
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CONCLUSÕES:
Os trabalhadores de enfermagem tentam se adaptar ao impacto das adversidades evocadas nesse cotidiano de trabalho marcado pela constante presença da morte. Percebe-se uma rotina acelerada ao longo de todo o plantão, isso confirma toda uma ideologia de negação da morte. A tentativa de acostumar-se com a morte em seu cotidiano se mostra como uma estratégia para lidar com esse tema e tentar se manter saudável. É dito que acompanhar o sofrimento dos pacientes abala mais que a morte, diante disso deve se considerar que o exercício profissional dos técnicos de enfermagem é uma das práticas humanas que colocam o profissional diante de seus mais íntimos conflitos, ou seja, em poucas atividades o indivíduo encontra-se tão incisivamente sujeito às pressões, de várias ordens, e ao desgaste profissional. A peculiar face de agir, na maior parte das vezes, nas condições em que exorbita a dor – momento em que se rompe o equilíbrio próprio à saúde – faz do técnico um profissional permanentemente confrontado com as indagações evocadas pelo sofrimento, em suas mais diferentes facetas. Habitualmente não se pode sair impune de um contexto muitas vezes caracterizável como confronto direto com o sofrimento, o qual tem como perene pano de fundo o óbito. A presença da morte – aquela que, segundo concepção vigente, precisa ser enfrentada pelo técnico – instaura no exercício profissional um alto grau de compromisso para com o enfermo que caminha para a restituição da saúde ou ao êxito letal. |
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Instituição de fomento: Fundo de Apoio à Ciência e Tecnologia do Município de Vitória - FACITEC | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: morte; rotina hospitalar; saúde do técnico de enfermagem. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |