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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde | ||
A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO, A SAÚDE E A VIDA DOS TRABALHADORES DE ENFERMAGEM | ||
Luziane Zacché Avellar 1 (luzianeavellar@yahoo.com.br), Alexandra Iglesias 1 e Priscila Valverde Fernandes 1 | ||
(1. Dpto. de Psicologia Social e do Desenvolvimento, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES) | ||
INTRODUÇÃO:
Dentro da lógica do capitalismo é exigido do profissional a maior capacitação possível, e a renuncia, por diversas vezes, de suas questões individuais, em detrimento das exigências do mercado de trabalho, o que implica em agressões à vida e à saúde dos trabalhadores. O meio hospitalar igualmente exige de seus funcionários um posicionamento desconectado de suas vivências e de seus sentimentos, limitando-os à execução do que está prescrito. O profissional deve se manter firme diante das adversidades da instituição. Os hospitais assumiram o papel de administrar o incômodo do adoecer, antes vivenciado nos lares, construindo, então, um processo de trabalho, em que o poder e a técnica tentam diluir o impacto e os sentimentos de impotências que emergem nesse ambiente. Neste contexto objetivou-se verificar se a rotina dos técnicos de enfermagem, trabalhadores que lidam mais diretamente com os pacientes, facilita seu adoecimento gerando sofrimento psíquico, ou se apenas a técnica supre as desventuras presentes no hospital. Pretendeu-se também identificar as estratégias criadas por esses profissionais para enfrentarem as situações estressantes de seu trabalho. Dessa forma, justificam a realização desta pesquisa, a necessidade de uma maior compreensão sobre os problemas que envolvem a relação entre a organização do trabalho, a saúde e a vida dos trabalhadores de Enfermagem, para que se possa fornecer um suporte profissional aos mesmos, possibilitando a revisão de suas práticas. |
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METODOLOGIA:
Foram feitas observações participantes, objetivando conseguir uma aproximação com aquilo que desejávamos conhecer e estudar, convivendo, presenciando o dia a dia no hospital, acompanhando os técnicos de enfermagem, observando a rotina de trabalho desses profissionais. Em seguida, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, com duração de aproximadamente 35 minutos, com 10 técnicos de enfermagem da equipe do setor oncológico de um hospital público de Vitória, Espírito Santo. As entrevistas foram gravadas em áudio, seguindo o protocolo de aceitação, e posteriormente transcritas, a fim de que conseguíssemos garantir o registro do maior números de associações trazidas pelo sujeito. Após a coleta dos dados foi feita a análise qualitativa, dando destaque aos relacionamentos dos técnicos com aqueles que ali estavam, bem como as suas queixas e os procedimentos de trabalho dos mesmos. Para que assim pudéssemos verificar se há elementos que apontam para a existência de uma relação entre o sofrimento psíquico e o trabalho dos profissionais de enfermagem nos hospitais. |
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RESULTADOS:
Por meio das observações e das entrevistas foi possível entrar em contato com aspectos do cotidiano hospitalar, que pode resultar em sofrimento psíquico para esses profissionais. Merecem destaque: A sobrecarga da equipe de enfermagem, responsável por tarefas burocráticas - troca de turno, preenchimento de prontuário –, tarefas de manejo do corpo do paciente, cobranças por parte dos médicos, da enfermeira, dos acompanhante, do paciente e do próprio colega técnico de enfermagem. Neste contexto as atividades são feitas de forma automática, seguindo uma ordem de atividades diárias. Foi percebida ainda, uma certa ambigüidade de sentimentos diante do convívio com os acompanhantes dos pacientes, o desejar da presença dos acompanhantes pelo auxilio prestado nas tarefas diárias e, por outro lado, esse acompanhante representando mais um na realização de cobranças e na manifestação do sofrimento circulante no hospital. Uma outra ambigüidade surge em relação à morte, que apesar de representar motivo de sofrimento, esses profissionais tem que conviver diariamente com ela, devendo manter-se calmo, apesar da impossibilidade, muitas vezes, de se manter neste estado. Todo esse contexto faz com que os relacionamentos neste cenário sejam bastante distantes. Assim o acostumar-se aparece como sendo a principal forma de manter-se neste setor, mas essa estratégia apenas camufla sofrimentos, daí a necessidade, apontada por esses profissionais, de um acompanhamento psicológico. |
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CONCLUSÕES:
Os trabalhadores de enfermagem sofrem o impacto das adversidades evocadas nesse cotidiano de trabalho, marcado por uma hierarquia e por uma sobrecarga física e emocional. Esse profissional, apesar de fazer parte de uma sociedade que não aceita o sofrimento, tem que conviver com ele. Conseqüentemente surgem sentimentos fortes e contraditórios. O profissional deve acostumar-se com a morte, apesar de temê-la, deve perceber o acompanhante como um auxílio em seu trabalho, apesar de, muitas vezes, percebê-lo como a expressão do sofrimento no hospital. Neste contexto, a fim de manter-se saudável, o trabalhador apropria-se de uma rotina de trabalho acelerada que remete a um contato mínimo com acompanhantes e paciente, logo, com o sofrimento dos mesmos. Apesar de conviver mais tempo com os enfermos, os técnicos de enfermagem devem se manter calados frente ao doente, o que pode resultar em um intenso sentimento de desvalorização e impotência. Essa proibição de falar do que o paciente tem, leva a uma contenção dos sentimentos por parte desses profissionais. Os médicos nem sempre estão presentes, os profissionais presentes não podem responder as questões dos pacientes, logo, não se fala do sofrimento. Assim, diante da não autonomia da enfermagem no que se refere a determinadas decisões, o ter de dar conta da natureza mais técnica desse trabalho, aliado ao convívio constante com o sofrimento, faz desses técnicos de enfermagem um grupo altamente vulnerável ao stress e ao adoecimento. |
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Instituição de fomento: Programa Institucional de Voluntários de Iniciação Científica - PIVIC | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: saúde do trabalhador; sofrimento psíquico; trabalho dos Técnicos de Enfermagem. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |