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F. Ciências Sociais Aplicadas - 1. Gestão e Administração - 1. Administração Geral e Gestão Estratégica
UMA ABORDAGEM DO ARTESANATO COM ENFOQUE À EXPORTAÇÃO
Carolina Chaves Gomes 1 (nina_comex@yahoo.com.br), Gerda Lúcia Pinheiro Camelo 2, Heberto Olímpico Costa 1, Ingrid Silva Ribeiro de Andrade 1, Mariana Costa Guimarães Klemig 1, Nadja Bene Grangeiro de Sousa 1 e Soraya Alves de Melo 1
(1. Gerencia de Serviços / Centro Federal de Educação Tecnológica do RN / CEFET-RN; 2. Profa. Ms. do Dep. de Administração / Univ. Federal do RN)
INTRODUÇÃO:
O elevado índice de desemprego é reflexo das constantes crises e vulnerabilidades da economia brasileira. No Rio Grande do Norte (RN) isso é realidade. A demanda por emprego é maior que a oferta, e o número crescente de jovens que entra na população economicamente ativa aceita os padrões vigentes de remuneração, mas não encontra oportunidades de trabalho. O artesanato surge no RN como um recurso complementar e, em alguns casos, converte-se na principal fonte de renda de grande parcela da população como um modo alternativo de subsistência. Além de gerar emprego e renda, de usar recursos naturais, trabalho manual e valorizar a cultura local, constitui atrativo para o fomento do turismo no Estado. Acerca das exportações, entraves como dificuldades em obter financiamentos, burocracia alfandegária e tarifária e a cultura individualista dos artesãos impotencializam a alavancagem do comércio exterior no artesanato potiguar. Nesse contexto, esta pesquisa de caráter exploratório-descritivo objetiva diagnosticar a atual situação do mercado para o artesanato no Estado, sua interação com a conjuntura brasileira e com o cenário internacional, observando missão e objetivos de duas empresas do ramo; forças, fraquezas e estratégias competitivas de inserção e manutenção nos mercados doméstico e internacional; além das oportunidades e ameaças do meio externo atuante, a fim de contribuir para o arsenal de estudos na área considerado insuficiente quantitativa e qualitativamente.
METODOLOGIA:
Para a coleta das informações desta pesquisa exploratória-descritiva, foram levantados dados secundários obtidos a partir de bibliografias e sites de órgãos oficiais; e dados primários junto a profissionais que atuam na área do artesanato – duas cooperativas e órgãos de fomento – por meio de formulário semi-estruturado contendo 32 questões abertas e fechadas. Dentre as cooperativas visitadas – ambas com sede em Natal/RN –, uma serviu como objeto de estudo devido a sua tradição com mais de 30 anos no mercado, a seu histórico exportador e ao relevante desempenho na economia potiguar com unidades produtivas em várias localidades do Estado, possibilitando gerar renda para as populações interioranas, bem como atender a procura de produtos artesanais pelos mercados demandantes. A outra cooperativa teve sua importância fundamentada para uma ampla percepção do segmento. Quanto aos órgãos de fomento, foram entrevistados funcionários do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Rio Grande do Norte (SEBRAE-RN), do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (CIN/FIERN) e da Coordenação Estadual do Programa do Artesanato Brasileiro (PROART/PAB). Tais entrevistas tiveram a duração média de três horas cada, sendo realizadas no turno vespertino, nos locais supracitados, de modo que o desenvolvimento e a conclusão da pesquisa ocorreu em julho de 2004.
RESULTADOS:
Da produção à comercialização, o artesanato é suscetível de ameaças e oportunidades. Na produção, além da limitação dos insumos, falta capital de giro para sua aquisição e desenvolvimento tecnológico, ocasionando uma pequena produção que, somada ao individualismo dos artesãos, não atende a demanda satisfatoriamente. A articulação produtor-vendedor-comprador também apresenta falhas, amenizadas por políticas públicas e privadas: o PROART promove feiras e planos para melhoria do produto; o SEBRAE-RN, rodadas de negócio e assessoria aos artesãos. Na comercialização, as linhas de crédito possuem altas taxas de juros, como o Crediartesão (12% a.a). Há ainda barreiras técnicas devido às diferenças culturais e à falta de padrão nas peças e embalagens, levando o RN a perder mercado para a concorrência nacional, Ceará (CE) e Pernambuco (PE), e internacional, Ásia. Apesar disso, padronizar o artesanato significa descaracterizá-lo, pois cada obra é única; não havendo, assim, produtos substitutos quanto ao seu valor. Através das feiras, esse valor é reconhecido no mercado externo, em ascensão, principalmente na Espanha, nos Estados Unidos e em Portugal. No Brasil, o artesanato movimenta hoje cerca de R$ 28 bilhões/ano e mais de 8 milhões de pessoas. O RN vende mais produtos do CE e de PE com menor preço, embora de qualidade inferior. Em meio a essas fragilidades, a cooperativa comporta-se de forma inerte, fundamentando suas decisões em intuições e não mediante um planejamento estratégico.
CONCLUSÕES:
Apesar do seu grande potencial, o artesanato vem sendo inibido por uma má gestão, o que o torna tímido se comparado ao montante comercializado pela concorrência. A cooperativa, cujas ações se equiparam à ineficiência do segmento, não possui estratégias de inserção e manutenção nos mercados e, ainda, subutiliza suas principais forças (qualidade, características ímpares e preço compatível com o produto oferecido). Todavia, a criatividade envolvida no processo de elaboração, que permite a utilização de diversos materiais; a tradição do artesanato brasileiro; e o reconhecimento, pelo adquirente internacional, do valor humano nas peças representam oportunidades do segmento para a empresa. Quanto às ameaças, a maior perpassa pela ineficiência para sanar suas fragilidades no que tange à infra-estrutura, ao seu desvencilhamento do meio político e à conscientização da importância do setor. Apesar das adversidades, investir nesse nicho de mercado é bastante viável. Para tanto, propõe-se a organização da sua cadeia produtiva a partir da estruturação de unidades integradas de capacitação, beneficiamento do produto (controle de qualidade, criação e inovação), informações mercadológicas, melhoria dos canais de comercialização e apoio ao cooperativismo. Vencidos os obstáculos, a exportação poderá promover o artesanato de uma condição considerada de subsistência para uma profissional, sendo rentável para o artesão e economicamente expressiva para o Estado.
Palavras-chave:  Artesanato Potiguar; Exportação; Estratégia.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005