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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social | ||
MORTE E TRABALHO: UMA ANÁLISE DA IDENTIDADE INDIVIDUAL DE TRABALHADORES EM ATIVIDADES MORTUÁRIAS EM CEMITÉRIOS. | ||
Erasmo Miessa Ruiz 1 (Dr. / poiesis@uol.com.br) e Yara Maria Bernardes Monteiro 2 | ||
(1. Mestrado de Saúde Pública, Universidade Estadual do Ceará - UECE; 2. Depto. de Serviço Social, Universidade Estadual do Ceará - UECE) | ||
INTRODUÇÃO:
Produzir indagações sobre o sentido da morte pode levar-nos ao questionamento de qual o sentido a vida deve ter. Em grande parte, o sentido da vida é um projeto construído, não é algo que encontramos pronto e acabado e sim um processo onde o indivíduo, em relação mais ou menos contraditória com as necessidades instituídas pelo coletivo, molda a realidade ao mesmo tempo em que é moldado por ela. Sendo assim, o trabalho é uma dimensão da existência e, em muitos aspectos é o agente fundamental da construção do que chamamos de vida e realidade. Estando, pois, a morte exilada dos espaços públicos, os indivíduos parecem realizar um exílio da idéia de morte também em suas subjetividades. Mas, o que aconteceria quando o trabalho realizado pelos indivíduos tornam as tentativas desse exílio praticamente nulas? Esse talvez tenha sido o ponto de partida para tentar analisar quais as percepções diante da morte, do morrer e da própria finitude por parte dos sepultadores. Buscando sempre a compreensão de como as representações do trabalho que desenvolvem mediam a configuração de suas identidades individuais. |
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METODOLOGIA:
Em razão da especificidade do objeto a pesquisa revela-se principalmente enquanto estudo qualitativo, tento a preocupação de além de descrever o objeto, conhecê-lo. Inicialmente, fez-se necessário um direcionamento consistente da pesquisa através do aprofundamento bibliográfico. A etapa seguinte contou com a definição dos instrumentos para a coleta de informações. Além das observações sistemáticas do campo, sumarizadas em diário de campo, elegemos a entrevista baseada em roteiro e utilizamos o gravador para captação das falas dos participantes. A análise dos discursos dos sujeitos objetivou os aspectos de suas vidas, desde a infância até os dias de hoje, visando uma compilação de fatos significativos, dando ênfase, a partir da situação de entrevista, à história laboral, com particular interesse a respeito dos determinantes que levaram o indivíduo à inserção no trabalho atual. |
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RESULTADOS:
Compreendendo que o trabalho que executamos induz a criação de imagens em relação aquilo que somos. Se o sepultador lida com mortos, inconscientemente criamos rótulos que os colocam como algum tipo de portador da morte. Daí segue a marginalização, que tem sustentação na nossa incapacidade de entendermos e aceitarmos que somos seres para a morte. Dentro do espaço do cemitério a morte é um acontecimento inevitavelmente natural, fora dali não passa de um assunto interdito. No transcorrer do sepultamento, o sepultador se submete a posturas que comprometem seu esqueleto. O peso do caixão, ou até mesmo da tampa da gaveta é quase que insustentável. Provavelmente, esteja aí a justificativa para a aparente inexistência de mulheres na categoria. As atividades desenvolvidas por esses profissionais não se limitam a abertura de covas, muitas vezes respondem por trabalhos de construção de artigos funerários, manutenção dos túmulos e zelo do cemitério. Para a execução das tarefas, normalmente não passam por nenhum tipo de treinamento, toda a técnica necessária é assimilada a partir de suas próprias observações. Na maioria dos casos o trabalho segue uma espécie de herança familiar. Muitos dos entrevistados são filhos de pedreiros que prestavam serviços para o cemitério. Contudo, há um número considerável de profissionais que apenas aceitaram o trabalho por uma questão de sustento. Obviamente, sobre estes últimos a tensão emocional criada inicialmente foi maior. |
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CONCLUSÕES:
O nosso medo e o esvaziamento de símbolos que nos encaminhe para a aceitação da morte como condição primeira daquilo que vive, aponta como fundamental para o trabalho diretamente relacionado com a morte e/ou o morrer, a coragem. Idealizamos esses profissionais como pessoas desprovidas de sensibilidade. No entanto, ao percebê-los como filhos e também pais de família os reconhecemos, sobretudo, como humanos. Em absoluto, o atual trabalho foi capaz de anular os temores que todos nós temos em relação a morte. O desaparecimento do ser atemoriza todo aquele que tem consciência de sua própria finitude. O que de veras muda ao se ter que cotidianamente lidar com a morte, é a confirmação que qualquer manifestação e tentativa de satisfação do desejo inconsciente de imortalidade, é inútil. |
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Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Morte; Trabalho; Identidade. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |