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G. Ciências Humanas - 6. Ciência Política - 6. Ciência Política
Lideranças femininas: da exclusão à inclusão
Derliane Teresinha Marchi 1 (terra.c@terra.com.br) e Rosângela Marione Schulz 1
(1. Universidade de Santa Cruz do Sul)
INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa tem como objetivo contribuir para a discussão dos novos espaços de participação democrática no Brasil, mais especificamente trata da constituição de novos atores políticos e de novos espaços de mobilização da sociedade civil, a partir da análise de lideranças femininas nas associações de geração de trabalho e renda que vêm se formando em Porto Alegre RS a partir da Segunda metade da década de 90. Tais associações são formadas buscando alternativas para os segmentos mais pobres da população, que se encontram excluídos dos espaços tradicionais de trabalho formal. O percentual de mulheres que participam destas associações gira em torno de 80% do número de membros, sendo que a maioria dos cargos de lideranças estão nas mãos de mulheres. As associações que foram selecionadas para a pesquisa foram pensadas ou implementadas por mulheres que habitam bairros e vilas com graves problemas estruturais (saneamento básico, habitação, entre outros) e com elevado índice de violência. Tais mulheres encontravam-se despossuídas de direitos elementares como alimentação, saúde, educação, além de estarem excluídas do mercado de trabalho formal.
METODOLOGIA:
O universo da pesquisa é composto por 07 associações, todas localizadas na cidade de Porto Alegre RS. Apresentamos os nomes das associações, seguidas do ano de sua fundação: Associação de Reciclagem Ecológica Rubem Berta, 1992; Centro de Educação Ambiental, CEA, 1996; Associação dos Recicladores do Loteamento Cavalhada, 2002; Associação dos Trabalhadores Urbanos para Ação Ecológica, 1996; Univens Cooperativa de Costureiras Unidas Venceremos, 1996; Maria Mulher Organização de Mulheres Negras, 1998; Associação Profetas da Ecologia, 1996. A pesquisa foi dividida em dois momentos. No primeiro momento houve uma pesquisa exploratória com a função de detectar as lideranças das associações. Esta fase da pesquisa deu-se através da participação em assembléias das associações para detectar quais as mulheres que deveriam ser entrevistadas no segundo momento. A segunda fase foi composta por entrevistas semi-estruturadas com as mulheres selecionadas na fase anterior. Estas entrevistas buscaram informações sobre a associação e as mulheres que a compõe, tentando identificar questões ligadas às associações, questões ligadas à noção de gênero ou condição de mulher.
RESULTADOS:
Os resultados aqui apresentados se referem, mais particularmente, às razões para formação de tais associações, bem como alguma incursão no perfil das lideranças. Nas associações pesquisadas não existem apenas formas criativas de geração de trabalho e renda, as solidariedades se entendem a mobilizações para implantação de postos de saúde, escolas, saneamento básico, creches, cursos para adolescentes buscando afastá-los da marginalidade, etc. Há ainda ações que buscam a minimização da violência ou criminalidade, bem como ações solidárias em relação a problemas ligados à mulher, com a realização de palestras e discussões sobre temas relacionados à condição feminina. O primeiro direito negado a estas mulheres é o direito de saber que têm direitos. A participação nas associações de trabalho e renda, parece se constituir na abertura de uma porta para o mundo dos direitos, pois a partir deste espaço de discussão, as mulheres acabam por perceber que o desrespeito a que são submetidas não é um fato individual, mas coletivo e esta percepção gera reinvindicações dos direitos negados.
CONCLUSÕES:
A incursão pelas associações de trabalho e renda, criadas em comunidades de Porto Alegre, permite algumas considerações. Este trabalho demonstra a importância destas novas formas de associações para ampliação dos espaços de participação democrática no Brasil. Destacam-se dois pontos: estas associações de trabalho e renda se constituem como espaços participativos desligados das formas de participação política institucional; são efetivados por e entre segmentos da população marginalizados, em comunidades com condições precárias de existência, onde não existia tradição de lutas sociais. Por fim, é importante ressaltar o papel desempenhado pelas mulheres ligadas às associações. Suas funções coletivas projetam a ampliação do espaço público. Estas, enquanto fundadoras e lideranças de tais movimentos, acabam por trazer ao palco de discussões novos temas e novos problemas, bem como geram um processo de apoderamento feminino, em segmentos onde a discriminação de gênero se faz mais presente.
Instituição de fomento: CNPq e PUIC/UNISC
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  mulheres; lideranças; associações de trabalho e renda.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005